Quem sou eu

Minha foto
Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

"Primeira viagem internacional: desvendando a Portugália"

Quando eu era menino, a escola só me chamava a atenção por uma coisa: o belíssimo e azul globo terrestre que ficava na sala de aulas. Olhando o tamanho do mundo em comparação ao tamanho de São José do Rio Preto, que nem aparecia no mapa, eu me indignava por crescer numa cidade paulista que "nem estava no mundo", e que me distanciava em demasia do resto do globo que nos engolia. A União Soviética ainda existia e eu, olhando aquele globo com configuração bem diferente da de hoje, dizia: "Será que eu vou morrer sem nunca sair daqui, e sem conhecer como o mundo é grande?". 

Primeira semana de dezembro de 2013 e estava eu dentro de um boeing, rumo à Espanha e Portugal. O menino, enfim, saía de seu país, que, embora seja robusto no mapa, escondeu por muito tempo São José do Rio Preto - o melhor lugar do mundo para se viver, segundo uma placa na entrada da cidade (e eu concordo com a placa) - do resto desse mundão de Deus. Sim, eu já tinha voado várias vezes dentro do país, mas ficar 9 horas sobre o Atlântico, na certeza absoluta de que se algo der errado não tem onde pousar, dá uma sensação nada agradável. Minha paz só voltou quando vi no vídeo, que me estava à frente, a imagem de Dakar, Marrakech e Casablanca (o que fez lembrar um dos meus filmes preferidos, mas que agora será o eterno trauma de meus amigos torcedores do Atlético Mineiro).

Meu espanhol deu pro gasto e consegui me virar bem nas respostas às muitas e chatas perguntas da imigração em Madrid. Camisa número 7 do Real a 349 euros, sem chance! Lembrancinha, Cleinton, aqui a gente só compra lembrancinha! Outra dica: não compre produtos estadunidenses aqui, pois no Brasil são até mais baratos. Última dica, e a mais preciosa de todas: não confunda Euro com Real, pois um, sendo 3 vezes e meia mais valioso do que o outro, pode te dar a falsa sensação de que "tudo está muito barato". Mas gaste para comer; coma bem e beba dos melhores vinhos que se pode experimentar. Sobretudo no Porto, onde um corriqueiro "vinho da casa" é simplesmente um vinho do Porto!

Não olhe como olha a maioria dos brasileiros, pois aqui algumas casas de fachada muito simples, chamadas de "tasquinhas", escondem maravilhosos restaurantes familiares; a mãe cozinha, o filho serve as mesas, o pai fica no caixa e a filha te recebe à porta. Salmão ao sumo de laranja em uma tasquinha é literalmente um "jantar europeu" no Fasano ou no La Maison! Portanto, jogue suas pré-noções e pré-conceitos fora e coma alegremente numa tasquinha (o "s" aqui é bem chiado, bem carioca; ou melhor, é bem português).

Melhor bairro de Lisboa? Sim, é a Baixa. Terra de Fernando Pessoa, personagem que é possível convidar para um café ainda hoje, pois fica lá, à mesa, esperando qualquer um que, caipira como eu, decida que quer uma foto com o grande e universal poeta. A bateria da máquina acabara de expirar e eu não tenho como provar que estive com Pessoa em pessoa! Bem, quem disse que quero provar alguma coisa? Uma amiga disse que eu agora "tinha de abrir um Face", pois tinha de postar as fotos, provando que fui à Europa. Meu Deus, eu fui pra mim e não pra outros! Não vou abrir Facebook e não vou provar nada!

Foram dez dias de muitas descobertas. Andar na Baixa é como andar na Lapa, centro do Rio. Só que lá não deixaram destruir e, mesmo sendo um bairro boêmio, o lixo não vai pro chão. Percebe-se na Baixa que a gente só entende bem a colonização quando vai ao colonizador. Outra preciosidade; entrar em contato com os três rios que cortam Portugal também traz História e histórias. O Tejo, o Minho e o Douro, este último separando o Porto de Gaia. Uma linda ponte liga as cidades que antigamente eram Porto e Gália. A ponte fez Portugália, que fez Portugal. Atravessei a ponte a pé e encontrei o restaurante mais interessante da viagem. Uma taberna. Uma sensação de século XVI; um vinho à Reforma.

A melhor parte da viagem, sem dúvida, foi quando o sol de 40 graus se apresentou fora da aeronave. De zero para quarenta graus, a diferença é imensa. Mas a atenção não deve ser chamada para algo tão simplório. A atenção deve estar nas lágrimas que correram ao perceber que embaixo era terra conhecida, o meu país. Na fila da entrada, uma surpresa: fila só para brasileiros. Apesar da desorganização que nos cabe, a fila quatro vezes menor nos colocava à frente dos sisudos europeus. Em Madrid eles passavam direto e eu ficava tendo de dar explicações, mas aqui eu passo direto. Eu sou daqui, eu sou Brasil.

liberdade, beleza e Graça...