Aconteceu o que não parecia possível. Depois de muitos anos de Brasil imitando o que “funcionava” nos Estados Unidos, eis que o povo estadunidense se propôs a imitar a postura tupiniquim. Não se sabe se os marqueteiros de lá entraram em contato com os de cá, mas uma mesma frase serviu para que as duas nações suplantassem antigas pré-noções e preconceitos, aceitando o “inaceitável”; um bóia-fria cá e um negro lá, à luz da sentença a esperança venceu o medo.
Uma memória minimamente saudável se lembrará que a atriz Regina Duarte apareceu no programa eleitoral gratuito se dizendo “com medo do que poderia acontecer se Luis Inácio Lula da Silva se tornasse presidente da República Federativa do Brasil”. O mesmo terrorismo eleitoral tomou conta dos Estados Unidos, uma vez que por lá surgiram insinuações de que Barack Obama seria “simpatizante de grupos terroristas mundo afora e governaria apenas para vingar o que fizeram aos negros”. Para lá e para cá, portanto, nenhuma frase seria tão forte quanto uma que mostrasse que o medo incutido nas mentes deveria ser vencido pela esperança de real mudança do status quo.
Depois de tudo o que aconteceu no governo Lula, com seus números e avanços, é de se esperar uma nova entrevista da referida atriz global. Afinal, a pergunta que não quer calar é: estaria Regina Duarte ainda tomada pelo medo aterrorizante que a acometia? Só a “namoradinha do Brasil” poderia nos responder a tal intrigante questão.
A grande verdade é que não é mais apenas com uma minoria gritando por revolução que se vai mudar o estado de coisas vigente - embora isso contribua em demasia; o que muda de fato algo na estrutura social hoje é a concessão que a maioria está disposta a fazer. Os pobres não conseguiriam eleger Lula sem o apoio dos ricos e dos donos do poder, assim como os negros não conseguiriam eleger Obama sem o apoio dos brancos e dos donos do poder.
A aposta dos donos do poder deu certo por aqui. Pelo menos é assim que pensam 70% da população brasileira, segundo pesquisa do Datafolha. A esperança é que a aposta dos estadunidenses também seja acertada, pois somos – muito infelizmente – (in)diretamente governados por eles, sendo, por causa dessa mesma lógica, a política da boa vizinhança fundamental para a seqüência do que de bom nos tem acontecido até aqui.
Sim, somos muito parecidos agora; aceitamos um pobre torneiro mecânico, oriundo do território nordestino, bem distante dos centros do poder. Eles, por sua vez, aceitaram um negro de nome deveras estranho, oriundo do Hawaí, também bem distante dos centros do poder, e até fora do seu território contínuo.
A nossa vantagem em relação a eles é que tivemos apenas de aceitar um da Silva, o que já conclama a maioria, tendo, por isso mesmo, a facilidade da identificação. Na América de lá a coisa é bem mais complicada; eles têm de aceitar um Barack (nome árabe!) Hussein (sobrenome daquele que foi o inimigo número 1 dos Estados Unidos por anos e anos!) Obama (que rima com Osama, nome do inimigo número 2 dos estadunidenses!). Seria trágico se não fosse cômico, não?
Então, retifico: não temos vantagem. A vantagem volta a ser deles, pois é preciso menos peito para aceitar um Luis Inácio Lula da Silva do que para ser governando por um “queniano” de nome Barack Hussein Obama! Vive la différence!!
liberdade, beleza e Graça...
Clei,
ResponderExcluirAcabei de postar uma pequena coisa sobre isso, relacionando com a questão afrodescendente no Brasil.
Espero seu texto.
Um abraço.
Estou aguardando seu texto....
ResponderExcluirbeijo
Clei,
ResponderExcluir"Valeu a pena esperar", já dizia o ditado. Esperança é uma palavra-chave para entender a situação que o mundo vive agora. Mais do que nunca é preciso resgatar a frase que o reverendo Jeremiah Wright cunhou, dando origem a um dos livros de Obama: "A audácia da Esperança".
Sem audácia não há esperança. Aliás, um dos significados possíveis de esperança é "esperar com ação" (sperare e antia). É preciso audácia, é preciso ação.
Um grande abraço.