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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

"Quem tem medo do Silas Malafaia?"

Às vésperas de mais uma eleição presidencial, é curioso perceber algo que poucos conseguem enxergar no discurso extremamente autoritário e ameaçador de um dos mais conhecidos líderes religiosos do país, o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia. Dizendo-se eleitor do candidato Pastor Everaldo, no primeiro turno, e da ex-senadora Marina Silva, no segundo, Malafaia ergue a voz dizendo que "é preciso tomar cuidado com o voto dos 22 milhões de evangélicos do Brasil". Todavia, ao contrário do que quer tal líder - e também do que acreditam os que nele enxergam crédito - o poder do chamado voto religioso, sobretudo o evangélico, é praticamente nulo numa eleição majoritária.

Analisando dados de dois institutos de pesquisa acerca da eleição presidencial de 2010, onde o discurso religioso estava ainda mais forte do que no atual pleito, foi possível perceber que o peso do voto religioso é muito mais qualitativo do que quantitativo. Isso se refere ao fato de que, ao contrário do que quer o discurso de sua liderança, a força numérica do voto religioso praticamente não se faz notar, ainda que qualitativamente se deve ter uma grande habilidade em lidar com questões religiosas, já que a preocupação deverá ser sempre a evitação do chamado "fato político". Um fato político, sim, pode mudar radicalmente uma eleição, visto que este, em se tratando de religião, mexe com aquilo que o teólogo e psicólogo Edson Fernando de Almeida chama de "a caixa preta do indivíduo".

Geraria um fato político se um dos presidenciáveis dissesse que é ateu, por exemplo, ou se decidisse chutar uma santa ou algo que se assemelhasse a isso. Sendo ateu, mas não confessando tal situação - sobretudo se preferir autodeclarar-se "católico", como a maioria - um candidato não correrá o risco de ter a religião como fator a lhe atrapalhar a eleição, independentemente de qual religião "confessar", já que o importante é "acreditar em Deus". Em termos quantitativos, no entanto, os números de 2010 mostram que menos de 2% dos eleitores que se confessaram seguidores de alguma religião declararam seguir a indicação política do seu líder ou igreja. Assim, cai por terra a retórica reacionária da "ameaça malafaiana", uma vez que já é possível perceber que o discurso de tão carismático líder não consegue contagiar os 22 milhões de eleitores que ele pensa controlar.

Seguindo a teoria de Albert Hirschman, o que faz Silas Malafaia é lançar mão da chamada retórica reacionária da intransigência, que se divide, segundo aquele autor, em três tipos: a retórica da perversidade, aquela onde o discurso "progressista" na verdade só busca mudar aquilo que é conveniente aos detentores do poder, a retórica da futilidade, que é aquela que defende que uma mudança não servirá para nada e que é melhor manter o atual estado de coisas, e a retórica da ameaça, onde se planta o medo de que uma luta por direitos poderá fazer perder até o pouco que já se conquistou.

Malafaia traz a perversidade, pois seu discurso não tem nada de progressista e, ao contrário, só referenda a conveniência dos donos dos meios de comunicação e de uma direita conservadora e preconceituosa. Malafaia traz a futilidade, pois entende que não adianta de nada o "barulho" feito por um bando de "ditadores gays", pois, ao fim e ao cabo, "Deus vai mostrar quem está com a verdade". Malafaia traz a ameaça, pois chega a afirmar que as conquistas sociais já alcançadas podem ser perdidas por conta de uma desobediência ao que ele acha ser "a única verdade que Deus quer ver acontecer no Brasil". Enfim, Malafaia traz o Everaldo e a Marina, mas, a manter-se a tendência das pesquisas e o "peso" do voto religioso em eleições majoritárias, serão apenas mais dois irmãos descendo a serra para dar as mãos ao Serra.

liberdade, beleza e Graça... 


terça-feira, 9 de setembro de 2014

"Porque voto na Dilma, do PT, e não na Luciana, do meu PSOL"

Justificar o voto em um partido que não é o principal em sua preferência é uma das mais difíceis tarefas a se executar. Por conta disso, é preciso trabalhar seriamente o arcabouço teórico-empírico de que se dispõe, bem como se ancorar em dados que ajudem a fugir do lugar comum oferecido pela opinião publicada dos grandes meios de comunicação, sempre ávidos por transformar suas ideias particulares em opinião pública.

O partido que mais fala ao meu coração e ideologia política é o PSOL, mas, apesar disso, não é o partido que recebe meus votos em se tratando de eleições majoritárias. A justificativa é simples: ao contrário do que pretende o arcabouço da teoria marxiana, o PSOL não consegue dialogar com as grandes massas, público do qual se pretende inveterado defensor, mas apenas com uma elite intelectual de esquerda, que, sejamos francos, não decide eleição alguma. Infelizmente, quase nada do discurso do meu partido consegue entrar na cabeça do eleitor médio, sobretudo o mais pobre, que é quem, ao fim e ao cabo, decide uma eleição.

Prova disso é que pesquisa recente do Instituto Datafolha mostra que apenas 4% da população brasileira se consideram de esquerda, ficando os que se consideram de direita com 11% e o grande grupo, aquele que de fato decide uma eleição, com 85% de eleitores, os quais se encontram num espectro que contempla as chamadas centro-direita e centro-esquerda, lugar de um discurso que, para o PSOL, já é "totalmente cooptado pelo grande capital". Assim, sem conseguir falar às massas, o PSOL tem, como fundamental papel, a oposição responsável que uma democracia em aperfeiçoamento precisa ter. Afinal, ter como oposição partidos como o DEM e o PSDB é como ouvir palavras contrárias da parte do próprio inventor do discurso agora confrontado.

Em termos empíricos, por outro lado, é importante focar a postura dos grandes bancos e da grande mídia em relação ao PT, o que, por si só, já justifica a situação de tal partido como progressista e mais atrelada às questões dos menos favorecidos, dado que é justamente contra isso que o capital financeiro e os mais fortes meios de comunicação se têm colocado. Para além disso, também é importante lançar luz sobre o alcance de políticas públicas que, embora ainda careçam de aperfeiçoamento na gestão, têm conseguido tirar um imenso contingente de brasileiros da pobreza extrema, com contrapartida na escolarização e manutenção em dia da vacinação das crianças brasileiras (Bolsa-Família), bem como conseguido dar resposta à carência em relação aos cuidados médicos mais básicos (Mais Médicos), ajudando ainda na realização do sonho da casa própria (Minha Casa Minha Vida) e fomentando a conquista do ensino superior, tão importante para a inserção no mercado de trabalho e na tão comentada e desejada cidadania plena (Prouni).

Considerando, então, que o PSOL não fala às massas e será sempre mais importante como detentor de cadeiras na Câmara e no Senado, apresentando-se como o mais relevante partido de oposição do país, e considerando também que a candidatura de Marina Silva representa (ainda que como abortivo, já que o plano de Eduardo Campos lhe foi "oferecido" como um "presente de grego") a vontade dos bancos, do agronegócio (contra tudo o que ela sempre pregou, enquanto ambientalista) e de uma visão extremamente conservadora da vida (temendo a retórica reacionária da ameaça dos Silas Malafaias da vida), estar ao lado dos menos favorecidos e dos que mais precisam de políticas públicas é sinônimo de referendar a candidatura de Dilma Rousseff, para quem meu voto vai se direcionar nos dois turnos que virão. E, se meus irmãos evangélicos me perguntarem sobre minha postura de ignorar as candidaturas do Pastor Everaldo e da irmã Marina, só terei uma resposta: não sou crente o suficiente para votar em "Deus".


liberdade, beleza e Graça...