Sempre após a festa do Oscar é possível se ter uma noção de qual é o melhor filme do ano. Em geral, a película que ganha o prêmio de melhor filme estrangeiro é o melhor trabalho do ano, pois os estadunidenses não dão esse título a uma película que não seja produzida por seus patrícios. Para eles, o melhor filme terá sempre de ser o que das ideias deles saiu e ponto final.
Mas os bons cinéfilos sabem o que fazer assim que a festa termina; torcer para que o melhor filme estrangeiro chegue logo por essas terras, pois trata-se quase sempre do melhor trabalho cinematográfico do ano, sendo bem poucos os anos em que essa tese não se confirma.
Esse ano não foi diferente; o argentino "O segredo dos seus olhos" é disparado o melhor trabalho de cinema feito no ano passado. Com todas as honras, a película de Juan José Campanella é o melhor filme do ano e, nos dizeres de um cinéfilo de marca maior, é IMPAGÁVEL.
Desde "Clube da lua" que o ator Ricardo Darín entrou para o panteão daqueles intérpretes inesquecíveis. No 'quase romance' que vive com a personagem interpretada por Soledad Villamil, o Benjamín Espósito de Darín é mais um daqueles papeis que valem o ingresso e o incontido choro no final.
Guillermo Francella é outro que faz do filme algo de uma preciosidade de fazer calar. A música é perfeita, como sempre no cinema argentino, e a turbulenta e extremamente romântica Buenos Aires dos anos 1970 é trazida com uma minuciosidade, uma potência, uma poesia de fazer embasbacar.
A trama conta a história da tentativa do investigador de polícia Benjamín Espósito de escrever uma novela, sendo que nada nela será inventado, já que a pretenção é narrar algo de que ele mesmo foi protagonista anos antes. Tratar-se-á de uma história de amor, vivida em meio à investigação de um estupro seguido de assassinato, em que Espósito trabalhou, tendo o grande amigo, interpretado por Francella, como parceiro leal e amoroso, algo demonstrado sempre e até o fim de uma vida.
Espósito não consegue contar a própria história, pois ela é dividida com uma bela mulher casada, por quem ele sempre nutriu a razão de ser da novela que teima em não sair. O romance só será possível de ser concluído se o tal objeto de desejo vier a participar de maneira a fazê-lo, Espósito, compreender suas escolhas, ações, decisões e equívocos do passado. A busca não é, pois, por narrar, mas por compreender o passado e as escolhas feitas nele, a fim de que um amor que tinha tudo para acontecer explique a razão de nunca ter sido.
Só a partir do momento em que Benjamín Espósito decidir enfrentar a si mesmo, conseguirá atingir aquilo que deveria ter sido atingido 25 anos antes em sua história: encarar a mulher que ama, tendo a coragem de dizer a ela esse segredo guardado por 25 anos na fala, mas falado a cada novo dia na tradução, teimosamente não lida, do segredo dos seus olhos.
Correndo de forma paralela, a saga vivida pelas personagens de Pablo Rago e Javier Godino, viúvo e assassino, respectivamente, de uma mulher belíssima, ganham ares de tentativa de se explicar a verdadeira essência humana; a paixão que nos move a matar e a morrer, mostrando o pior e o melhor que cada um pode fazer, numa luta apaixonada de todos contra todos.
É por paixão que o assassino estupra e mata e é por paixão que o viúvo guarda uma vingança que nem o mais atento cinéfilo poderia imaginar, exceto se atentar desde o início da trama para o "método do paradigma indiciário", utilizado pela personagem de Francella.
Tal como o cego Tirésias, do clássico "Édipo Rei", o alcoólatra que Guillermo Francella vive consegue interpretar cada indício e sempre enxergar respostas, exatamente aonde os olhos pensam esconder segredos. Nada parece escapar à visão de alguém que é deixado à margem daquilo que o mundo sempre anunciará como "normal".
