quinta-feira, 21 de junho de 2007

"Sobre a miss universo e sobre o padrão de beleza imposto"

A eleição da Miss Universo 2007 foi mais um desses ricos momentos para se pensar a questão do outro enquanto “igual” ou “diferente” de nós.
Natália Guimarães, a Miss Brasil, segunda colocada no concurso no nível mundial, tinha tudo para levar a fatura; é uma linda mulher, tem todo o “padrão de beleza” aceito mundialmente e concorria com uma japonesa, cuja beleza o Ocidente não aprendera ainda a contemplar.
O que parecia um simples concurso de belas mulheres passou a ser material para ricas análises antropológicas, sociológicas e políticas.
Pensando-se em termos antropológicos, a relativização de padrões e conceitos que antes eram diferenciados e diferenciadores, em uma linha evolutiva, e que culminavam na cultura ocidental judaico-cristã, passou a ceder espaço para que outras formas de cultura e saber - no caso, a beleza dos orientais - galgassem a posição de padrão mundial.
Pensando-se em termos sociológicos, é curioso perceber como o Mercado - essa maldita e etérea instituição - tem ditado regras e concepções que, “politicamente corretas” em suas vontades e pensamentos, conseguem homogeneizar uma nova maneira de pensar. Afinal, é politicamente correto votar na japonesa, não porque ela é uma linda mulher, mas porque “é preciso abrir mercado consumidor entre os orientais, que não abrem mercado por quase nada nessa vida”. Assim, a eleição de Riyo Mori para o posto de “mulher mais bonita do mundo” (aspas minhas, afinal, a mais bonita tem de ser a da gente) não deixou de ter sorrisos amarelos e de canto de boca, daqueles que não conseguem enxergar a si mesmos no outro e ratificam o senso comum que diz: “mas japonês, chinês e coreano é tudo uma coisa só!”. Em termos sociológicos, portanto, parece existir uma força maior do que nós e que nos obriga a seguir novas regras, mesmo que, ao fim e ao cabo, com elas não concordemos.
Pensando-se em termos políticos, enfim, foi demasiado curioso ver a Miss Estados Unidos ser vaiada o tempo todo, enquanto desfilava - chegando a escorregar na passarela -, por uma platéia que, enquanto nação (o concurso aconteceu no México), não perdeu a oportunidade de mostrar a sua insatisfação em relação à política externa estadunidense, sobretudo em relação ao povo mexicano, seu vizinho fronteiriço.
Talvez seja também por conta de questões antropológicas, sociológicas e políticas que as palavras e o caráter de Jesus - um beduíno dos desertos do Oriente Médio - não surtam tanto efeito em uma sociedade radicalmente monetarizada, individualista, egoísta, mentirosa e cruel, como essa em que vivemos.
Ainda em relação às questões do concurso aqui analisado e concluindo esse pensamento, confesso, sem demagogia, que não se trata, aqui, de se execrar ou duvidar gratuitamente da intenção daqueles que votaram em Riyo Mori. Trata-se, em verdade, de se buscar as motivações outras dessa eleição - isso se de fato elas existirem - para que, ao se votar em uma africana em um próximo concurso, isso não seja feito disfarçando-se o racismo estrutural vigente no mundo, e buscando-se abrir novos mercados, mas, de fato, por conta da beleza de uma negra, que tem, também, tudo para ser aceita como uma beleza mundial.

liberdade, beleza e Graça...

6 comentários:

  1. Caro e querido pastor Cleiton Gael,

    Fico pensando quando foi que desaprendemos a simplicidade... Antes um concurso de beleza era só um concurso de beleza, hoje envolve política e interesses outros. Nada mais é simples, sempre tem algo articulado por trás.
    Não vejo com bons olhos continuarmos com esse tipo de concurso, quando a visão é a mulher e o padrão de beleza em questão. Nós levamos séculos para que as amarras fossem rompidas, e a mulher conseguisse respirar num mundo que a sufocou desde sempre. A mulher desenvolveu o seu potencial, mas continua sendo a companheira do homem e a mãe, dotada de sensibilidade ímpar. Não que isso seja ruim, mas que bom que existem outros interesses por trás de um concurso de Miss, que não sejam só ver a mulher como objeto manipulável!
    Fica na paz
    bjs
    Raquel

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  2. Amado pai na fé,

    Até hoje não consegui descobrir o sentido divino para que se realze um concurso que tem prazo de validade para o "produto" em pauta.
    São visíveis as podridões existentes num concurso politizado e cheio de guerra interna (entre as candidatas) e externa (nos países representantes).
    Mas o que queria deixar registrado por aqui é que, as mulheres não mais representam a sua beleza, mas a beleza de seu país. Quando você fala sobre a beleza brasileira da mulher, eu concordo, mas não com a beleza do Brasil. Foi por isso que vaiaram a bela mulher americana que representava sua decadente nação.
    Em cada esporte, em cada concurso, não se representa mais a si, mas ao grupo, à sociedade em que se vive.
    Portanto, tomemos cuidado com nosso testemunho de crentes, pois representamos a beleza irretocável de Cristo.

    NA GRAÇA, QUE NOS FAZ BELOS
    LELLIS

    www.nelsonlellis.blogspot.com

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  3. Nossa
    Pr Clieiton
    legal
    Meu caro, gostei do seu blog, recomendo, não tenho nada a dizer, só estou teclando pra destacar minha presença aqui,vou recomendar seu blog pra outros
    Maceió

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  4. Já te falei o que achei!! Agora quero ver o que vc vai dizer do meu!!!!

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  5. Querido Cleinton,

    Excelente texto! Muito perspicaz em cada uma das palavras escolhidas, como sempre.

    Abraços e beijos,
    Adriana.

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