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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

"Os Bolsonaro e o cinismo enquanto doença sem cura"

A última eleição presidencial brasileira tem tudo para se tornar um acontecimento histórico a ser estudado por muitos anos. Isso porque trouxe elementos nunca dantes vistos na nação, elementos esses que mudaram uma lógica e confundiram - e muito - toda a classe intelectual, que não imaginava que as jornadas de 2013 seriam usadas de forma tão genial para transformar praticamente todos os problemas da nação em frutos de um único partido político, a saber, o dos Trabalhadores - PT. 

Se num primeiro momento as manifestações de 2013 eram contra o abuso no aumento das passagens de ônibus em São Paulo, noutro instante se tornou a válvula de escape para todos os problemas brasileiros e, embora pensássemos que a maior emissora de televisão e mais importante formadora de opinião do país, a Rede Globo, perderia espaço na manipulação das mentalidades, uma vez que um dos lemas gritados em palavras de ordem nas ditas manifestações era "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!", isso (ainda) não se deu. Como é sabido, junto ao grito que ecoava ineditamente muito forte e com muito apoio, o movimento chegou a impedir que muitos repórteres da dita emissora conseguissem acompanhar os protestos, chegando alguns a gravar reportagens de cima de prédios ou protegidos por sacadas emprestadas. Mas parou nisso. 

A Globo, como também é já sabido, soube bem contornar a situação, sendo que os protestos, que tinham começado por conta de 20 centavos de aumento da passagem, passaram a ser contra o governo de então, algo que nem o mais alto funcionário da Vênus Platinada pensava conseguir, já que começava ali a construção de um antipetismo que culminaria na eleição de um governo de extrema-direita, o de Jair Bolsonaro, que, entre muitos dos planos já anunciados está a retirada de direitos trabalhistas (mais ainda do que no governo Temer, pois o presidente eleito afirmou que "o trabalho tem de se aproximar da informalidade mesmo"), além de outros retrocessos que só perceberemos melhor quando a pobreza aumentar de forma descontrolada e a desigualdade gerar uma violência que, ironia do destino (?), até trará razão ao presidente, já que a ideia será resolver na bala, algo que é já uma plataforma de governo de Bolsonaro.  

Não é fácil explicar o fenômeno que ocorre hoje no Brasil, mas Alexis de Tocqueville já teorizava sobre a facilidade que governantes têm de retirar direitos em épocas de graves crises econômicas e de insegurança pública. Assim, crendo que a corrupção é algo apenas de políticos (o que não é nem de longe verdade, pois o empresariado brasileiro é muito mais corrupto e gera muito mais prejuízos à nação do que a classe que habita Brasília), e que está atrelada a apenas um partido, o PT, muitos eleitores abriram mão de sua liberdade e de seus direitos pelas promessas de "limpeza do campo político", algo que Jânio Quadros já tinha prometido (sem cumprir, claro), o que lhe fez ser tão messiânico quanto o Messias que agora toma o Planalto. 

Mas apareceu o Queiroz. Quer dizer, desapareceu o Queiroz! Fabrício Queiroz, assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro, deputado estadual filho do presidente eleito, também participava do esquema muito conhecido na Alerj - Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Tal esquema, desenvolvido com volúpia por vários deputados, tinha como foco alocar muitos assessores nos gabinetes, mas retirando-lhes parte dos salários, no intuito de bancar campanhas políticas dos deputados que os empregavam. O Coaf - Conselho de Controle de Atividades Financeiras descobriu que Fabrício Queiroz tinha atividades atípicas, movimentando valores que seriam impossíveis de lhe pertencerem, sendo que tais valores, vindo de outros funcionários do gabinete do Bolsonaro filho, entravam em sua conta justamente na época do recebimento dos salários dos assessores, sendo que ainda não se sabe o destino do dinheiro, já que a investigação apenas começou e o sigilo bancário não foi retirado, o que colocaria tudo em pratos limpos. Da parte dos Bolsonaro, Flávio é inocente, bem como o próprio pai, que teve cheques depositados por Queiroz na conta da esposa, valor que, segundo o presidente eleito, estava "relacionado a uma dívida e que ele erradamente não declarou", o que configura crime.

Como estamos entrando na fase máxima do cinismo tupiniquim, Bolsonaro pai disse que "vai pagar o que deve, caso seja levado a isso", reconhecendo que errou. O que fica difícil de entender é a razão de o presidente eleito não levar a pecha de corrupto, ainda que admita que cometeu corrupção. Não se sabe a razão que o leva a acreditar que os malfeitos de Lula são corrupção e os dele, não; nem o que leva o ex-juiz Sérgio Moro a aceitar a corrupção de seu colega Onyx Lorenzoni, só porque "ele já se arrependeu do que fez", tal como já foi mostrado aqui no blog. 

E o povo? Ah, o povo parece feliz. Tem no governo alguém que pode até ser corrupto, "mas não é do PT". E, "se Jair Bolsonaro é corrupto, com certeza o Lula é mais". "Se o partido e os filhos do presidente eleito são corruptos, com certeza os filhos do Lula e o Partido dos Trabalhadores são mais!". E não adianta tentar discutir com os responsáveis pela eleição do deputado do PSL, pois vão falar que "estão com inveja do mito", que "são viúvas do Lula", que "o país agora vai ser sério" e que "a mamata vai acabar". Não, queridos, nada disso é verdade; a verdade é que teremos muito mais pessoas na pobreza e abaixo da linha da pobreza, pois se trata de um governo para empresários e especuladores financeiros nacionais e internacionais. Como pesquisas mostram que é a desigualdade que gera violência, preparemo-nos para um momento de aumento significativo dos assaltos, roubos, furtos, latrocínios, etc. Mas parece que isso também já está sendo resolvido; teremos armas e resolveremos tudo na bala! Triste país.

liberdade, beleza e Graça...