A Bíblia traz a história de uma mulher pega em adultério. O desfecho de tal episódio é curiosíssimo; Jesus, ao ter a palavra, diz aos homens, já prontos para apedrejar: “Aquele que não tiver pecado, atire a primeira pedra”. Conta a Bíblia que, um a um, foram saindo todos os acusadores e a mulher ficou só, à espera da sentença do mestre. Jesus a dispensou em paz, aconselhando-a a não pecar mais, e dizendo, ainda, que, se os outros não a estavam acusando mais, tampouco ele o faria.
Esse texto bíblico me veio à mente nesses dias em que o Senado Federal está em polvorosa com o seu presidente chafurdado em denúncias de corrupção. O que mais chamou a atenção nas reportagens a respeito foram algumas frases antológicas de Renan Calheiros: “Do Senado eu não arredo o pé”; “Renúncia é uma palavra que não existe no meu dicionário”.
Só essas duas frases já seriam suficientes para que se conseguisse enxergar o espírito de coronelismo que vigora desde sempre na política nacional brasileira. Mas, para piorar, e também para enriquecer o debate, eis que Calheiros - com os olhos fitos nos colegas de Congresso Nacional - diz: “Minhas vísceras estão sendo expostas aqui. Mas eu não permitirei que as vísceras dos nobres senadores e do Senado Federal dessa República sejam expostas!”.
Embora esse pareça um gesto heróico de um mártir à beira da morte, por trás das palavras do senador as entrelinhas falam alto: “Estou aqui, acusado de adulterar na minha função nessa República, mas aquele dentre vocês que não tiver pecado, que me atire a primeira pedra”. Tal como no episódio bíblico, um a um, foram saindo todos os acusadores de Renan Calheiros e, logo no dia seguinte, os jornais estampavam manchetes dizendo que os parlamentares não encontraram razões fortes o suficiente para pedirem a renúncia do presidente do Senado. E, se não falaram “não peques mais”, ao menos disseram “vá, ou melhor, fique em paz”. Todos parecem, portanto, ter muitos “pecados”.
Outro senador, Joaquim Roriz, que já renunciou, disse que ao negociar 2,2 milhões em um telefonema com outro elemento “do bando”, o fez “apenas comprando um bezerro”. Foi descoberto, portanto, o paradeiro do bezerro de ouro, adorado como deus, na história do êxodo do povo de Israel, também encontrada na Bíblia. Os senadores, nesses tempos, me parecem “bastante bíblicos”.
Renan Calheiros é acusado de pagar pensão alimentícia - para sua filha com a ex-amante - e contas pessoais com dinheiro de uma empreiteira que presta serviços para o governo, o que é ilegal. É também acusado de utilizar notas frias para comprovar sua receita de venda de gado em Alagoas, o que também é ilegal. É ainda acusado de enriquecimento ilícito - em 1978 ele declarou suas posses: na época só possuía um fusca. Já nos dias de hoje...
O P-SOL promove uma campanha em nível nacional chamada “Fora Renan!”, e o senador, apesar de dizer “estão querendo assassinar a minha honra”, não permite que suas contas sejam vasculhadas para que as provas de todas as acusações sejam ou não encontradas.
Portanto, ou a sociedade civil faz um grande barulho para que as acusações sejam apuradas com rigor e ética, e impõe a palavra renúncia ao dicionário do presidente do Senado, ou no vocabulário de toda a nação começará a ganhar espaço uma nova palavra: a corrupta, corruptora e infeliz “renância”.
liberdade, beleza e Graça...
3 comentários:
Além deles terem que aprender a palavra renúncia.
Nós precisamos aprender a, como aqueles homens, largar nossas pedras ao chão e entender a mensagem do Mestre.
Chefe...tô esperando teu texto sobre estas declarações polêmicas do Papa de que apenas católicos são herdeiros dos ensinamentos de Jesus Cristo..
abraços, Luis.
bom comeco
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