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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

"Discurso sobre a servidão digital voluntária"

No século XVI, e com apenas 18 anos de idade, Etienne de La Boétie publica o Discurso sobre a servidão voluntária. Nesta obra exemplar, o autor defende a liberdade e a igualdade de todos os seres humanos na dimensão política, evidencia, pela primeira vez na história, a força da opinião pública, repele todas as formas de demagogia e envereda pioneiramente por aquela que mais tarde ficaria conhecida como a Psicologia de massas, apresentando a irracionalidade da servidão dos povos.
Como se pode ver, já a partir do título provocativo do Discurso, a servidão é indicada como uma espécie de vício, de doença coletiva. Mesmo assim, e com muito tempo vivido e muita ciência experimentada desde o aparecimento da obra de La Boétie, novas formas de servidão voluntária foram se apresentando. Algumas bem interessantes - e até mesmo contagiantes - como é o caso da servidão digital, tão fortemente vivenciada neste início de século XXI.
No novo modo de servidão, não é raro ouvirmos frases do tipo: "Mas você não está no Facebook?!"; "Todo mundo tem Orkut!"; "Tuitei por horas e horas ontem"; "É só me visitar no Myspace!". É como se todos tivéssemos a obrigação de ter essas bugigangas digitais, que só nos afastam uns dos outros, embora sejam chamadas de "sites de relacionamentos".
Entre uma novidade e outra, vamos enveredando por um terreno que, embora pareça fácil e dominado, apresenta uma série de problemas a serem pensados. Um deles é a fragilidade das relações que passamos a vivenciar. Se criticávamos a monetarização das relações sociais, com o advento da modernidade, agora somos vítimas da virtualização das mesmas relações, na chamada pós-modernidade.
Para piorar a situação que agora experimentamos, não é raro ouvirmos sobre pessoas que mandam recados para si mesmas, a fim de se sentirem importantes para alguém, ou contam os milhares de recados recebidos a fim de recalcarem a solidão que sentem, desafiando o telefone que teima em não tocar com a proposta para um papo de final de tarde.
Agora, triste mesmo é frequentar um espetáculo lotado de escravos digitais. O que jamais se imaginava que pudesse acontecer, tristemente aconteceu; agora o sujeito não mais assiste ao espetáculo, não curte o seu conjunto ou músico favorito. O negócio é perder o ao vivo e ficar como idiota segurando um celular na mão, gravando o show para postar depois nessas chamadas redes sociais. O lance é provar a presença no evento com um "olhem aqui a prova; eu fui!". Na verdade, o sujeito não foi a lugar algum; não viu o seu artista favorito, pois estava preocupado em "provar" que viu!
Os escravos digitais se contentam com a imagem e perdem a presença; se contentam com um recado virtual e perdem a potência insuperável de um encontro humano. A chamada pós-modernidade é isso: estamos nos perdendo uns dos outros e, para piorar, estamos achando isso "o máximo; a última moda"! Parafraseando a máxima de um comercial televisivo, nossa nova postura confirma que presença não é nada; imagem é tudo!

liberdade, beleza e Graça...