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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

"A PEC 55 e os 200 anos em dois"

A Coreia do Sul, há quase 40 anos, decidiu que a educação seria prioridade, e que isso faria daquela nação uma potência econômica e tecnológica. Os anos se passaram e o investimento feito por aquela nação redundou em marcas e patentes que agora invadem o mundo, conquistando a confiança dos mais variados mercados, incluindo o brasileiro, que agora elogia produtos e marcas sul coreanas, como é o caso da Hyundai, uma das marcas de veículos mais vendidas no Brasil, e da Samsung e da LG, marcas de eletrônicos também muitíssimo respeitadas por essas terras e mundo afora.

Com tal investimento, o PIB per capta subiu de 100 dólares no final dos anos 1960 para quase 10 mil dólares em 2002, mostrando que a escolha da Coreia do Sul, país que não queria mais ser subserviente em termos de marcas, patentes e tecnologias, estava correta, já que as marcas sul coreanas de eletrônicos citadas acima ultrapassaram a conhecida Sony, algo impensado antes do investimento da nação asiática. É a educação mostrando os rumos de uma nova potência que surgiu. 

Aqui no Brasil a coisa anda no sentido inverso: ao invés de 40 anos de investimento, serão 20 de cortes, já que atualmente o país entende educação como gasto, o que o fará congelar, pela vontade do presidente Michel Temer, grande parte do que se investiria em educação e saúde nas próximas duas décadas. É claro que tal medida não vem por intermédio de uma consulta popular ou votação em plenário de Câmara e Senado - se é que tais casas fazem grande diferença hoje - mas como Proposta de Emenda Constitucional, o que a faz ser uma lei de cima para baixo, autoritária de início ao fim.

O governo não levou em consideração os estudos feitos pelo IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, que mostram um empobrecimento da população sem precedentes para os próximos 20 anos, dado o alcance que tal PEC terá na vida dos brasileiros e brasileiras, sobretudo os das classes mais baixas. Ademais, com a população vivendo mais, o caos no sistema de saúde, que já é de dar vergonha, será muitas vezes multiplicado, como mostram os estudos do instituto supracitado. O salário mínimo, seguindo a lógica da tal nova lei, terá perda real que, se pensássemos em tal medida 20 anos atrás, teríamos hoje uma renda mensal mínima que não chegaria a 500 reais, como mostra o mesmo estudo.

Sem exageros e sem conotação político-partidária, podemos ver que, com um governo voltado para o empresariado, e reduzindo direitos trabalhistas e sociais nessa magnitude, caminhamos a passos largos para transformar o Brasil em um dos países mais pobres do mundo, afastando-nos definitivamente da Coreia do Sul e nos aproximando de países como Serra Leoa e Haiti, sem desmerecer as dificuldades e lutas pelas quais esses dois últimos passaram. Por isso, podemos afirmar com certeza que, se Juscelino queria fazer 50 anos em cinco, Temer pretende 200 em dois. Sim, se a lógica se estabelecer, serão necessários uns 200 anos para se reconquistar o que em 2 já começamos a perder. É um mandato curto, é verdade, mas os efeitos poderão ser seculares, pois, embora ainda não pareça, o Haiti, dentro de 20 anos, será mesmo aqui, o que nos dá já hoje grandes razões para Temer.

liberdade, beleza e Graça...