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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

terça-feira, 22 de março de 2016

"O momento mais propício para o fascismo"

O Brasil está em polvorosa. O momento político e econômico é deveras complicado, o que traz à tona paixões que começaram a ganhar relevo após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, quando o ódio nosso de cada dia aflorou de forma assustadora, fazendo ruir amizades de anos, quiçá, décadas, além de trazer tristes frases como a que defendia a chegada de "um vírus mortal para matar as crianças e aquele povo do nordeste", onde a presidente, democraticamente eleita, teve seu maior percentual de votos.

Do final da eleição para cá, pouca coisa mudou, já que as grandes corporações de mídia, explicitamente antigovernistas, aliadas a partidos oposicionistas - sem qualquer ética política e também atolados em corrupção - e a uma polícia federal, que, após a autonomia conquistada nos últimos anos, entendeu-se como a guardiã-mor dos anseios dos insatisfeitos com o resultado do pleito de 2014, parecendo se importar bem menos com os crimes cometidos pelos líderes oposicionistas, conseguiram fazer com que os palanques não fossem desmontados e que a vontade da maior parte da população não fosse respeitada, como se vê agora, praticamente todos os dias, sobretudo nos noticiários de televisão.

Ao invés de vibrarem com um momento político onde se tem um governo que não impede que se investiguem os atos de corrupção que desde o "achamento" do Brasil se perpetuam por terras tupiniquins, alguns acham que "tudo está ruim, pois todos os dias vemos a corrupção aparecer na televisão". Não se pode entender algo assim, já que a vontade de muitos parece ser o desaparecimento das denúncias e das investigações.

A chamada Operação Lava Jato, de patrimônio social, acabou por se transformar em um grande movimento antidemocracia e direitos conquistados, já que, com posturas anticonstitucionais que fazem vibrar os estúdios das Organizações Globo, fez reverter conquistas sociais da ordem dos direitos dos cidadãos brasileiros, o que é algo gravíssimo, como entendem vários dos sérios juristas desse país, bem como de grande parte dos integrantes da Suprema Corte, o STF.

Com um caldo social tão engrossado, pois, e com uma polarização que não consegue estabelecer diálogo, mas que se fundamenta na vontade de calar o opositor, ainda que se tenha de ir "às vias de fato", vemos se fortalecer a cada novo dia o que os sociólogos cunharam como "ódio de classe", o que em pouco tempo nos legará, sem dúvidas, alguns cadáveres.

Discutir política está se tornando cada vez mais difícil, haja vista o fato de que, movidos por paixões e pouco afeitos a um debate que se fundamente em argumentos sólidos, já que baseados em dados confirmados e documentos reconhecidamente idôneos, muitos estão na esfera pública apenas com xingamentos, ódios e armas, o que não tem permitido uma construção dialógica da saída para a crise política, econômica e moral que assola a nação.

Por isso, a atenção com o momento é crucial, já que, inebriados por uma mídia que constrói o que Gustave Le Bon chamou, em sua obra Psicologia das Multidões, de efeito de multidão, onde a razão perde espaço e fornece bases para que se aja sem pensar nas consequências, cometendo-se até assassinatos, dos quais depois se arrependerá, vários estão já a defender o fim das conquistas sociais democraticamente trazidas ao povo, retrocedendo a um tempo em que se podia inferiorizar alguns grupos. Se os pobres e negros são os maiores representantes do eleitorado de Dilma Rousseff, o que impede que grupos fascistas, antes calados, mas agora empoderamos por um ódio fomentado em horário nobre, comecem a atuar naquilo que mais gostam: "eliminar gente que escolheu mal"? Reflitamos, pois.

liberdade, beleza e Graça...