Interessa-me muito o noticiário sobre a avaliação anual que o governo federal promove para o ingresso em universidades, pois dela depende a inserção de muitos brasileiros pobres – com um contingente bem significativo de negros e negras – no ensino superior deste país.
Das notícias referentes ao “evento Enem”, porém, a que mais me chamou a atenção não foi a do roubo do primeiro lote de provas, meses atrás, mas a da reclamação dos candidatos, quando afirmaram, após as provas, que “os enunciados eram muito longos e cansativos”.
Para um país onde as instituições de ensino em sua maioria estão acostumadas a uma educação bancária, seguindo o conceito de Paulo Freire, é triste perceber que os educandos não estão acostumados a outra coisa, senão ao “senta aí que eu te ensino, pois eu sou professor e você é só um a-luno” (o hífen é proposital).
A educação, portanto, acaba por ser algo onde os educandos se preocupam muito em ter a resposta curta e “na ponta da língua” – incutida bancariamente pelo professor –, mas não ter espaço algum para uma reflexão em profundidade. Ainda tenho em memória algumas “respostas prontas e certas” de tempos passados: “Quem descobriu o Brasil?”. “Pedro Álvares Cabral” (na época não havia controvérsia). “O que é matéria?” “É tudo o que existe e ocupa lugar no espaço” (também não havia controvérsia) etc. Eu estava certo?
Parece que sim, pois fui sempre aprovado e consegui chegar ao ensino universitário assim. Mas a coisa precisou mudar. Confesso, porém, que “a coisa” só mudou na universidade, por conta da escolha por uma carreira onde a crítica é imprescindível. Se assim não fosse, não sei, não.
Mas voltando ao tema do presente texto (e preciso terminá-lo antes do meu “normal de linhas”, para não ter “problemas”), muitos dos meus alunos reclamaram que “os textos do deste blog são muito longos, passando de 15 linhas!”.
Adicionado a isso, ouvi de alguns outros: “Professor, indica livros finos, pois livro grosso ninguém merece!”. Ao fim e ao cabo, não sei se choro, lançando cinzas sobre a cabeça, ou se tento “angariar novos leitores”, escrevendo textos que não ultrapassem 15 linhas.
Ih, “infelizmente”, já passei de 15 linhas; só me resta mesmo vestir panos de saco, jogar cinzas na cabeça e chorar profundamente.
liberdade, beleza e Graça...
10 comentários:
dificil, meu caro!!
sei q o interesse dos alunos em sua maioria, é mínimo, contudo, sei q o problema é bem pior do q pensamos. suas origens sao OUUUUUUUUUUUUUUUUUUTRAS.
bjsss
PERFEITO
(sem mais comentarios, simplesmente PERFEITO)
Belo texto!
.
educação bancária: eu te passo uma informação e tu me devolve... "O Brasil foi descoberto por Pedro Álvares Cabral: quem descobriu o Brasil? ..." .
Phoda..
e acontece em universidade tb, hein? por incrível que pareça.
belo textoll
vou linkar
abraço
É válida a sua preocupação com os negros. Afinal, eles não foram libertados, tornaram-se órfãos. Por isto é fundamental resgatar-se a sua dignidade.
Um abraço.
Diogo.
bom texto Cleinton... Só não precisava esculachar ne ?! Hahaha saudades !
HAHAHA '
Nem pra passar a virada do ano em Porci , heim ?! rsrs '
Esta situação é muita mais complexa do que a maioria pensa. Este é também um problema familiar. A família não cumpre mais o seu papel e o repassou para a escola. A escola, ou maior parte dela, já não conseguia cumprir com suas tarefas e depois que ganhou mais estas (de criar, educar, formar, incentivar a leitura) parece se "arastar" lentamente a cada dia. Não sei sua realidade, mas a minha, no ensino público, é difícil. Alunos que não têm interesse ou pior: motivação. Famílias desinteressadas com a vida escolar dos filhos, alunos sem hábito de ler e preguiçosos para pensar, professores desestimulados com o baixo salário fazem um contexto de degradação...
Esqueci de perguntar: posso usar seu texto?
Desde já agradeço.
Esse seu texto é de 2009. Leio-o quase um ano depois e justamente no pós-ENEM 2010 que também foi marcado por problemas de organização e suspeitas de fraude. Sei com conhecimento de causa que a safra de gente que chega à universidade privada é mal formada e mal informada. Claro que existem exceções, mas são casos raros. Faço parte das profissões do "não sei não" do seu texto. Essas são aquelas nas quais depois que o aluno se forma técnico com diploma de graduação, tem que buscar em especializações e cursos de curta duração um pouco de toda a carga humana que não teve na graduação e que lhe faz falta na lida da rotina de trabalho. Meu caro, isso me incomoda demais pois o ciclo de má formação é continuado e mais gente disfuncional vai sendo vomitada no mercado de trabalho, a máquina continua a funcionar desse jeito estragado e o resultado é cada vez pior. Existem muitos fatores envolvidos nas origens e por isso a solução não é fácil, não é única e nem de curto ou médio prazo mas acredito que é possível mudar. O "como" renderia mais várias reflexões e propostas. Até a próxima!
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