Muito mais relevantes do que os Jogos Pan-americanos foram os Jogos Parapan-americanos. É óbvio que uma sentença como essa sempre terá o tradicional efeito do politicamente correto. Acontece que, ao contrário do que se possa pensar neste sentido, tal afirmativa não quer ser o discurso de um teólogo ou sociólogo “bonzinho”. Ao contrário, a máxima que abre esta reflexão tem outras justificativas.
Sobre o Pan e a sua catastrófica (des)organização e gestão, sobretudo no quesito finanças, outro texto – também neste espaço – foi já escrito. Porém, o Parapan deu motivos para uma nova análise da sociedade singular em que vivemos.
O Pan acabou e, logo no dia seguinte ao seu término, quatro ônibus foram queimados por um grupo de bandidos no Rio de Janeiro. Foi possível, portanto, sentir-se novamente “em casa”.
O sonho havia, de fato, acabado. Sonho em tese, claro, pois um amigo, fazendo uma “varredura” nos principais jornais das Américas, percebeu algo curioso; só notinhas de rodapé e nada além de poucas lembranças acerca de uma série de jogos que pareciam “estar movimentando o mundo inteiro”. Na verdade, as redes de tevê brasileiras nos fizeram crer que o mundo girava ao nosso redor. Mas o mundo nem sabia de nós. Ou sabia pouco. Bem pouco. Quase nada. Como quase sempre.
Os Jogos Parapan-americanos, de outro modo, conseguiram fazer por essa nação algo que o Pan ou os Jogos Olímpicos nunca conseguirão; mostrar mesmo quem somos nós.
Se ninguém de fora deu tanta importância para o primeiro grupo de jogos, que nos envolviam e nos faziam crer que éramos “o centro do universo”, o Parapan, por seu turno, mostrou uma nação completamente desinteressada. Os de dentro não estavam dando a mínima. Se se reclamou muito dos preços dos ingressos no Pan, não se poderia criticar o valor das entradas no segundo grupo de jogos. O Parapan era de graça, entrava quem quisesse. Mas quase ninguém quis. Ainda assim – e defendendo a tese dessa reflexão –, esses jogos contribuíram muito mais do que o próprio “Pan do Rio”.
O Parapan teve quebra de recordes, lições de vida, superações de toda sorte, e o primeiro lugar para o Brasil no quadro de medalhas. Já voltando ao Pan, é importante ressaltar que os índices técnicos de tais jogos não passariam – nas palavras do comentarista Milton Neves – de “uma oitava divisão dos Jogos Olímpicos”. Não se aproveita quase nada. Quase para ser gentil, claro.
Mas, verdade seja dita, o brasileiro se identificou em demasia com esses jogos e simplesmente ignorou o segundo grupo. Ninguém parece querer se identificar com um para-atleta. O que se viu no Pan foi a busca do “perfeito”. Corpos no maior e melhor estado de potência e beleza. É com isso que o brasileiro quer se parecer e se identificar.
Os Jogos Parapan-americanos, em contrapartida, mostraram um Brasil amputado, deficiente ou especial. Mas um Brasil que dá certo. Um Brasil vencedor; recordista.
Acontece que os patrocinadores simplesmente sumiram. Só o governo federal permaneceu no apoio. O público não quis ver e a cobertura das mais variadas mídias cedeu ao Parapan o que os jornais das Américas deram ao Pan; notas de rodapé. Ainda assim, esse é o Brasil que vence. O Brasil que reconhece suas limitações e se supera a cada nova dificuldade.
O Brasil do Pan é um país inchado. Um país inalcançável, idealizado, e longe demais da realidade do seu povo. Mas é também o país que o povo acha que é.
Sabido é, porém, que o verdadeiro Brasil – esse que vence – está amputado pelas mais variadas formas de corrupção em todas as esferas do poder. Está surdo para o clamor de uma massa de indigentes marginalizados e crianças prostituídas. E, para piorar, está cego e corcunda, pois não enxerga um palmo à frente do nariz e, quando enxerga, de tão torto só consegue ver o próprio umbigo. É preciso muito vigor para mudar esse triste estado de coisas, mas, ao que tudo indica, não haverá mudança alguma, pois o brasileiro “cansou”. Que tristeza.
liberdade, beleza e Graça...
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ResponderExcluirGraça e paz amado!
ResponderExcluirO pior de tudo isso é saber que o preconceito televiso atingiu o parapan, pois eu, se não me engano, não vi quase nenhuma reportaem sobre o evento. E olha que eles ganharam muito mais medalhas que os atletas ditos normais.
Rogerio Percel Aires
www.rogeriopaires.blogspot.com
Fala irmãozinho!
ResponderExcluirAchei muito pertinentes as observações e comparações que fizeste em relação aos dois espetáculos,o Pan e o Parapan.
Achei muito interessante e concordo contigo quando dizes que o Brasil se vê como o Pan mas não enxerga que no fundo somos muito mais afins dos nossos atletas do Parapan.
Grande abraço!
Luis Brito.
Fala irmãozinho!
ResponderExcluirAchei muito pertinentes as observações e comparações que fizeste em relação aos dois espetáculos,o Pan e o Parapan.
Achei muito interessante e concordo contigo quando dizes que o Brasil se vê como o Pan mas não enxerga que no fundo somos muito mais afins dos nossos atletas do Parapan.
Grande abraço!
Luis Brito