No século XVI, e com apenas 18 anos de idade, Etienne de La Boétie publica o Discurso sobre a servidão voluntária. Nesta obra exemplar, o autor defende a liberdade e a igualdade de todos os seres humanos na dimensão política, evidencia, pela primeira vez na história, a força da opinião pública, repele todas as formas de demagogia e envereda pioneiramente por aquela que mais tarde ficaria conhecida como a Psicologia de massas, apresentando a irracionalidade da servidão dos povos.
Como se pode ver, já a partir do título provocativo do Discurso, a servidão é indicada como uma espécie de vício, de doença coletiva. Mesmo assim, e com muito tempo vivido e muita ciência experimentada desde o aparecimento da obra de La Boétie, novas formas de servidão voluntária foram se apresentando. Algumas bem interessantes - e até mesmo contagiantes - como é o caso da servidão digital, tão fortemente vivenciada neste início de século XXI.
No novo modo de servidão, não é raro ouvirmos frases do tipo: "Mas você não está no Facebook?!"; "Todo mundo tem Orkut!"; "Tuitei por horas e horas ontem"; "É só me visitar no Myspace!". É como se todos tivéssemos a obrigação de ter essas bugigangas digitais, que só nos afastam uns dos outros, embora sejam chamadas de "sites de relacionamentos".
Entre uma novidade e outra, vamos enveredando por um terreno que, embora pareça fácil e dominado, apresenta uma série de problemas a serem pensados. Um deles é a fragilidade das relações que passamos a vivenciar. Se criticávamos a monetarização das relações sociais, com o advento da modernidade, agora somos vítimas da virtualização das mesmas relações, na chamada pós-modernidade.
Para piorar a situação que agora experimentamos, não é raro ouvirmos sobre pessoas que mandam recados para si mesmas, a fim de se sentirem importantes para alguém, ou contam os milhares de recados recebidos a fim de recalcarem a solidão que sentem, desafiando o telefone que teima em não tocar com a proposta para um papo de final de tarde.
Agora, triste mesmo é frequentar um espetáculo lotado de escravos digitais. O que jamais se imaginava que pudesse acontecer, tristemente aconteceu; agora o sujeito não mais assiste ao espetáculo, não curte o seu conjunto ou músico favorito. O negócio é perder o ao vivo e ficar como idiota segurando um celular na mão, gravando o show para postar depois nessas chamadas redes sociais. O lance é provar a presença no evento com um "olhem aqui a prova; eu fui!". Na verdade, o sujeito não foi a lugar algum; não viu o seu artista favorito, pois estava preocupado em "provar" que viu!
Os escravos digitais se contentam com a imagem e perdem a presença; se contentam com um recado virtual e perdem a potência insuperável de um encontro humano. A chamada pós-modernidade é isso: estamos nos perdendo uns dos outros e, para piorar, estamos achando isso "o máximo; a última moda"! Parafraseando a máxima de um comercial televisivo, nossa nova postura confirma que presença não é nada; imagem é tudo!
liberdade, beleza e Graça...
Muito bom Sr. Cleinton...gostei bastante do texto. É exatamente nesse mundo que estamos vivendo...estamos tão viciados nesse sistema que adolescente, se não me engano nos EUA, morre de trombose venosa pronfunda depois de ficar infinitas horas na frente do computador...é realmente necessário essa servidão??????
ResponderExcluirAbraços da sua Fisioterapeuta "afro" rsrsr
Muito bom o texto... uma tira nos malvados falava algo assim: as pessoas se procupavam mais em registrar o momento do que vivê-lo!
ResponderExcluirAbraços
queria escrever igual a vc camarada.
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