Há exatos dez anos, no dia 20 de abril de 1999, na Escola Columbine, em Litleton (Colorado), dois adolescentes fortemente armados de pistolas, rifles e muita munição mataram doze colegas e mais uma professora, dando, em seguida, cabo de suas próprias vidas. O cineasta estadunidense Michael Moore fez um excelente filme-documentário a respeito do massacre que chocou o mundo, marcando tristemente aquele abril sangrento.
Ao contrário do que quis outro fantástico diretor de cinema, o também estadunidense Gus Van Sant, com o maravilhoso “Elefante”, também sobre o mesmo massacre de Columbine, esse texto não pretende tratar da questão psicológica dos garotos assassinos, mas discutir a (in)segurança nossa de todos os dias e o porte extremamente facilidade de armas, nos Estados Unidos, que muitos entendem como solução para episódios como o lembrado aqui. Relembrar, já no título desse texto, a película “Tiros em Columbine”, de Moore, não é, pois, um expediente gratuito.
De lá para cá, vinte e oito novos massacres aconteceram nos EUA e a discussão que nos dias atuais se coloca é sobre a quem interessa o debate sobre o porte de armas. Fora os dois maravilhosos filmes – obrigatórios nas boas aulas de Sociologia – uma reflexão acerca do tema se faz extremamente pertinente.
O discurso, do qual faço parte, de que violência gera violência parece não fazer a cabeça de um sem número de cidadãos dos Estados Unidos, que se acham detentores de um direito divino (você não leu errado, eu disse divino!) de possuir uma arma de fogo e se “proteger”.
Larry Pratt, diretor da Gun Owners of America (Donos de Armas da América, em inglês), organização fundada em 1975 para defender o direito dos estadunidenses de adquirir e portar armas defende: “Nos EUA, nós temos a Segunda Emenda, que protege nosso direito, dado por Deus, de nos proteger com uma arma de fogo. Historicamente, a posse de arma de fogo foi exigida de todo homem livre, em todo nosso período colonial. Por 150 anos, na América, sob a Coroa Britânica, tivemos leis segundo as quais, se você era um homem livre, tinha que possuir um rifle e ir a uma milícia praticar. Quando a Constituição foi escrita, era isso que ela dizia. Que todos os indivíduos têm direito a rifles militares ou eles seriam multados. Havia punições para quem não tivesse armas”.
Justificando uma saída para os vinte e oito massacres desde Columbine, Pratt diz que “se alguém tivesse uma arma nesses locais, não haveria massacre, pois era só atirar e matar o possível assassino, antes que ele o fizesse com outros (...) violência resolve problemas”.
É sabido que a indústria de armamentos é extremamente lucrativa e não vai deixar de se impor num debate como esse. Todavia, é preciso concentrar esforços nos argumentos de cada lado, uma vez que, se Deus está do lado de lá, nós já perdemos do lado de cá.
Porém, é bom que saibamos que o conceito de liberdade, por mais amplo que possa parecer, não diz respeito a poder se armar, mas justamente não precisar de tal postura para se sentir seguro e liberto. Se a Constituição estadunidense defende ainda a liberdade de outro modo, é preciso que uma revisão conceitual se dê, pois os tempos e as mentalidades mudaram. Tanto assim é, que ninguém vai ser multado hoje por não ter um rifle!
Para serem mais honestos, pois, os defensores do argumento armado deveriam, pelo menos, mudar a argumentação, afinal, o que está em jogo não é o construto liberdade, mas a ganância da maior e mais lucrativa indústria do mundo capitalista. Quanto ao próximo massacre, que infelizmente virá logo, seguindo-se as estatísticas, eles que se virem por lá. Até porque, já temos muita corrupção, miséria, Daniel Dantas, José e Roseana Sarney, Fernando Collor e Gilmar Mendes para nos preocupar por aqui.
liberdade, beleza e Graça...
Acho que o texto foi muito bem escrito e espero que ele seja uma forma de levar pessoas à reflexão sobre o caos de violência em que estamos vivendo.
ResponderExcluirFico triste em ver como situações de violência como a de Columbine, e também como as chacinas e os milhares de homicidios que temos aqui no Brasil estão banalizados no dia a dia das pessoas, se tornando algo corriqueiro e trivial!!!
