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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

domingo, 6 de janeiro de 2013

"Batistas bonzinhos e mocinhas evangélicas nas novelas"

Quando a teledramaturgia, através das novelas e minisséries, busca apresentar sua visão daquilo que seria uma pessoa evangélica, quase sempre acontecem equívocos - e até maldades - de irritar a milhões de pessoas. Como já foi mostrado em outros textos neste espaço, evangélico acaba sempre sendo apresentado como ladrão - quando a história versa sobre pastores e outros personagens do sexo masculino - ou como prostituta travestida de santinha - quando se trata de personagens do sexo feminino. Por conta disso, houve um tempo em que os líderes evangélicos tentavam fazer com que seus fiéis se afastassem das novelas e de programas que eram por eles chamados de "prejudiciais à fé cristã". A "ordem" era: "desligue a televisão, meu irmão!". Com a compra da Rede Record por evangélicos neopentecostais, a "ordem" mudou para: "troque de canal, meu irmão!".

Se isso não afetava à maior detentora de audiência televisiva do país, a Rede Globo, a coisa começou a mudar de figura com o advento do crescimento da bancada evangélica no Congresso Nacional e com o crescimento vertiginoso do contingente de evangélicos da nação, crescimento este que catapultou tal segmento a uma condição de "mercado consumidor demasiadamente interessante". Ignorar 25% da população economicamente ativa, e de um público consumidor fiel, que ainda não se sente à vontade com a pirataria, seria uma besteira imensa para quem gosta de lucrar ao máximo, que é o caso de todo conglomerado de mídia. Está aí a explicação para o fato de a música gospel ser a mais lucrativa e a única que resiste ao "admirável mundo novo da cópia". Thalles Roberto, obviamente, agradece.

Para não perder tal filão econômico, então, a Globo resolveu dar mais um "golpe de mestre": separar o que é ser evangélico do que é ser membro da Igreja Universal ou de comunidades que com ela se parecem. Assim, grupos tradicionais como os batistas passaram a receber o que nunca se imaginou que a Rede Globo pudesse aos evangélicos oferecer: reportagens no Jornal Nacional, mostrando, por exemplo, o belíssimo trabalho de tal segmento religioso com as missões urbanas, tendo a Cristolândia, projeto evangélico batista plantando em meio à Cracolândia, em São Paulo, como um local de referência social e religiosa positivas. É claro que não é de hoje a relevância social dos batistas e outros segmentos protestantes tradicionais nas comunidades mais carentes do país. Todavia, agora isso começa a interessar, pois tal público consumidor é imenso e interessa - e muito - a toda corporação capitalista que almeja lucrar com um público "fiel".

Com a perda histórica de audiência de uma novela de horário nobre, a chamada "Salve Jorge", os olhos dos diretores da Globo voltaram-se de forma ainda mais detida para os evangélicos. Sim, descobriu-se que tal público - que não obedeceu à antiga "ordem" dos pastores para desligar a tevê, pois adora novelas - não se sente à vontade para "desobedecer" dessa vez, já que "Salve Jorge" nada mais é do que um mantra que reverencia Ogum, entidade do Candomblé e da Umbanda, que são, como é sabido, expressões de religiosidade que os evangélicos não conseguem engolir. Assim, para se fazer novelas e se ter o apoio e audiência de 25% de consumidores fieis da nação, seria necessário ouvir o que os evangélicos têm a dizer. E foi o que a Globo fez! Quem diria que isso um dia aconteceria...

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, está agendado para os próximos dias um almoço entre o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, e o coordenador de projetos especiais da Rede Globo, Amauri Soares. Um dos principais pratos do almoço será a sugestão de uma mocinha evangélica numa das próximas novelas da Globo. Sim, chega de prostitutas travestidas de santas e de pastores ladrões; o negócio agora é ser protagonista e ser "do bem",  como todos os evangélicos apregoam ser. Segundo Malafaia: "Em vinte e cinco anos só vi a Globo falar bem de evangélicos uma vez. Já de católicos, o Jornal Nacional tem semana que fala bem todo dia!".

