Poucos textos bíblicos são tão enigmáticos quanto o do Evangelho de Lucas, no capítulo 24. No texto que vai do versículo 13 ao 35, Lucas narra a volta de dois discípulos de Jesus para a cidade de Emaús, após terem vivenciado o martírio de seu mestre, em Jerusalém. Jesus havia morrido e uma sensação depressiva tomava conta de seus muitos discípulos e não apenas de seus doze apóstolos. Cada um fugiu como pôde da presença das autoridades que queriam incriminar a todos os que seguiram aquele que agora estava morto, por conta deste ter levantado tanta insurreição e contradição em Jerusalém e circunvizinhanças.
O enigma do texto está no fato de, após percorrerem uma parte do árido caminho, os dois discípulos não reconhecerem a pessoa que passara a lhes fazer companhia na triste viagem. Diz o texto que o próprio Jesus caminhava ao lado dos dois tristes amigos. Já ressuscitado, o mestre perguntava aos dois acerca do motivo da tristeza que lhes tomava. É mesmo de se duvidar que uma pessoa – no caso dessa narrativa, duas – não reconheça alguém com o qual compartilhou importantes momentos da vida durante três longos anos. Não é possível que se esqueça da voz, do jeito, do vocabulário, dos maneirismos, etc. Ainda assim, o texto diz que os dois não reconheceram Jesus naquele momento da árida caminhada. Fica mesmo difícil de crer em tal passagem à primeira lida. Todavia, e em primeiro lugar, cabe lembrar que eram discípulos, mas não eram dos apóstolos, que acompanharam Jesus o tempo todo. Portanto, não conheciam o mestre tão bem assim. É importante que se lembre também que, em momentos de depressão e decepção intensa, o que é desconhecido pode vir a ficar claro e o que é já há muito cotidiano pode passar a sofrer um grande estranhamento. Tem coisas que só a depressão explica. Quando não explica, é porque em estado depressivo não se pretende mesmo explicar nada. E, já que só ela, a depressão, poderia explicar, fica tudo sem explicação.
É importantíssimo que se saiba ainda que os dois discípulos estavam totalmente inteirados dos fatos que os cercavam, mas não entendiam nada acerca da angústia que lhes tomava o interior. Era como se Jesus fosse o único que de nada sabia.
Nos dias de hoje a coisa não está tão diferente; agimos como se o Senhor Jesus se tivesse tornado algo de totalmente obsoleto, de “tão desinformado" que parece estar. É como se o Verbo Divino não tivesse mais ciência do que se passa ao redor dos homens e mulheres pelos quais se propôs a morrer. Os indivíduos precisam "informá-lo dos fatos".
Aqueles dois discípulos sabiam de tudo. Tinham todas as últimas informações sobre a vida e a morte de uma pessoa conhecida deles. Mas não sabiam – ou não reconheciam – que aquele que a eles se dirigia – e que outrora estivera morto – era agora vivo e a própria fonte de toda vida; o único capaz de tirar-lhes daquele estado de profunda angústia.
Sabia-se e sabe-se de tudo, mas desconhece-se, ainda, o que o Senhor pode fazer, pois ele é uma resposta que não mais agrada a uma sociedade encantada por tudo o que aprendeu e sabe fazer e ter. E, quando a tese do sociólogo Max Weber fala acerca do desencantamento do mundo, muitos não sabem e nem querem mesmo saber do que se trata.
Na seqüência do texto, Jesus faz menção de ir embora, mas os dois o convidam a repousar na cidade deles, já que a hora avançara bem. Jesus aceita o convite e compartilha com eles do pão. É reconhecido neste instante, mas desaparece do meio dos dois, segundo o texto.
Comentando o estranho episódio, um deles diz: “por acaso não ardia o peito dentro em nós enquanto ele nos falava aquelas coisas?”.
Jesus pode até parecer fora de moda e obsoleto para uma sociedade que parece já ter tudo. Mas, quando ele fala com alguém – e ele sempre fala com aquele ou aquela que abre o coração para isso – uma sensação diferente toma conta do interior da pessoa. Ciência alguma explica isso. Eu também não. Nem tento.
liberdade, beleza e Graça...