Liberdade não é o direito de ter uma arma para se defender, liberdade é não precisar se defender, é poder sair nas ruas sem o medo de poder não voltar pra casa.
Embora as coisas que tenho visto me levem a acreditar em um mundo cada vez mais egoista, corrupto e violento, quero sonhar com um mundo onde predomine o afeto e o amor entre as pessoas, pois essas, na minha opinião, são as melhores armas para acabar com a violência!!!
um grande beijo
Claiton,
ResponderExcluiré importante a lembrança dos 10 anos da tragédia em Columbine. É fundamental ressaltar que este tipo de ação não é mais uma exclusividade estadunidense, pois em março -não sou muito bom em datas- exitiu uma ação como esta na Alemanha, de um jovem com execelente condição financeira e com um pai extremamente armado. Machel Moore mostra brilhantemente em seu documentário, que esta parece ser uma combinação drástica: sociedades extremamente desenvolvidas e ricas, mas que no interior de suas famílias sentimentos como o carinho e o amor parecem utópicos demais.
Mas em sociedades como a americana onde imperam o medo e o consumo, só uma mudança radical deste paradigma faria com que novos massacres não acontecessem mais. E isso só vai ocorrer quando o seu presidente parar de jogar bombas em todo mundo sem motivo algum, parar de fabricar armas de destruição em massa -afinal de contas o muro já caiu fazem 20 anos este ano- e entre outras ações não faça o povo pobre estadunidense pagar pela crise econômica dos banqueiros e dos grandes capitalistas.
Tomara que o Obama faço isso, apesar d'eu achar muito difícil.
Mas uma vez, fica minha admiração bela sacada em relembrar fato tão marcante que é tratado pelos grandes meios de comunicação como atos isolados e não como fruto de sociedades doentes que diversas vezes impossibilitam a formação de uma juventude sã.
Saudações,
Bruno
OBS: não podemos esquecer do amor no interior das famílias, pois sem ser piegas creio muito na força da família enquanto estrutura protagonista de uma boa sociedade.
Bom texto. A realidade escrita e exposta. Sem mais comentários, rs. ;D Bye!
ResponderExcluirConfesso minha ex-ignorância em relação ao porte de armas nos EUA. Não sabia de toda essa liberdade que tem amparo constitucional e uma licença supostamente divina. Pensando nesse contexto, um outro assunto me veio a mente. Se a liberdade com armas gera situações de abuso como as dos massacres que foram citados, e que provavelmente continuarão a acontecer, a liberdade em relação a outros itens potencialmente levam ao mesmo caminho. Drogas, por exemplo. Tantos defendem a legalização ... Penso que exemplos como o das armas nos EUA mostram que liberdade gera liberalidade e o conceito do viver em sociedade acaba se perdendo pois o respeito ao outro deixa de existir e o que acontece é a busca do pessoal e individual em detrimento do comum. Ou seja, o homem até pode ser um ser social mas precisa de regras e restrições para manter-se e não matar-se em sociedade.
ResponderExcluirBem interessante o texto. Confesso ter ficado chocada com esse suposto "direito divino". Esta aí o resultado!
ResponderExcluirPorem, cruel mesmo é saber que quem defende pouco se importa com o próximo, o lucro é bem mais interessante( e bem nojento).Mas para um país de primeiro mundo deixou a desejar. Como destacou "já temos problemas demais por aqui"( essa foi boa!!rss),se vao surgir, q fiquem por lá.
Realmente gostei do texto.
Mais uma vez fico agradecida.
um grande abraço!
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ResponderExcluirCARA VOCÊ É A MINHA SALVAÇÃO !! EU TENHO UM TRABALHO DE REDAÇÃO SOBRE ESTE DOCUMENTARIO SO SEGUNDO DIA DE VOLTA AS AULAS E EU PRECISO ASSISTIR !! SÓ QUE EU NAO SEI AONDE POSSO ALUGAR? VOCÊ TEM IDEIA? PODE SER EM QUALQUER LOCADORA?
ResponderExcluirESPERO QUE ME RESPONDA ! MUITÍSSIMO OBRIGADA ! BEIJOS