A questão racial no Brasil sempre foi a pedra fundamental das discussões acerca da formação da identidade nacional. Foram várias as mudanças de pontos de vista ocorridas, de sorte que o negro passou “do inferno ao céu” na construção daquilo que se chama sociedade brasileira.
O curioso para nós é que as ratificações para se pensar o negro vêm de longa data e têm até “fundamento bíblico”, uma vez que - para muitos - a maldição de Caim, por ter matado seu irmão, seria “ter o nariz achatado e a pele escura”. Assim também, a maldição de Cam (nomes muito parecidos, não?), por ter “visitado a nudez” do pai, Noé, seria ser escuro e escravo dos demais irmãos seus. Leituras, no mínimo, curiosas da mesma Bíblia que usamos.
Num momento outro - e falando-se de Brasil -, o negro passou a ser alguma coisa de bastante positiva, já que seria “a parte mais forte” no processo de miscigenação, e que faria surgir o que conhecemos hoje como o brasileiro típico, isto é, o moreno, com a sua cultura muitíssimo “rica e misturada”.
Por conta dessa nova leitura, passou-se a pensar no Brasil como um país modelo para os demais, tendo em vista não haver preconceito aqui e haver, como contrapartida, uma “democracia racial”. Construiu-se, posteriormente, uma visão de que o preconceito e o racismo faziam mais mal para o agente do que para a vítima, e inventou-se o que se chamou de preconceito de ter preconceito. Assim, “os negros e os brancos não tinham porque tocar no assunto”, uma vez que ter preconceito era totalmente démodé (fora de moda).
Contudo, ninguém pode negar, sobretudo os negros, que há um preconceito velado em cada um de nós brasileiros. Prova disso é que em qualquer pesquisa que se faça sobre o racismo, mais de 80% das pessoas dizem que o Brasil é um país racista, mas menos de 20% se dizem racistas, já que “o racista, bem como o inferno, é o outro” sempre.
Jesus falou, sentou-se e comeu com todos; judeus, gentios e misturados, isto é, samaritanos. Falou com mulheres - até com as “largadas dos maridos” - e mostrou-nos o que seria de fato uma democracia racial; nada além de entender todas as pessoas como frutos de uma raça só, a raça humana.
O exemplo de Jesus, como sempre, ultrapassa as fronteiras do tempo e do espaço e deveria nos fazer refletir sobre as temporalidades do racismo; aboliu-se a escravidão no tempo curto (bastou uma canetada da princesa), demorou um pouco mais para que os negros deixassem as senzalas e os troncos, no tempo médio, mas o preconceito, claro está, é coisa a ser resolvida ainda no tempo longo. Por isso o vivemos e - infelizmente - o viveremos ainda um tanto. Reflitamos sobre.
liberdade, beleza e Graça...
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