Muito bom o texto. Parabéns!
ResponderExcluirHumm chefe,
ResponderExcluirDá um olhda lá no "Desertos da razão" aquele meu blog experimental.
Abraços,
Luis.
Cleiton,
ResponderExcluirA força de seu texto é que, ao humanizar a palavra de Deus, nos humaniza e lembra que é aqui e agora que devemos colocar em prática a palavra Dele.
Um beijo em seu coração,
Isa
Ei! Finalmente comentando ...
ResponderExcluirGostei pacas! Antes de ler o seu texto na íntegra, li o capítulo 24, 13-35, para comparar as nossas exegeses. Não surpresa percebi que entendemos coisas diferentes, embora ambas as interpretações me pareçam válidas. É lindo perceber a riqueza da Palavra!!!!
Beijo
ai Pr.!
ResponderExcluirmuito bom seu texto falando sobre "O caminho de Emaus", muito legal
realmente eh verdade...
me fez refletir que, achamos que Deus nunca sabe de nada, muito menos com o que fazemos ou deixamos de fazer...
e entao o Cristo passa desapercebido na nossa vida diaria, mas mesmo assim Ele tem misericordia de nos! Na verdade Ele sabe de tudo, o que sentimos ou pensamos nao eh?
E eu quero sempre esse Jesus do meu lado e eu tb reconhecendo sua voz, como Senhor da minha vida!
Espero que esse texto tenha tocado na vida de algumas pessoas como tocou a minha.
fica com Deus, que Ele continue abencoando sua vida e seu ministerio! Adoro-te
bjs
Cleiton, seu texto veio em cheio para o que eu precisava...estou fazendo Escola Diocesana de Teologia e, justamente para o próx. encontro me foi dada a incumbência de fazer a abertura, falando sobre Lc 24,13-35. Procurando uma forma mais simplificada(pedagogicamente falando) de explicitar a MANE NOBISCUM DOMINE de João Paulo II, seu texto veio como por providência... Obrigada, grande abraço
ResponderExcluirUm texto cheio de riquezas, a poucos dias ministrei sobre esse texto e ainda Deus tem falado comingo nessa palavra ela é tremenda..parabens amado irmão....
ResponderExcluiro fato deles caminharem sem reconhecer jesus deve-se ao fato deles serem tomados de uma tamanha frustraçao que gerou neles uma cegueira espiritual profunda para que naquele momento jesus pudesse abrir os seus olhos e atraves de tudo oque foi pregado ali eles pudessem estar retornando ao lugar de paz. amado irmao muitas vezes fazemos do nosso quarto um cainho de emaus nos perguntamos porque quando na verdade seria para que senhor
ResponderExcluiramigo você e deses que vê depreçâo em tudo descomfio que voçê estar deprecivo.nâo esquecendo que jesus fecha os olhos a quem quer e abri os olhos a quem quer
ResponderExcluirSómente hoje descobrí o caminho para Emaús através de um Retiro Espiritual
ResponderExcluirQuaresmal pelo qual fiquei encantada.
Todos nós, católicos sabemos quem é Jesus e qual sua importância em nossas vidas, por isso algumas passagens bíblicas nos passam despercebidas...ou não temos a informação.
"CRISTO VIVE>>>aleluia"
Sómente hoje descobrí o caminho para Emaús através de um Retiro Espiritual
ResponderExcluirQuaresmal pelo qual fiquei encantada.
Todos nós, católicos sabemos quem é Jesus e qual sua importância em nossas vidas, por isso algumas passagens bíblicas nos passam despercebidas...ou não temos a informação.
"CRISTO VIVE>>>aleluia"
Gostei do texto, e na verdade gostaria de saber mais sobre o caminho de emaus:local exato na historia, onde ficava, qual a dimensão, se era um vilarejo perto de Jerusalém.
ResponderExcluirDeus abençoe.
