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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

"Uma eleição obscura e uma saída possível"

O momento político brasileiro é algo de tão estranho e singular que coloca dúvidas na cabeça de qualquer um, já que ninguém hoje é capaz de minimamente dizer o que vai acontecer nas eleições que se aproximam. Isso se justifica pelo fato de o líder nas pesquisas de intenção de voto, Luiz Inácio Lula da Silva, estar preso, o segundo colocado ser o que se pode chamar de "salvador da pátria em tempos de crise", sendo que não consegue esconder suas posições extremamente conservadoras, polêmicas e radicais, além de outros elementos que, por vaidade ou outro fator qualquer, não conseguem fazer contraponto a uma lógica política viciada, o que, se feito, poderia nos oferecer uma plataforma progressista que se mostrasse como unida e relevante para a democracia no país.

Embora o espectro político esteja cada vez mais difícil de ser delimitado, é sabido que estamos diante de uma possibilidade de - vencido o período Temer - retorno à tentativa de se estabelecer um estado de bem-estar social, distribuindo minimamente as oportunidades e gerando um enfrentamento das desigualdades sociais - ainda que tímido, como aconteceu nos governos petistas - ou, por outro lado, um aprofundamento de políticas neoliberais de estado mínimo, privatizações de empresas públicas e retirada de direitos sociais, como já aconteceu com os direitos trabalhistas e poderão agora acontecer com direitos previdenciários, por exemplo. 

Ainda que o argumento falacioso tente mostrar que todos os partidos são iguais e que nada mudará com um ou outro no poder, é importante tentarmos separar posturas e discursos que diferenciam, e muito, uma plataforma política de outra, o que nos coloca em posição de fazer escolhas que se mostrarão completamente diferentes, a depender do candidato e partido escolhidos. Exemplo disso é o enfrentamento do discurso de que "se precisa de um governo de centro, pois o país não pode continuar dividido", como se isso, pensar de forma oposta ao mainstream, fosse um problema, o que não  é, já que é até a base para uma democracia aperfeiçoada, o que todos devemos buscar.  

Torna-se fundamental, pois, escolher, sim, um lado, pois, em um ambiente claro de luta de classes, não se pode tentar engolir em seco uma ideologia que se quer universal, mas que, ao fim e ao cabo, representa pura e simplesmente a vontade de uma classe que há tempos está no topo da pirâmide social, fazendo o possível e o impossível para não ser lá incomodada. Deste modo, se um partido - independentemente de se declarar de direta, centro, centro-esquerda ou o que quer que seja - se mostra favorável à reforma previdenciária e aos imensos prejuízos que a reforma trabalhista já trouxe, como uma taxa histórica de informalidade, queda nos postos de trabalho com carteira assinada e precarização das relações de trabalho, sobretudo com o chamado "contrato de trabalho intermitente",  deve, sim, ser diferenciado de outro que, também a independer da autodeclaração de posicionamento no espectro político, se mostrar contrário às reformas que só têm trazido austeridade e empobrecimento da população, tão espoliada de seus direitos, algo que já tem enfrentado ferrenha oposição em países como França e Argentina, apenas para citar dois dos que já caíram na falácia neoliberal que afirma que "sem tais reformas, o país quebrará". 

Se muitos acham que a única saída é o amargo remédio sugerido por essas políticas neoliberais, que já quebraram e não conseguem tirar da quebradeira a Grécia, e não trouxeram um mínimo de melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores nos países onde foram implantadas, seria muito benéfica uma olhadela para Portugal, quase sempre considerado "o patinho feio da Europa", no intuito de perceber que, na contramão do que sugeriu o FMI, isto é, sem aceitar o amargo remédio imposto pelos "conselhos" da política do Fundo Monetário Internacional, conseguiu sair de uma gravíssima crise econômica, mas sem mexer nos direitos conquistados após centenas de anos pelos seus cidadãos e cidadãs. Todavia, se não querem seguir o exemplo português, já que nem o citam em quaisquer dos grandes meios de comunicação de massa, tal como temos diariamente visto, que ao menos evitem usar Portugal como motivo de chacota e piada, uma vez que burro é aquele que não conhece essa do português.

liberdade, beleza e Graça...