Três episódios. Três grandes perdas. Três momentos estarrecedores na vida de um povo que - por uma série de motivos - desaprendeu a indignação. Ou, antes, até se indigna, mas por um período bem pequeno de tempo. Todos os dias uma série de fatos acontecem e nada mais fazem do que moldar o jeito carioca e, por que não dizer, brasileiro de ser. Só que passam. Os momentos passam. Apenas.
Um espaço bem pequeno de tempo passou e já é possível perguntar: Como era mesmo o nome daquele menino que virou um “bolo de carne” ao ser cruelmente arrastado por sete quilômetros? Quantas eram e quais eram os nomes das mulheres que tiveram suas vidas ceifadas pela queda de uma marquise de um hotel em Copacabana? Quais os nomes e qual a nacionalidade daqueles estrangeiros que foram assassinados por um jovem, adotado por eles, e no qual eles investiram muito durante seus anos de vida e estada no Brasil? O tempo passou e essas pessoas já não são. Não são vivas; não são nomes; não nos são memória.
Descobre-se a cada dia que a razão da existência é ter algo em que acreditar. É fazer parte de um grupo de pressão social e se engajar numa luta que, mesmo tendo tudo para dar errado, só pela possibilidade de dar certo, já faz da vida algo de grande valia.
Verdade é que, ao contrário do que tem acontecido, um episódio como o de João Hélio deveria ser motivo para uma fundação; talvez um “Instituto João Hélio Fernandes para a prevenção da violência contra a criança presa no cinto de segurança”. Ou uma “Associação de moradoras copacabanenses que passam debaixo das marquises acompanhando velhinhas”. Ou ainda, “Grupo de apoio aos franceses que adotam crianças brasileiras, e que são roubados por elas”. É quase piada, mas é sério. Infelizmente.
O grande mal deste século é mesmo a falta de memória, que é o que faz das pessoas indignadas por algo totalmente esquecidas do mesmo em pouco passar de dias.
Para nós, universitários, privilegiados por chegarmos à formação superior (só 3% da população tupiniquim consegue tal feito), as vidas que se perderam são de extremada importância. Não apenas pelo grau maior ou menor de crueldade, como aconteceu com a maioria que gritou durante três dias por João Hélio, e que não se lembrará do menino “Zé” que morreu hoje, de tuberculose, no Souza Aguiar. O simples fato de qualquer pessoa morrer sem ter a oportunidade de conhecer as palavras redentoras do ser, sem conseguirem informação e formação, sem poderem escrever o que pensam e sabem em um espaço plural como esse, nos deveria fazer chorar. Chorar muito.
Somos um grupo de pressão social. Deveríamos fazer mesmo a tal pressão. É o mínimo. Somos do grupo que deve protestar pela audição de palavras que libertam, curam e salvam da crueldade do estado de natureza humano. Por isso, o protesto nosso de cada dia deve ser muito maior, pois morrer esfaqueado pelo filho adotivo; arrastado pelo cinto de segurança; com concreto de marquise de luxo na cabeça; por falta de leito nos hospitais públicos ou em um Iraque injustamente invadido, deveriam nos soar da mesma maneira; quebrando o nosso coração e rachando a nossa cara.
liberdade, beleza e Graça...
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