O caminho de Emaús era uma estrada romana. Uma alta estrada, na época de Jesus. Era uma estrada com muitas pedras. Não eram pedras assentadas, ajustadas; eram pedras soltas, pedras pontiagudas. A distância era de aproximadamente 11 km, longa demais.
ResponderExcluirMuitos questionamentos se fazem, ainda hoje, em relação a atitude desses dois discípulos.
A situação fica muito pior, revoltante, quando lemos na Bíblia que um deles, Cléopas, era tio de Jesus.
Num primeiro momento, chegamos a nos revoltar tanto com esses fujões, que os chamamos de “covardes”, de “desertores”, de “frouxos”, de “ingratos”.
... num primeiro momento, apenas.
Porque, quando paramos para analisar as entrelinhas desse fato real, ocorrido na terra prometida, começamos a entender que eles não fora tão covardes assim...
Fatos inéditos, jamais imaginados, estavam acontecendo naqueles dias. O mundo parecia desabar sobre os seguidores de Jesus, senão vejamos:
• a orelha do guarda, cortada por Pedro, ainda estava cicatrizando;
• Judas havia cometido suicídio;
• Pedro havia negado Jesus;
• Tomé havia duvidado publicamente da ressurreição; e
• Jesus havia sido executado sarcasticamente.
Todas as esperanças, mais que isto, todas as CERTEZAS daqueles fieis seguidores haviam sido frustradas. Nada tinha dado certo, que fiasco. E, claro, eles também estavam correndo sérios riscos.
Por que eles estavam em dois?
• Porque eles tinham aprendido com Jesus que todas as missões deveriam ser cumpridas em dupla;
• Porque eles haviam sido ensinados por Jesus, a respeito dos registros bíblicos:
- é melhor dois do que um;
- quando um morre o outro enterra;
- no frio, um aquece o outro;
- quando um cai o outro levanta, etc.
Mas, por que fugir?
O instinto animal é assim mesmo: quando pressente o perigo, foge. Numa floresta, quando há “cheiro de fumaça” (não há necessidade de fogo), os animais saem em disparada em sentido contrário. É o instinto da preservação da espécie.
Em Jerusalém não se falava em outra coisa – JESUS havia morrido. Os seguidores mais próximos de Jesus, os Seus assessores seriam facilmente identificados e, da mesma forma executados também.
Por este motivo, eles usaram de razoabilidade e fugiram sim. Mas, fugiram para onde? Fugiram para suas casas, eles não foram para outros lugares. Para suas casas. Que mal há nisso? E para onde eles deveriam ir?
Nós fomos ensinados de uma forma errada! Esses discípulos de Jesus não foram traidores, nem traíras. Eles estavam voltando para o lugar que deveriam voltar – suas casas.
A Bíblia registra que Jesus caminhava ao lado dos dois tristes amigos. Eles estavam deprimidos, opressos.
Eles estavam acostumados a viajar com Jesus, sendo seguidos por uma multidão muito alegre e/ou muito esperançosa.
É certo que a movimentação em torno de Jesus era sempre muito notória.
Por outro lado, cabe lembrar que eram discípulos, mas não eram dos apóstolos, que acompanharam Jesus o tempo todo. Portanto, não conheciam o mestre tão bem assim.
Eles ficaram irritados, quando aquele “desinformado” disse que não sabia o que tinha acontecido em Jerusalém. Isso irritou os discípulos. Ora” Não é possível, Ele na havia ouvido nadica de nada.
Mas, quando o Mestre orou... hummm “a casa caiu”.
A oração faz a diferença sempre.
profrubensmorais@gmail.com
Deus abençoe pastor pela atenção
ResponderExcluirgostei muito do texto e esclareceu as minhas dúvidas.
