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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

"Sobre o meu grande amigo Guilherme e sobre a grande tia Zélia"

Escrevo esse texto chorando. Coração arrebentado. Inconsolável. Hoje eu não sou nem pastor, pois não tenho como confortar ninguém. E, como no Salmo 77, minha alma recusa consolo.
Escrevi sobre o caso João Hélio um dia desses. Na ocasião, defendi que às vezes a situação de violência não nos afeta tanto, pois, como cariocas - e brasileiros como um todo -, temos a nossa sensibilidade mortificada a cada dia, e só sofremos duramente as mazelas que atingem a nossa sociedade quando o caso é perto de nós.
Essa semana o caso foi perto de mim. Assaltantes entraram na casa de um grande amigo meu; Guilherme, estudante brilhante de História, aluno em minha sala duas vezes por semana. Amigo de longas conversas nos corredores da Universidade - tinha uma curiosidade fascinante por Teologia, o que me deixava por vezes sem almoço, mas feliz, por tentar responder. Guilherme tinha ouvidos dos melhores. Sabia escutar. Sabia falar. Sabia escrever. Sabia fazer sorrir. Hoje, sem querer, e infelizmente, mostrou que sabe também fazer chorar.
O Guilherme foi assassinado brutalmente no assalto à sua casa, na segunda-feira última. A gente teria aula juntos na terça e na quinta. Não as teremos. Com a presença do Guilherme, não as teremos nunca mais.
Na madrugada de terça, faleceu a tia Zélia; senhora prestativa que sempre ajudou na recepção dos cultos de nossa igreja - durante a semana - e na assistência social da comunidade, enquanto a saúde permitiu. Os dois derrames, a parada cardíaca e a idade de 75 anos, fizeram com que fosse mais fácil aceitarmos tal perda. Fomos perdendo a tia Zélia aos poucos. Aos poucos aceitando o choro. Não teremos mais a tia Zélia, mas sabemos que ela está na portaria do céu, distribuindo folhetos a todos os que chegam para o “Culto do meio-dia celeste”. Conforto.
Quanto ao Guilherme, não há conforto possível. Deus não me tinha preparado previamente. Não havia nenhum sinal.
Penso sempre, em relação aos assaltantes, que não existem motivos para atirar. Era só levar tudo e deixar a paz voltar. O que a gente perde, a gente compra de volta um dia. “Pode levar, moço, pode levar tudo!”.
Meu amigo lia todos os meus textos. Tinha excelentes críticas a respeito. Ponderava sempre. Ajudava demais. Eu mudava os textos por causa dele. Opinião precisa. Sábia. Sábio.
No dia do meu concílio e ordenação ao Ministério Pastoral, um dos mais importantes da minha vida, lá estava o Guilherme, marcando presença em uma data em que muitos dos meus familiares e amigos não compareceram. Foi o primeiro a chegar. Chegou antes de mim até. Ficou, como sempre, ao lado do Luis Carlos, outro grande amigo que chora muito nesse momento de dor incessante.
Um dia mandei-lhe um sermão meu na íntegra. “O mal do século”, baseado no Salmo 77, da Bíblia Sagrada - ele respeitava o fato dela ser sagrada para mim. Acabou por tornar-se sagrada também para ele, uma vez que todos os meus argumentos baseados nela, eram sempre bem aceitos por meu grande e compreensivo amigo.
O Salmo 77 fala sobre um conforto que precisa vir, mas não vem. Fala de uma tristeza infinda. Fala de mim. De nós os que sofremos pela perda do amigo. Hoje o Guilherme não precisa do Salmo, pois Deus o conforta com os próprios braços. Eu preciso do Salmo. Li-o. Novamente o leio. Espero para mim o conforto que o salmista recebeu ao se lembrar dos feitos do Senhor. Sei que a alegria virá. Eu conheço Deus. Eu acredito em Jesus.
Eu escreveria sobre o Renan Calheiros essa semana, mas, perto do Guilherme e da tia Zélia, eu o conheço como nada.

liberdade, beleza e Graça...

3 comentários:

Cristiano Cardoso disse...

Cleinton, foi por intermedio do seu blog que soube do ocorrido com meu colega Guilherme. Um grande tristeza tomou conta de mim agora! Ao Guilherme somente tenho que agradescer por todas as nossas conversas.......................................................

Anônimo disse...

A gente é tão sensível pra vida, não é mesmo?
Sempre, quando tudo nos vai bem, pensamos que podemos ir além de nós mesmos e fazer tudo acima de nossa capacidade e limite.

Cara, que o Espírito Santo, Consolador nosso, o cubra de Sua Gloriosa presença.

NA GRAÇA, QUE SEMPRE É MELHOR DO QUE A VIDA
LELLIS

Anônimo disse...

cara
sua dor é nossa dor
sentimos com vc a perda do amigo
abração fraterno
Em Cristo