terça-feira, 20 de julho de 2010

"Edir Macedo e a musicalidade teopoética de Vander Lee"

Estava lotado o Maracanã. Nem na apresentação de Frank Sinatra o público tinha sido tão grande, disseram muitos, e parece que com razão. Mas a Rede Globo ignorou completamente o evento, não citou qualquer número e nenhuma nota foi dada, pois havia uma briga - e ainda há - com a Rede Record.
Edir Macedo dirigia uma "reunião de milagres" e convocava todos os que usavam qualquer tipo de auxílio para viver - óculos, muletas, cadeiras de rodas, aparelhos de audição etc. - a abandonarem aqueles objetos todos e a receberem a cura.
A sagacidade de uma repórter fez com que perguntasse àquele líder espiritual a razão de ele incentivar as pessoas a jogarem fora os seus óculos, se ele mesmo continuava com os dele. Edir Macedo não titubeou e respondeu: "É que eu não tenho a fé deles".
Lembrei-me deste episódio ouvindo Sonhos e pernas, do cantor e compositor mineiro Vander Lee. Tal como Aonde Deus possa me ouvir e Alma nua, essa canção me traz algo de teológico. Algo de teopoético, eu diria.
Pensando na temática do discipulado, defendo que o testemunho de vida deve fugir à tese de Macedo, pois não é bom apenas falar do que se deve crer, mas é imprescindível que se viva a fé professada. Bom mesmo é ter o peito para dizer: "Quer aprender de Jesus, olhe para a minha vida". Parece bastante radical, mas se mostra muito mais correto e mais bíblico, uma vez que o grande apóstolo S. Paulo convidou aos que o seguiam, sem qualquer crise: "Sede imitadores meus, assim como eu o sou de Cristo".
Penso que, ao contrário do que queria Edir Macedo, é hora de fazer mais do que falar o que os outros devem fazer e, seguindo a teopoética de Vander Lee, ratificar Sonhos e pernas: "Olhe, não venha me mostrar o que você não vê; não venha me provar o que você não crê. Não tente se enganar". Vemos por esta frase que, ao contrário do que muitos pensam, não é aos outros que se consegue enganar em termos de fé, quando se faz o que fizeram e fazem muitos dos nossos líderes espirituais. Parece-me que é o grande Macedo que engana-se a si mesmo quando faz o que faz. Manda olharem, mas ele mesmo não vê. Tenta explicar, mas ele mesmo não crê. Afinal, foi ele mesmo que disse "não tenho a fé deles".
Apesar da lógica neopentecostal do Edir, baseada no "você pode tudo", ainda fico com a oração do nosso músico mineiro: "Ó, meu Pai, dá-me o direito de dizer coisas sem sentido; de não ter que ser perfeito, pretérito, sujeito, artigo definido".
Que possamos nós, os que devemos ser curadores d´almas, nos deixar envolver pela teopoética, como a apresentada por Vander Lee, deixando também que as pessoas não se obriguem à cura e ao impossível, mas que possam viver o milagre de ser gente, com todas as implicações - para o bem e para o mal - que isso sempre traz.

liberdade, beleza e Graça...

9 comentários:

  1. Demais, professor! Verdade verdadeira. Fico feliz com a tranquilidade com que fala dessas "coisas" tão horrendas e dastrosas: a falsidade, o engano, a corrupção... Propôs poesia, foi poético e simplesmente cristão. Gostei muito. Tem uma música que me fez refletir algo parecido, com a Priscila Barreto cantando, é linda, se puder, quiser e não conhecer ainda, veja e ouça: http://www.youtube.com/watch?v=zisFg1oD6Mw&feature=PlayList&p=5B95E7671567A949&playnext=1&index=15

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  2. É isso querido amigo. Sempre fui um homem que viu o Cristo vestido do Evangelho. Essa nova teologia, impregnada no Brasil através do neopentecostalismo, tem retirado o Evangelho do Cristo para apresentar uma nova forma de viver a vida. Engodo!
    Que o Senhor nos livre de pensar sem a poesia do Evangelho e das pedras do caminho que ele mesmo nos remete!
    Abraços.

    www.nelsonlellis.blogspot.com

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  3. Estar despido de hipocrisias. Creio que a essência poética do eu-lírico na poesia de V. Lee seja essa.
    (e, rasgar a pele dói)

    NUEZA

    Há que a alma incorrer no absurdo e tentar decifrar-se;

    Ora isso, ora aquilo.... ou, quem sabe, nada mais

    Do que pensei ser e não fui. (ou fui?!)

