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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

"A demonização da política é o que a extrema-direita quer"

É sempre muito difícil separar a política dos políticos, sobretudo em um país com pouca educação formal e alto índice de analfabetismo funcional, o que contribui muito para que essa confusão afaste as pessoas daquilo que é o mais importante na formação cidadã de um povo, a saber, a formação política. Ademais, outro grande problema é que a sucessão de conquistas que culminou com o que temos como democracia hoje é pouco percebida como processo por muitos, que acabam, em momentos de crise institucional e política, como a vivida agora, querendo que tudo seja derrubado e que voltemos à estaca zero, construindo um novo modelo de governança.

É exatamente por isso que discursos reducionistas e de retrocesso ganham tanto vulto, como têm ganhado as falas de pessoas como o deputado Jair Bolsonaro, candidato declarado à presidência do Brasil. Esquecendo-se das muitas - e até sangrentas - lutas pelos direitos dos mais variados grupos sociais, muitas pessoas pensam que o melhor é "acabar com tudo e começar do zero". Porém, começar do zero, como se pode ver nos discursos, e até em práticas de muitos, significa jogar no lixo uma imensa gama de direitos conquistados. Só no nível do exemplo, é difícil aceitar a condição da mulher idealizada por Bolsonaro, já que este, ao falar sobre os filhos que tem, afirmou em entrevista que "os primeiros são homens, mas, depois, após uma 'fraquejada', veio mulher".

Sem ganhar a atenção social que merece, o que está escondido nessa postura que agora se nos apresenta é um processo de demonização da política verdadeiramente democrática, sendo que se deveria demonizar é algumas figuras da política, já que, ao tratar a política como algo ruim, abre-se espaços para que discursos e práticas que não versam sobre a coisa pública tomem lugar de destaque, trazendo à tona uma cosmovisão muito recortada, localizada e, até por isso, nada inclusiva. Mas o foco é outro; se conseguirem fazer com que se confunda a política com os políticos, ninguém que já está há tempos tentando, aos trancos e barrancos, incluir os excluídos e alterar substancialmente a estrutura desigual da nação poderá galgar um novo degrau, visto que tudo o que foi conquistado será tratado como fútil, como percebe bem o sociólogo Albert Hirschman, ao falar sobre o caráter de futilidade dado pelos donos do poder às lutas dos mais variados grupos sociais. 

Assim, caro leitor, tenha certeza de uma coisa: toda vez que alguém defender que "todo político é igual" e que "não vale a pena votar", já que "tudo vai continuar como sempre foi", será preciso lembrar a tal pessoa de que tudo o que é hoje não tem quase nada a ver com o que foi, em termos de direitos, o que por si só já referenda a luta por mais espaços, algo que algumas figuras políticas teimam em nos negar, já que, se a política (na verdade, muitos políticos) não conseguiu dar conta do recado, um retrocesso a um tempo militarizado (considerado por eles como melhor, pois "as coisas funcionavam e havia ordem") pode ser pensado, inclusive em termos de militarização da educação, algo proposto por Bolsonaro. O contrário disso? Sair novamente às ruas e acreditar, sem medo, que já se caminhou muito em termos democráticos para retroceder e temer continuar a luta. Afinal, para um povo que teve a coragem para enfrentar tantas intempéries como as que já enfrentamos, o medo deve ser lançado para muito longe, referendando a tese de que Temer é realmente inaceitável.

liberdade, beleza e Graça...