O final é um soco no estômago. Por isso, esqueça todo o resto e, por você mesmo, vá ao cinema!
liberdade, beleza e Graça...
Depois de ler este texto fiquei curiosíssima! Estava pensando em ir ao cinema ver... Não vou dizer pra não te decepcionar, professor! rs. Mas sua indicação será a próxima atração!
ResponderExcluirBom, se essa já era uma opção para assistir, agora é prioridade!rsrs. Se eu conseguir assistir o filme, na segunda quando estivermos voltando para Niterói conversamos sobre ele. Abraço camarada!
ResponderExcluirVitão!
Pois é!
ResponderExcluirE, ainda há quem menospreze o dito pop: "Os melhores perfumes nem sempre estão nos maiores (e, mais requintados, digo euzinha)frascos"!
Lembro-me quando resenhei o filme CASA DE AREIA.
O que colega de facu reclamou pq foi assistir o bendito filme e odiou...
Bem, Hollywood me perdoe, mas LAVOURA ARCAICA, por ex., (pra mim) está acima de qualquer AVATAR!
Assim, segue a resenha de Casa de Areia. Se alguém se aventurar...
Beijão
(Jornal REDE DE LETRAS: Dizem as más línguas que tenho um gosto esdrúxulo para filmes. Pecado! Calúnias à parte, não resisti, e estou dando uma dica: Casa de areia. Acabei de assistir. Um filme com as duas Fernandas, numa atuação belíssima durante todo o filme!
Atenção: na cena final, há uma interpretação de Fernanda Montenegro, num papel duplo, no qual o personagem ( filha ) fala que o homem foi à Lua. Sua mãe, então, pergunta o que, lá, foi encontrado. A resposta contextualizando todo o filme é algo surpreendente! É um desses momentos sublimes, no qual tudo o que antes já se consumava Belo e, portanto, parecia não mais Belo poder tornar o texto (nesse caso, o filme) o torna indizível, naquela resposta ouvida pela personagem, e, em seu olhar fundido ao avanço da câmera. Na amplitude de tudo... No “fechamento final” - espaço que de tão longínquo é impossível de se intelectualizar-se espaço; e, é nele onde percebemos o tudo, onde percebemos junto com Áurea o sentido de tudo, numa sinonímia existente entre a AREIA e o NADA; pois, se na lua não se encontrou nada, apenas areia... E, se o lugar que ela, Áurea, passou sua vida nada tem a não ser areia... Dois lugares tão distantes de onde se vem mais velho ou de onde nem se vem, pois, lá mesmo, acaba-se por fundir-se ao sem fim; assim, como Áurea acabou por fundir-se à áurea areia do... NADA!
Vejam e me contem. Vale a pena!
PS:
ResponderExcluirOuvi por aí, por ali: O filme Tempos de Paz é uma M... Tanta expectativa e...
Reflito cá, com meus pobres botões, já caídos a precisar nova "casa" : " Inda que o roteiro fosse o mais tenebroso cocô; jamais, em tempo algum - seja de paz ou guerra - o filme poderia receber tal "elogio". Não! Jamais! Jamais tendo a cena em que Dan declama poema Monólogo de Segismundo. Não... Ali, naquele momento, a gente congela na poltrona enquanto as lágrimas correm pelo rosto. Assim foi comigo ,e sei com muitos tb.
Não há adjetivação digna para esse instante!!! Melhor calar!!
É, amiga, o monólogo do Segismundo é tudo de bom mesmo. Parabéns pela resenha; teu texto é muito sensível.
ResponderExcluirliberdade, beleza e Graça...
Esse filme é realmente incrível. Hoje em dia é difícil encontrar filmes com finais tão supreendentes. Eu fiquei me perguntando durante todo o filme "Será que é isso?", "Será que é aquilo?", tentando decifrar os reais acontecimentos. Além disso, nos faz refletir sobre amor e justiça.
ResponderExcluirÓtima indicação, Cleinton!
Beijos!