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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

terça-feira, 30 de abril de 2019

"Filosofia e Sociologia: extremamente perigosas!"

É de fazer pensar a tara que os sistemas ditatoriais têm com as Ciências Humanas e Sociais. Não só no Brasil, mas praticamente no mundo todo, basta que um governo mais autoritário seja catapultado ao poder e uma perseguição se inicia. E olha que isso não significa que o governo seja de direita ou de esquerda, pois, a independer de quem governa, matérias como a Sociologia e a Filosofia são sempre tratadas como "inimigas do poder". O que poderia se tornar um perigo gerador de medo, no entanto, se tornou um orgulho, uma honra. Sim, enquanto professor das duas matérias, confesso que é muito bom saber que não somos bem quistos por governos autoritários e ditatoriais, já que isso só mostra a força para a resistência que tais matérias têm.

É claro que a Matemática, a Física e a Química, para citar apenas os exemplos mais tradicionais, são muitíssimo importantes na formação dos cidadãos e cidadãs de um país. Todavia, é curioso notar que os sistemas de governo mais autoritários não se incomodam com tais disciplinas, já que são meramente instrumentais e parecem não se interessar por ultrapassar o limite de um conhecimento dedutivo, que, no nível escolar, não cria nada novo, mas apenas aplica fórmulas já construídas por filósofos da Antiguidade, tendo nós como exemplo clássico o muito respeitado Pitágoras de Samos. 

No caso da Sociologia e da Filosofia, agora perseguidas pelo governo Bolsonaro (que chegou a dizer que são matérias que "não trazem resultado e ensinam besteiras para os meninos, que deveriam aprender a fazer contas e a ler e escrever para arrumarem um trabalho e ajudarem suas famílias"), é notório que, não sendo meramente instrumentais, mas cognitivas, têm a função de fazer com que estranhemos o óbvio e problematizemos realidades que, permeadas por construções histórico-sociais bastante marcantes, são justificadoras de preconceitos, racismos e intolerâncias de toda monta, simplesmente pela justificativa de que "sempre foi assim", coisa que as disciplinas agora execradas não aceitam.

Com a função social, portanto, de "desmascarar o poder", mostrando as falácias e as posturas meramente ideológicas contidas nos dizeres e nos atos dos que comandam (no caso do fazer da Filosofia), bem como apontando as razões geradoras dos processos de desigualdade que imperam e emperram o mundo (no caso da Sociologia), as disciplinas que agora são tratadas como "dispensáveis" conseguem trazer uma reflexão sobre o status quo, refutando a naturalização da maldade humana, a universalização do discurso da classe dominante e as lacunas e edições construídas para ocultar o processo de alienação em que se pretende colocar todos os dias os menos favorecidos. A Filosofia e a Sociologia podem não nos servir para mais nada, contanto que consigam ensinar os dominados para que possam, ao serem instados à obediência cega a uma lei ditatorialmente imposta, problematizar a ordem com um "Quais os fundamentos e argumentos que me deveriam levar a aceitar isso?".

liberdade, beleza e Graça...