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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

sábado, 16 de janeiro de 2016

"As cotas, na verdade, são dos brancos"

Em contato com meus novos alunos, descobri algo que muito interessa a um pesquisador de relações raciais no Brasil: os alunos e alunas negros e cotistas têm vergonha da cota utilizada para que conseguissem entrar no Instituto Federal do Espírito Santo, onde agora leciono. Quando perguntados sobre os cotistas da sala, um surdo silêncio toma conta do ambiente, ainda que, ao fim e ao cabo, todos saibam bem quem são esses que "entraram com uma vantagem".

A fim de combater a falsa ideia de que os brancos são prejudicados quando entram negros no sistema escolar público federal, anunciei em alto e bom som que, enquanto negro (pardo que sou), gostaria de ter entrado no IFES via cotas raciais, mas a cota no caso do meu concurso foi para deficientes físicos, sendo que nenhum candidato com deficiência se inscreveu para o certame.

Com todos os cotistas mais à vontade para se apresentarem, começamos a falar sobre em que medida existe uma vantagem ou desvantagem trazida pela política que muito tem chamado a atenção nos últimos anos. Ao falar da vantagem, descobrimos que as vagas não são dos negros por eles serem negros, independentemente da nota que tirarem no exame de admissão. Na verdade, os negros têm 20% de pontos à frente dos não-negros, o que impede que "um negro com qualquer nota entre", como creem alguns. 

Fazendo um exercício matemático sobre as desvantagens que o negro sofre numa estrutura racista, descobrimos que, em termos de acesso à educação - sobretudo superior -, à saúde, às maiores rendas e aos cargos de liderança, os negros ficam em uma desvantagem que em média gira na casa dos 40%, o que pode ser corroborado por várias pesquisas sobre as desigualdades raciais no Brasil, tendo destaque as obras de Rafael Guerreiro Osório sobre a desigualdade racial de renda.

Assim, se numa média os negros têm desvantagem de 40% em relação aos brancos, no que diz respeito a acessar os bens públicos da nação, ter 20% de vantagem em um concurso ou prova de ingresso em órgãos públicos os faria entrar ainda com 20% de desvantagem, o que se configuraria em uma facilidade maior aos brancos, em qualquer certame, ainda que as cotas para negros e negras estejam instituídas.

Portanto, antes de pensar que o negro que entra "tira a vaga que é do branco", é importante espalhar a ideia de que a vaga conquistada é do negro mesmo, uma vez que, levando a matemática e a estatística a ferro e a fogo, a estrutura racista do Brasil nos prova que, ao fim e ao cabo, as cotas raciais são um privilégio imenso dado aos nossos brancos!

liberdade, beleza e Graça...