CABO ARIMATEIA DIZ: EU CREIO QUE JESUS NOS MOSTROU QUE MESMO QUE NÃO CONSIGAMOS VENCER NOSSAS AFLIÇOES OU DECEPÇOES, ELE SEMPRE ESTARÁ APTO A NOS AJUDARMOS, E A CRERMOS QUE MESMO SEM ENCHEGARMOS VERDADEIRAMENTE COMO ELE É, ELE SEMPRE SE REVELARÁ PARA NÓS, FALTA DE FÉ ESTA DISCARTADA, POIS O NOSSO JESUS FEZ QUESTÃO DE SE APRESENTAR PARA TOMÉ,
ResponderExcluirPOIS UMA FALTA DE FÉ NÃO VENCERÁ NOSSO REI ETERNO.
Não tenho duvidas que o texto é muito abrangente,de modo que poderiamos ve-los de varios ângulos a palavra de Deus,mas permita-me acrescentar com td humildade oque Deus colocou ao meu coração:..No tocante ao vers.15...e ia com eles....Estes 2 discipulos sabiam que o lugar deles não era em Emaús..ainda que fossem suas casas,conforme a colocação anterior,pois retornaram para Jerusalem.ok...portanto indo para Emaus eles estavam na direção errada!Mas Jesus os acompanhou até Emaus...não foram somente 2 que foram para Emaus..mas 3...sabe oque eu aprendo com isto..é que mesmo o homem ,muita das vezes pode até tomar direçoes erradas,caminhos que o levam ao abismo.Cristo Jesus vai até onde o homem chega com folego de vida e o resgata do mundo das drogas,alcoolismo,prostituição,pecado ...se for preciso ele vai até o inferno para colocar o homem na direção certa...é preciso apenas no meio deste caminho ainda que errado acrescente o assunto deste nome que tem poder no céus e na terra!Jesus...ele surge..ele age.Foi assim na minha vida e tb vai ser na sua.Deus vos abençõe!
ResponderExcluira cidade de Jerusalém é a figura da Nova Jerusalém é o lugar que o Senhor Criou para esta com o Homem Regenerado e Glorificado, mas o homem sem saber sempre anda no caminho contrário.
ResponderExcluirGsotei muito do texto, que Deus possa abençoá-lo poderosamente ....
ResponderExcluirEsclarecedor e dinamico um texto biblico não pode morrer em um contexto historico , porque a biblia é atualidade o caminho de Emaus fazemos todos os dias.Nota-se que os discipulos reconheceu Jesus no momento da eucaristia.Onde Jesus vivo se faz presente a cada santa missa.
ResponderExcluirDentro da Doutrina Espirita, da qual sou praticante,no percorrer dos estudos da Vida do Cristo Redentor,nota-se que as atitudes das pessoas dos dias de hoje não são doferentemente do período em em ele percorria o chão palestino na Evangelização dos povos: a questão da falta de conhecimento, a moral decadente,a escravidão- doenças contagiosas, promiscuidade-, fome e miséria fazia parte do cardápio daquela gente. O Cristo , tem aprofundada em seus debatos visando o esclarcimento na mais profunda das tentativas em tirar a humanidade povo da ignorância. Hoje praticamente 80% da população no mundo vive na escravidão; sub-emprego, moradia precaria-, consumismo exarcebado,vícios, prostituição tando de jovens e adolescente-,violência em alta escala-, falta de respeito, ética-, honestidade. Enfim, se olharnmos criticamente não somos diferentes daquela gente,em se tratando de evolução humana no âmbito carater e moral, a humanidade está caminhando para trás. Não podemos confundir evolução moral com evolução tecnológica. Moralmente falando, vivemos ainda em estado do primitivismo.
ResponderExcluirGostei muito do texto. O que me causa estranhesa na verdade é a arrogancia demonstrada em alguns comentários. Eu creio que o nosso Cristo não agira dessa forma. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus.
ResponderExcluirCaro Cleiton;
ResponderExcluirFoi através de meu amigo Ezequias Lourenço que pude descobrir essa bela reflexão sobre o episódio de Emaús.
Também pude, entre-linhas da Palavra Dele, experimentar aquela ardência santificada em meu peito.
Sou grato a Ezequias pela oportunidade.
Sou grato a você pela passagem.
Sou grato a Ele pelo mistério de sua luz.
Obrigado.
Carlos E. Wolf