Quem sou eu

Minha foto
Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

"Paulo Freire, o energúmeno e as verdadeiras hienas"

Segundo o dicionário da Língua Portuguesa, energúmeno é um ser possuído pelo demônio, um indivíduo possesso, podendo significar também, no sentido figurado informal, um indivíduo ignorante, boçal, imbecil. E foi com o termo energúmeno que o presidente Jair Bolsonaro se referiu ao educador Paulo Freire, uma das figuras mais respeitadas no mundo todo pelo seu método educacional, que consiste em ensinar a partir das vivências e dos materiais à disposição no cotidiano dos estudantes, quase sempre  não tendo estes material tradicional para a aprendizagem.  

É claro que, vindo de Jair Bolsonaro, tal ofensa não tem nenhum poder de se apresentar como surpresa, uma vez que o presidente já se mostrou totalmente inábil para o cargo, provando que não tem qualquer outra intenção, senão o confronto ideológico com um tal de comunismo que nem ele consegue mostrar o que é, já que enxerga comunismo na Argentina, no México e na Venezuela, mas não o enxerga na China, onde há inclusive o partido estatal, e único, o Partido Comunista Chinês. Para Bolsonaro, que foi instado a responder sobre a razão de não se afastar da China e nem criticá-la, como faz com outros "comunistas menores", a China não é comunista. Como o país asiático é nosso maior parceiro comercial, a leitura bolsonariana muda de estratégia e não aceita que a China seja comunista, ainda que a mesma afirme o comunismo seu de cada dia. 

O que assusta, todavia, voltando à frase motivadora desse escrito, é que, ao chamar o "comunista" Paulo Freire de ignorante e imbecil, o presidente encontrou eco, em risos e aplausos, em um grupo que diuturnamente o espera em frente ao Palácio da Alvorada, com o intuito de tirar uma selfie e ouvir algum novo mantra do "mito", que sempre tem uma frase de efeito para motivar um grupo que está disposto até a desfilar e bater continência em frente à estátua da liberdade na entrada das lojas Havan. Sem ter qualquer noção de quem foi Paulo Freire e do tamanho de mais uma asneira cometida por Bolsonaro, tal grupo de apoiadores se comporta como um bando de hienas, comendo a merda (que sai da boca do "mito") e ao mesmo tempo rindo do "boçal" educador Paulo Freire.

Noutra frente, mas na mesma direção, um vereador de Salvador, Alexandre Aleluia (DEM), apresentou projeto de lei que retira o nome de Paulo Freire de uma escola municipal da capital baiana, alterando o nome do colégio para José Bonifácio, em homenagem ao patriarca da independência do Brasil. Não se sabe ainda se haverá reação das famílias dos 264 alunos da escola, que fica no bairro Arraial do Retiro, periferia de Salvador, mas já se sabe que a perseguição ideológica bolsonarista não parará tão cedo e tende a piorar as relações humanas dentro do país, bem como a imagem internacional do Brasil, sempre tão respeitado por ter indivíduos como Paulo Freire.

Não tenho esperanças de que Jair Bolsonaro possa um dia gozar plenamente do que é considerado sanidade mental, mas, olhando atentamente para o dicionário, tenho agora a plena convicção de que estamos sendo governados por um ser que não é apenas boçal, imbecil e ignorante, mas alguém possuído, possesso. A grande crise que se estabelece é que os maiores especialistas em expulsar o mal e livrar as pessoas da possessão são os evangélicos, que, ao fim e ao cabo, são aqueles que mais estão atiçando e fortalecendo os demônios do "mito".

liberdade, beleza e Graça...