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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

domingo, 20 de outubro de 2013

"Fique tranquilo, racista, negros e negras desaparecem logo!"

Há uma semana, o IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas publicou um estudo sobre a desigualdade social no Brasil, abordando a questão racial, e tendo como mote principal a diferença entre negros e não-negros na questão da expectativa de vida. Embora seja um estudo da maior importância para se pensar a nação e se ratificar ou retificar várias das políticas públicas que clamam por atenção no momento, é curioso perceber que os grandes jornais do eixo Rio-São Paulo (talvez o mais incisivo na formação de opinião, visto que representa o lócus onde a maior parte do dinheiro da nação circula) praticamente ignoraram tal contribuição daquele importante instituto de pesquisas.

Segundo o IPEA, os jovens negros têm menos da metade da expectativa de vida que os jovens brancos, sendo os negros discriminados duas vezes: pela condição social e pela cor da pele. O mesmo estudo aponta que mais de 60 mil pessoas são assassinadas por ano no Brasil, sendo que dois terços disso se referem a pessoas de cor, o que nos faz pensar sobre a relevância das políticas públicas de cunho reparatório ou igualitarista, tão criticadas por uma gama de atores sociais que teimam em achar que são os detentores únicos da formação da opinião pública. 

O mais curioso e assustador retrato que o estudo do IPEA nos traz diz respeito ao controle da variável renda. Para aqueles que sempre defenderam que "o que importa é ter dinheiro, e não ser branco ou preto", o estudo mostra que, independentemente da renda ou do gênero, os brasileiros negros (pretos e pardos) têm quase oito vezes mais possibilidades de morrer vitimados por homicídios do que as pessoas não-negras. Na comparação de dois universos, a fim de se evitar os desvios e interpretações de cunho ideológico que podem sempre surgir, o IPEA trabalhou com 96 milhões de pretos e pardos e 94 milhões de não-negros.

O que o estudo traz de mais relevante é a questão do chamado racismo institucional, que, andando lado a lado com o chamado racismo estrutural, referenda uma nação que não abre portas significativas para a mobilidade social e para o bem-estar de pretos e pardos. Justamente por não acreditarem nas instituições e na estrutura social que os deveria tratar como iguais, o estudo aqui analisado mostra que, mesmo sendo as grandes vítimas da violência que nos assola, os negros não a denunciam, já que não acreditam nas instituições que os deveriam defender e têm medo do resultado já esperado de suas queixas em uma estrutura racista: represálias sem tamanho e sem fim. Por conta disso, segundo o IPEA, os pretos e pardos da nação começam a corrida pela sobrevivência já com uma expectativa de vida 114% menor do que a dos não-negros.

Se existe algo de positivo no estudo, esse algo é a questão do suicídio, que entre os negros é menor do que entre os não-negros, isto é, apesar de terem menos possibilidades, os pretos e pardos dão mais valor à pouca e desgraçada vida que têm. Como a maioria dos brasileiros é composta por gente preta e parda, vai ver deve ser isso; mesmo vivendo desgraçadamente, o brasileiro não desiste nunca!

liberdade, beleza e Graça...