Os Jogos Pan-Americanos e o acidente com o vôo 3054 da Tam conseguiram, em um mesmo momento, contrapor glória e tragédia, dando significados bastante diferentes para uma mesma palavra; velocidade. As disputas que acontecem no Rio de Janeiro e a tragédia ocorrida em São Paulo fizeram com que as duas maiores cidades do país buscassem por respostas antagônicas em um mesmo conceito. A velocidade deveria ter sido menor em São Paulo e sempre poderá ser maior, nesses dias de jogos, no Rio de Janeiro.
Por ter sido alta demais, perderam-se muito e muitos na maior cidade brasileira. Por conta de ser baixa demais, a velocidade sempre ratificará a recusa da melhor medalha, na atual capital esportiva da nação.
Entre uma e outra, é claro que, por conta dessa tal velocidade, a dor sempre será maior para aqueles que não terão mais a oportunidade de encontrar a calmaria e o remanso dos braços da família. O outro lado, por conta das novas oportunidades que a vida sempre dá, terá outras grandes chances de ser mais rápido e eficiente.
O mais difícil, ao se lutar contra o relógio, é que não se tem o direito de curtir a dor, pois o mundo pede agilidade no esquecimento das tragédias, além de grande poder de superação, apesar de toda dificuldade que esses momentos impõem. A luta das duas cidades é contra o tempo agora. Mas de formas bastante diferentes, claro.
Só que é preciso parar. É necessário que se pare um pouco para pensar no que tem acontecido. É urgente que se pense nas prioridades que a nação tem, pois, sabido é, as melhorias no setor aéreo brasileiro não puderam retirar nenhuma parte dos 3 bilhões de reais que os jogos precisavam receber. Como se não bastasse, a tragédia fora anunciada por uma outra poucos meses antes. Só que agora, aos olhos do poder público nacional, a tragédia com o vôo 1907 da Gol parece ter se tornado “apenas a segunda”.
Em São Paulo, uma reforma decente e completa na pista do Aeroporto de Congonhas “daria muito prejuízo”. A melhoria no quadro de funcionários e melhores condições de trabalho e salário para os controladores de vôo também sairiam muito caro.
Em contrapartida, no Rio de Janeiro, segundo denúncia da revista Caros Amigos, um orçamento de 720 milhões pode chegar aos 3 bilhões sem problemas. A contratação de uma empresa de segurança para os jogos pode ser sem licitação. A empresa organizadora pode pertencer ao presidente do COB, sem dificuldades. Contratar familiares do mesmo Carlos Arthur Nuzman, sem licitação, para o figurino dos atletas, e outros familiares, com um contrato de 720 mil reais, só para dar a idéia de como seriam as medalhas, também está “dentro da conformidade”. Gastar 22 milhões do dinheiro público em passagens para cartolas dos comitês pan-americanos também é “bastante natural”. Negociar 20% “por fora” com uma empresa de alimentação francesa, pareceu também um “bom negócio”, mas foi melhor não expor tanto o presidente do COB.
Talvez fosse, por tudo isso, necessário instaurar uma CPI do PAN e tentar fazê-la andar lado a lado com a CPI do apagão (da catástrofe e do caos) aéreo. Mas, se isso ocorresse mesmo, quem garante que tal Comissão Parlamentar de Inquérito não seria presidida pelo Renan Calheiros?
O melhor, enfim, é chorar junto. É respeitar o luto dos que sofrem com a velocidade alta do pouso em Congonhas e extremamente baixa do governo em oferecer respostas. Além disso, é pedir, do Altíssimo, misericórdia, pois, para assuntos como esses, o governo dessa nação parece ser e estar totalmente impotente e desacreditado.
liberdade, beleza e Graça...
Amigo Clei,
ResponderExcluirAcabei de postar, no meu blog, uma pastoral que saiu no boletim de domingo em memória das vítimas deste vôo da TAM.
O seu texto tem uma relevante preocupação de revelar o que foi gasto com todo o dinheiro investido no Pan. A proposta de uma CPI procede, por causa dos aumentos significativos no orçamento. Isso, porém, não dira o brilho do evento que trouxe ares novos para a cidade. Tomara que os ventos não os levem!
Grande abraço.