sexta-feira, 8 de junho de 2007

"Sobre João Hélio Fernandes e alguns "demônios""

É impressionante a maneira como alguns acontecimentos conseguem mudar radicalmente a opinião pública brasileira, fazendo-a - vez por outra - tocar em assuntos tidos já como mortos e enterrados. A barbárie que vitimou o menino João Hélio Fernandes, de apenas seis anos de idade, foi um desses acontecimentos.
São muitas as passeatas, os artigos e os e-mails que tentam dar conta do acontecimento, e que não fazem outra coisa a não ser pedir “justiça”.
A indignação que toma conta do país produz riquezas em expressões e fatos, e consegue ainda fazer produzir análises e espaços para ricos e enriquecedores debates.
Na ânsia de ser o mais politicamente correto possível, alguns profissionais têm colocado seus dotes à disposição da sociedade civil, em busca de uma resposta para fatos como a morte do menino João Hélio. As discussões acerca da pena de morte, da prisão perpétua e da maioridade penal estão, portanto, na crista da onda.
Para um país como o Brasil, onde o cultivo da memória é uma aberração, em pouco tempo se esquecerá a barbárie que hoje nos assola a alma, e se estará pensando novamente em “qual será a chave mais fácil no campeonato brasileiro” ou “quem será o próximo eliminado do Big Brother”.
O pior de tudo o que acontece agora não é, em minha modesta opinião, o fato de uma criança ser arrastada e despedaçada por sete quilômetros, sendo chamada de “o nosso boneco de Judas”, mas o fato de que a sensibilidade nossa de cada dia também passou a ser uma espécie de “sentimento em extinção”.
Quando cheguei ao Rio de Janeiro, vindo do interior de São Paulo, doze anos atrás, passei por uma situação demasiado curiosa; ao ver um corpo esquartejado, na foto de manchete do jornal O povo, tive vontade de vomitar. Doze anos mais tarde, a mesma foto ou o caso João Hélio não fazem mais efeito em mim. Eu não vomito mais por essas “coisas cotidianas”. Minha sensibilidade morreu. Foi assassinada. Violentada, digo.
O mal do Rio de Janeiro e do Brasil não é a morte de um menino inocente e nem a forma bárbara como ela se dá, mas a perda da sensibilidade, que faz de nós pessoas que não mais vomitam com certas cenas de carnificina e que – consequentemente – são potenciais candidatos a “assassinos do próximo João”. Que virá; é claro, e infelizmente.
Os advogados não vão resolver. Os juízes, tampouco. A justiça terrena não pode fazer muito. Só um grito esganiçado de "piedade, Jesus!" poderá nos valer nessa hora.
Só mesmo pregando Jesus ressurreto será possível ser “o país do futuro” e não apenas o do futebol e do voyeurismo.

liberdade, beleza e Graça...

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