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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

"O bolsonarismo tem um ENEM para chamar de seu"

Todos sabemos que a universidade brasileira durante décadas foi um lugar de privilégios, de privilegiados. Como diziam as famílias pobres, sobretudo as de negros e negras, "aquilo não é pra gente; é só olhar e ver que na nossa família ninguém fez faculdade". Embora isso tenha perdurado por muitas décadas, eis que políticas públicas de inclusão colocaram pobres e negros nas universidades, em especial através das chamadas ações afirmativas, onde se incluem as cotas universitárias. 

O tempo passou e eis que surge no Brasil um outro tipo de retrocesso. O ENEM 2020/21 foi um retorno ao status de privilégio para poucos que tinha antigamente a universidade. Isso porque a universidade pública quase sempre foi espaço para quem tinha ensino básico privado, isto é, quem tinha dinheiro para pagar escola de base não precisaria pagar a universidade, restando aos pobres a dificuldade de pagar por faculdades privadas, quase sempre desprovidas de pesquisa e extensão, estando focadas apenas em um ensino, de qualidade até duvidosa, e uma leitura de educação como negócio e lucro. 

Com a postura demonstrada no ano de 2020, o governo federal simplesmente ignorou o ensino público e os concorrentes desse segmento entraram no ENEM (os que entraram, pois a abstenção foi recorde) em situação de clara desvantagem, visto que faltou equipamento e pacote de dados de internet para um sem número de adolescentes e jovens de comunidades mais carentes, o que fez com que o ENEM e, consequentemente, a universidade pública voltassem a ser coisa de rico, coisa sobre a qual os negros e negras, os pobres e periféricos, voltassem a dizer "não é para nós". 

Se houve uma preocupação governamental com isso, é claro que a resposta só pode ser "não; nenhuma". Inclusive o ministro da educação elogiou o "ENEM de rico", alegando que ter mais de 50% de inscritos ausentes nas provas não é problema grande e é até elogiável, dado que estamos enfrentando uma pandemia sem data para acabar. Está correto o ministro e o governo federal sobre a incerteza acerca do final da pandemia, mas é bom que saibam que, se a pandemia não tem data para terminar, o atual governo tem; 2022 é logo ali.


liberdade, beleza e Graça...