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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

"Quem vai prender o Gilmar Mendes?"

Uma das melhores leituras dos últimos dias foi a entrevista dada pelo delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz à sempre excelente revista Caros Amigos (edição de dezembro de 2008). Sempre indico essa revista aos meus alunos, dizendo que ela é “uma ótima opção para saber mais e ficar mais triste”. O conhecimento das coisas dessa nossa história traz sempre consigo uma boa dose de tristeza. É uma escolha de Sophia essa de saber e se entristecer, ou se alienar, conseguindo assim ser menos triste. É uma sinuca de bico mesmo.
O delegado Protógenes é um daqueles homens raros hoje em dia. Daqueles que parecem ter lido a Bíblia Sagrada e entendido o que é agradar a Deus, refutando a corrupção.
Acreditando em coisas que podem não ser mais valiosas hoje em dia, Queiroz deixou a função de advogado, com a qual estava já ganhando um bom dinheiro, e fez concurso para a Polícia Federal, visando trabalhar em um campo deveras minado; investigar caixa-dois, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e uma série enorme de outros “crimes de colarinho branco”.
Começando pelo Acre, e dando de frente com o ex-deputado Hildebrando Pascoal (o do massacre da serra elétrica, lembra?), e chegando aos criminosos chamados “peixes grandes” no sul e sudeste do país, Protógenes Queiroz investiu numa busca inédita.
O delegado prendeu nada menos do que o contrabandista Law Kim Chong, o Paulo Maluf, o Celso Pitta, o Naji Nahas e muitos outros “acima da lei”, como, finalmente, e com a Operação Satiagraha, o banqueiro Daniel Dantas.
Mas, apesar dessa maravilhosa empreitada em torno de “peixes grandes”, o delegado é que acabou sendo afastado do cargo, acusado de “usar de artifícios ilegais” pelos que defendem o bando acima citado. Protógenes foi afastado do cargo, mas, como descobriram que estava tudo dentro da legalidade, não o puderam expulsar, recolocando-o, numa transferência para um cargo apenas burocrático dentro da PF.
Dentre os mais escabrosos assuntos desse corajoso delegado, aparecem informações que de fato não teriam como não entristecer a qualquer alma viva. A narração do envolvimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na ratificação da invenção da dívida externa brasileira, para beneficiar amigos corruptos, foi de arrepiar os pelos dos ouvidos daqueles que ainda são crédulos em alguma coisa nesse país.
Mas o pior mesmo foi saber que o Daniel Dantas não ficará preso por ter vários “tubarões” nas mãos. Isso, sim, assusta e tira o último fio de esperança de que esse país possa um dia dar certo. Tudo porque o Gilmar Mendes (presidente do Supremo Tribunal Federal), aquele que sempre manda soltar o senhor Dantas (e não sabíamos por que razões até dia desses), também está envolvido até o pescoço em atos de corrupção.
Gilmar Mendes nada mais é do que um empresário que faturou entre os anos de 2000 e 2008 a bagatela de 2 milhões e meio de reais em serviços prestados a órgãos federais, sendo que as contratações foram feitas sem licitação! Isso deu na também excelente revista Carta Capital. O presidente do STF é irmão de Francisco Mendes, o ex-prefeito de Diamantino, cidade próxima a Cuiabá, no Mato Grosso, que ganhou a ajuda do irmão mais velho (o nosso Gilmar) para usar a máquina pública e suas autoridades para a manutenção no poder de uma oligarquia nascida à sombra da ditadura militar. A tal oligarquia Mendes tem, como todas elas, assassinatos e corrupção de toda natureza em seu “currículo”, só que o “mais velho” é simplesmente o presidente do órgão jurídico máximo dessa República de Bruzundangas.
A Caros Amigos e a Carta Capital me abriram mais os olhos e contribuíram ainda mais para o entristecimento da vida minha. Mas prefiro assim; ser triste, mas saber. Embora confesse que para uma pergunta não encontrarei resposta jamais: "Quem vai prender o Gilmar Mendes?".

liberdade, beleza e Graça...