    Sou assim, tão contundente em certeza,

    Tão sem convicção disso tudo,

    Contraditoriamente esse ser de razão.

    Mas, quem ousou perguntar-me quem sou???

    Qual a piada do dia, senão, a que conto à vocês

    Toda vez que reverbero certezas

    Ou cada vez que me arvoro em sermões?

    Se me olho, no espelho, não vejo quem sou;

    É muita luz, muita roupa, muito aplauso!

    Preciso me ver despida, descalça.

    Preciso me ver no escuro do avesso,

    Na penumbra do quarto.

    Preciso me ouvir à madrugada,

    Na escassez do meu estoque de risos.

    Embrenhar-me em meus nós apertados

    E, sair deles sem troféus ou galhardias.

    Preciso correr - sôfrega! - por meus cios oprimidos

    E gozar na primeira esquina ( sem esquadros!).

    Sobreviver ao prato do dia, matar a fome

    E recusar-me ao banquete da noite.

    Ao final de tudo, nada mais importará eu saber:

    Se sou assim ou assado...

    Se gosto mais de branco ou azul...

    Se prefiro brisa à tempestade...

    Já não me importará ser quem pensam que sou.

    Dentro da percepção de mim mesma,

    Apenas, importará saber-me mais viva,

    Sentir-me mais límpida,

    Sem muitas razões ou porquês.

    Apenas, aquela certeza de saber-me eu mesma,

    Sem caminhos fechados, sem estradas-fachadas,

    Sem placas mostrando de onde partir ou como chegar.

    Saber-me eu mesma, tão somente,

    Pra compreender-me mais um

    A não ter verdades pra trocar numa roda,

    A ter anseios a colher uns bons frutos, e, sobretudo,

    Pra colocar-me entre tantos, no mundo,

    Que só aprendem de si quando dos outros absorvem a alma.

    Sandra Silva

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  4. DO PÓ AO PÓ

    Nua e crua minh’alma faminta a noite espera.

    Caminha em angústia enquanto a fome corrói,

    Rói o que já cerzido está.

    Negro é o véu intacto, incólume... frio.

    Quem ungirá de óleo meu corpo?

    Quem lavará meus lábios impuros?

    Quem à sede minha dará água?

    Quando se assoprará a poeira dos meus pés?

    O Gigante é indefeso à pequenez tamanha!

    Que insurja do abismo o Dom da Canção

    Afugentando a ira, apascentando a agonia!

    Rasgue-se o véu deflagrando a dor,

    Antes que o dia se faça noite,

    E esse dia nunca termine.

    Sandra Silva

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  5. Muito bom o texto.

    Como disse o apóstolo Paulo; “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo”. (II Co 11. 3)

    Não há nada de evangelho, não há nada de Cristo nos discursos e na vida de muitos “ditos” cristãos, pastores, apóstolos, bispos e por ai vai uma heresia hierárquica danada...
    Enquanto muitos “ditos” levam o nome de Deus a escândalo, somos surpreendidos por pessoas que mesmo despidas da “rotulação gospel” têm inspirações – diria que divinas – que nos “beliscam” a alma e o intelecto.

    Bela crítica

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  6. Alguém outro dia me perguntou sobre a razão de eu ter esse blog, se tenho tantas outras coisas a fazer e outros lugares para enviar textos, Raquel.
    Hoje eu encontrei a resposta; por causa de reflexões como essa que você postou como comentário ao meu texto. Eu escrevo por causa disso.
    Um beijo carinhoso.

    liberdade, beleza e Graça...

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  7. Minha velha, tu não vale o dinheiro do arroz!! rsrsrsrs
    há braços, cara.

    liberdade, beleza e Graça...

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  8. Olá, tudo bem?

    Eu queria fazer só uam pergunta:

    O QUE É TEOPOÉTICA?

    vejo0 que vc usa este termo com tranquilidade, e naturalidade, mas este conceito é mistério para mim, inclusive tento/pretendo responder essa pergunta em minha monografia.
    E por isso, sua resposta terá grande valor para mim

    se puder for me responder, coloquei aqui a opção de acompanhamento pelo meu email, por via de dúvidas: priscaguerra@gmail.com
    ou
    http://theopoetique.blogspot.com/

    bjo.............vlw

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