Não dá para prever aonde isso tudo vai dar, mas é interessante pensar sobre uma possível "duplicação do projeto de manipulação", já que agora se terá de enfrentar a manipulação da mídia jungida à manipulação religiosa. Com homens como Silas Malafaia à frente - e aqui poderiam aparecer também muitos Valdemiros, Soares e Macedos - é bom o segmento evangélico começar a se preparar para uma formação de opinião com muito mais imbecilidades, e agora ratificada por seus líderes! E pensar que no passado a referência de liderança evangélica era o Caio Fábio...

liberdade, beleza e Graça...


8 comentários:

jcc disse...

Cleinton como futuro sociologo eu diria que concordo plenamente. é um pergigo mesmo. o malafaia sem duvida é pior que caio fabio por mais de metro.

mas como nativo, é gloria deus. estamos conquistando o mundo, evangelizando, levando a palavra de deus pra todos os cantos.

jcc disse...

ou melhor veja como nativo. o que tem acontecido aparece ser bom, temos o fetival promessa na globo.

como minha mae disse:" o diabo esta se redendo ao povo de Deus"

Cleinton disse...

Querido Júlio, o "Festival promessa", da Globo, já faz parte desse processo de aproximação, que começou em novembro passado. Mas não é porque estamos "conquistando o mundo", mas porque a Globo está "conquistando a gente"; o processo é inverso, amigo. Se não houver grana e possibilidade de manipulação, a Globo não entra, Júlio. O negócio da Globo é Ogum e Iansã; fora disso, eles só mostram por grana, muita grana. Mesmo com essa pseudo-conquista, temos de abrir os olhos, pois a guerra agora será por aquilo que se deve ou não mostrar dos evangélicos que a Globo "apoia". Os líderes evangélicos agora terão de falar o que pode e o que não pode aparecer. Quando a Globo se cansar disso, faz o que fez com seu pupilo Fernando Collor de Melo; joga tudo no ventilador e ferra os evangélicos! Eles poderão mostrar só a beleza, como fizeram com os batistas paulistas, Júlio, mas eu nunca vou cair nessa, pois as pessoas que mais prejudicaram minha vida até hoje foram pastores e líderes batistas! Só para citar um dos exemplos que vivi: dei aulas na Faculdade Batista do Rio de Janeiro e os caras me demitiram baseados em duas mentiras deslavadas e não pagaram parte do meu FGTS até hoje! Bandidos dos mais canalhas e de mau caráter!!

jcc disse...

Amigo Cleiton, li a materia da Folha que talvez tenha te inspirado para voce escrever esse post.

conordo quando vc fala que é um uso. audiencia, dinheiro para os evangelicos.

lendo meu comentario hoje parece meio agressivo,mas nao é isso.

o que eu quiz dizer é que para uma parte do povo "gospel" o que tem acontecido é legal. é a manifestaçao de Deus contra o inimigo.todos os cantos ouviram a palavra de Deus.

picareta tem de um monte no meio evangelico, enquanto a isso, não posso dizer nada.

mas é aquela parada, a juliana paes t me dando mole, eu gordinho, mal falado, mas com dinheiro. nao vou pelo menos falar com ela.

se ela quer me usar eu uso ela.

Cleinton disse...

Não entendi seu comentário como agressivo, Júlio. Achei-o ingênuo, mas entendendo que não é sua opinião, mas a de pessoas evangélicas mais simples e com menos crítica. Tanto que elas acham que estamos "dando uma surra em satanás". Sinceramente falando, amigo, nem Deus e nem satanás fazem parte disso tudo! É tudo coisa nossa, Júlio; somos nossos próprios deuses e demônios!!

Alfrêdo Oliveira disse...

Excelente abordagem.

Cleinton disse...

Valeu, Alfrêdo! Grande abraço, cara!!

Liana disse...

Não sei como você consegue escrever sobre tal assunto de forma tão equilibrada...rs. Tudo um escândalo, uma vergonha. Também não sei onde isso vai parar.
Um super-texto!