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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

"Armai-vos uns aos outros"

Vendo dia desses uma manifestação em defesa do governo Bolsonaro, uma camiseta me chamou a atenção e me fez pensar profundamente sobre o estado de coisas atual, pensar sobre o lugar em que nos metemos enquanto famílias, cristãos, cidadãos etc. Isso porque a camiseta trazia o presidente fazendo o seu tradicional sinal de "arminha" e a frase que vinha abaixo era simplesmente chocante: "armai-vos uns aos outros", fazendo alusão a um texto bíblico bastante conhecido, o "amai-vos uns aos outros".

Confesso que essa sentença bolsonarista foi a segunda frase mais chocante que li nos últimos anos, sendo a primeira a de uma placa de papelão levantada em um semáforo por uma pessoa até bem vestida que dizia: "estou com fome". Eu nunca tinha visto alguém bem vestido dizer que estava com fome e, como era por volta de 14 horas, imaginei que o estômago daquele cidadão deveria estar já bem dolorido, pois sei como é ficar sem comer, visto que já tive também a experiência da fome. Ajudei.

Mas o foco agora é a frase da camiseta do manifestante bolsonarista. Pensei por muitos dias e decidi que talvez fosse interessante comprar uma camiseta daquelas e voltar a frequentar a igreja. Isso porque eu gostaria de olhar nos olhos das pessoas (e a igreja que eu frequentava tem em torno de 80% de bolsonaristas), no intuito de ver se alguma reflexão poderia surgir. Pensei que talvez a frase, sendo bem (re)lida e pensada, pudesse trazer à tona uma saída do surto, da catarse em que a igreja evangélica se meteu com esse governo, e que as pessoas pudessem, enfim, dizer: "cara, pensando bem, que burrada é essa? Onde nos metemos com esse apoio insano?

Isso porque uma reflexão detida acerca da frase obviamente deveria nos fazer sempre pensar sobre o que fizemos do Evangelho, da ética cristã, do amor expresso no Cristo Nazareno e da solidariedade que Jesus teimou em nos inspirar a viver. Perceber que trocamos a paz pela guerra, o amor pelo ódio e a solidariedade pelo individualismo e a violência contra o próximo, bem como perceber que anos atrás a gente não se odiava dentro da própria igreja, talvez isso nos faria perceber a furada em que nos metemos, ouvindo líderes como Silas Malafaia, que nem de longe deveria ser exemplo de vida cristã. 

O "armai-vos uns aos outros" é a síntese a explicar a maior parte da igreja evangélica brasileira, igreja da qual resolvi não mais participar, já que, independentemente das perdas sociais que tenho tido, ainda vale muito mais a pena ficar com a fala de Jesus, a "amai-vos uns aos outros", frase já banalizada e até esquecida pelos cristãos de hoje, tão impregnados pelo ódio que a família Bolsonaro e seus seguidores milicianos nos relegaram. Que Deus tenha piedade de nós e nos livre desse mal.

liberdade, beleza e Graça...