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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

"E o juiz Moro prova agora que sempre foi um político"

O futuro ministro da justiça, o ex-juiz federal Sérgio Moro, ainda que demonstre desconforto quando alguém toca no assunto, durante muito tempo tem se apresentado como um político ou, na pior das hipóteses, e em termos filosóficos, como um cínico. Moro é daquelas figuras que agem de uma maneira e, sendo esta maneira criticada, por ser antiética, sempre têm uma justificativa que parece merecedora de compreensão popular, sendo que não deveria, pois o mesmo não acontece, por exemplo, com figuras que estão no lado oposto do espectro político em que se alocou o ex-juiz federal. 

Moro é daquele que faz algo ilegal e depois pede desculpas, recebendo a mesma - ou entendendo que a recebeu, visto que não tem havido cobrança forte em relação à sua figura -, muito por conta de ser uma figura contra a qual muitos têm evitado se colocar, já que seria como que confrontar o paladino da justiça brasileira e da luta contra a corrupção na nação, luta que tem, erroneamente, sido apresentada como inexistente antes da operação protagonizada pelo ex-juiz, o que nem de longe é verdade, visto que sempre tivemos muitas pessoas sérias e competentes nos órgãos de controle e vigilância no país, só que não pessoas tão midiáticas como tem se mostrado o futuro ministro da justiça.

Embora negue peremptoriamente, Sérgio Moro agiu como político em várias ocasiões nos últimos tempos, chegando ao posto de principal figura na Operação Lava Jato, grande responsável pelos resultados das eleições desse 2018, quando figuras com discursos anticorrupção e pela segurança pública, sobretudo policiais e membros das forças armadas, transformaram o Congresso Nacional em um espaço repleto de militares e defensores de atitudes belicistas e até contrárias aos direitos humanos, visto que muitos os tratam como "direitos dos manos", isto é, de bandidos, o que é uma falácia muitíssimo grave, pois atrela, "por tabela", a pobreza à criminalidade.  

Enquanto politico (ainda que estivesse ocupando o cargo de juiz federal, e não podendo em hipótese alguma ser parcial e agir politicamente), Moro desrespeitou a Constituição Federal, gravando ilegalmente a presidente da República, Dilma Rousseff, e ainda agravando tal postura ao entregar os áudios para serem divulgados em cadeia nacional no telejornal de maior audiência no país. Para piorar, ao ser confrontado pelo Supremo Tribunal Federal, como agindo politicamente e contra a Carta Magna da nação, o ex-juiz e futuro ministro da justiça afirmou que "apenas um dos ministros se manifestou contrariamente", afirmando ulteriormente que respeitava muitíssimo a Suprema Corte e que "não quis ofender ninguém". Não recebeu nada do Supremo que o fizesse justificado, mas, para um cínico, é como se isso já tivesse acontecido, pois "quem cala, consente", e o Supremo calou-se.

Para além disso, Moro liberou partes do depoimento do ex-ministro Antônio Palocci, do Partido dos Trabalhadores, sendo que o fez justamente na semana de decisão eleitoral, num ato que até a classe dos magistrados entendeu como flagrante interferência no processo eleitoral brasileiro, algo que jamais poderia ser feito por alguém que se pretende, e se deveria, imparcial. Ademais, Sérgio Moro, muito rapidamente após ter influenciado a eleição presidencial, e sem respeitar qualquer quarentena, aceitou ser ministro da justiça, sendo que, num ato de privilégio que os demais brasileiros não têm, saiu em férias - e de dois meses, mesmo tendo gozado férias muito recentemente -, no intuito de não perder as benesses de juiz federal enquanto não fosse oficializado como ministro de Estado. Tão logo percebeu que até a classe jurídica o tinha percebido como político, voltou atrás e pediu exoneração do cargo público, colocando-se oficialmente como político, função que nunca deixou de exercer enquanto chefe da operação que o catapultou à condição de ministro e, segundo já cogitam alguns, futuro presidente da República. 

Como um dos primeiros atos enquanto integrante da equipe de transição do novo governo, Sérgio Moro nomeou uma de suas mais fortes aliadas, a juíza Erika Marena, responsável pela acusação que levou ao suicídio do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier. Marena, que condenou o reitor sem conseguir provas, também não é dada à aceitação de críticas, já que, ao ser responsabilizada publicamente por levar Cancellier ao suicídio, resolveu processar aqueles que contra ela se colocaram, algo que só mesmo uma ditadura justifica, além, claro, do colega Sérgio Moro, que, ao comentar o caso, só disse que "o que aconteceu foi uma tragédia", mas que Marena "é competente e tem toda a sua confiança". Na mesma direção, ao comentar que teria como colega de equipe ministerial o deputado Onyx Lorenzoni, réu confesso na Operação Lava Jato, Sérgio Moro justificou que "o deputado já admitiu seus erros", o que parece ter concedido a Lorenzoni o indulto que muitos condenados - vários sem provas - não conseguiram, pois se trata de algo que o político Moro jamais permitiria, dado que se trata de seus mais fortes adversários políticos. Vida triste essa de termos, enquanto brasileiros, um Messias no topo e um cínico como puro instrumento de publicidade estatal.  

liberdade, beleza e Graça...