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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

"Para uma mídia de direita, um governo de esquerda"

Pouco se discute democracia no Brasil, pelo menos conceitualmente. Infelizmente, são poucas as pessoas que entendem democracia para além do conhecido modelo de governo que preza pelo voto universal e pela atenção à escolha da maioria. Mas é interessante lembrar que, nascida na Grécia Antiga, a ideia de governo do "demos" (o povo) não era nem de longe o que se pensa e experimenta hoje em dia, pois naquela época a democracia era assim chamada, mas não aceitava o direito de todos votarem, já que poucos eram considerados cidadãos, título dado àqueles que tinham direito ao voto, algo que só proprietários de terras e de escravos experimentavam. 

A democracia, então, é uma ideia que sempre esteve em processo de desenvolvimento ou, como querem alguns, aperfeiçoamento. Deste modo, o conceito está cada vez mais distante da simplificada ideia de sufrágio universal e da escolha da maioria, já que o mesmo cada vez mais ganha novas facetas, incluindo ideias como a participação de todos - incluindo as mulheres, que nem sempre votaram - bem como a ideia de alternância no poder, o direito ao arrependimento pela escolha feita, os direitos das minorias e os chamados direitos difusos, que são aqueles que ultrapassam a esfera individual e que, por isso mesmo, são mais difíceis de ser mensurados, já que abarcam temas como o direito de respirar ar puro, o direito a um meio ambiente equilibrado etc.

No intuito de aperfeiçoar a democracia, uma das ideias é a já citada alternância no poder. É saudável para o aperfeiçoamento deste que é chamado de "o modelo de governo menos pior" a troca de governantes, já que a perpetuação de um partido ou líder no poder pode levar - e isso constantemente aconteceu na história - a uma ditadura, eivada de autoritarismos, totalitarismos etc. A alternância no poder, então, é benéfica, pois ficam os partidos da oposição no papel de fiscalizar o que está no poder, prestando um relevante serviço à população, o "demos votante", que sempre precisará de quem o defenda de possíveis tiranias. 

No caso do Brasil redemocratizado, todavia, o papel da oposição sempre foi permeado pela influência daquele que é chamado de "o quarto poder", a saber, a mídia. Posicionando-se num espaço conservador, já que quem detém o poder sempre desejará conversá-lo, não permitindo que outros possam também chegar a possuir, a mídia brasileira - pelo menos os grandes e mais conhecidos meios de comunicação - transformou-se em uma espécie de partido político, pautando o que deve e o que não deve acontecer, bem como lançando os vieses que mais lhes interessam, "trabalhando as informações" que devem chegar à população. 

Portanto, a preciosa ideia de alternância no poder, uma das bases para o aperfeiçoamento da democracia, perde força, já que a mídia, comportando-se não como um canal isento de informações, mas como um partido conservador, transforma tal ideia em algo extremamente obsoleto. Exemplo clássico disso é a atual omissão de notícias positivas sobre a situação da candidata Dilma Rousseff, a quem só é dado espaço midiático quando a notícia lhe é desfavorável, acontecendo justamente o contrário com o candidato preferido pela mídia e pelo mercado financeiro, Aécio Neves (para mais informações, sugiro o acesso ao "Manchetômetro", do Instituto de Estudos Sociais e Políticos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, um importante instrumento para a evitação de tal manipulação midiática).

No intuito, pois, de buscar a fiscalização e o acompanhamento das atividades do governo, a fim de que suas posturas sejam de perto monitoradas, se torna mais lógica e democrática uma continuidade da gestão Dilma Rousseff, já que dela a grande mídia se tornou uma atenta fiscal (o que é bom, pois sem isso não se prende os corruptos e nem se fomenta a luta por melhorias, algo que os partidos de oposição não têm conseguido fazer). A fim de se buscar confirmação para tal tese, é muitíssimo interessante perceber a grande mídia se postando como adversária ferrenha de Dilma, o que poderá ser referendado pelas excelentes e democráticas contribuições do "Manchetômetro". Por tudo isso, então, se a mídia é de direita e conservadora, o partido a governar tem de ser de esquerda e progressista - valendo o mesmo para a relação mídia de esquerda/governo de direita - o que contribuirá muito mais para o aperfeiçoamento daquele que ainda é o melhor sistema de governo, a saber, a democracia. Eu voto 13.

liberdade, beleza e Graça...