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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

"A Mídia Ninja e o novo paradigma da informação"

Criada em 2011 pelos jornalistas Bruno Torturra e Pablo Capilé, ela já está sendo chamada de "uma importante alternativa à grande imprensa". Trata-se da agora já bem conhecida Mídia Ninja. Depois das manifestações que tomaram e ainda tomam as cidades brasileiras, o NINJA (Narrativas Independentes Jornalismo e Ação) passou de um grupo marginal a protagonista de um importantíssimo momento histórico do Brasil. 

Oriundos e ainda ligados a diversos movimentos sociais de esquerda, "os ninja", que é como são chamados, se dizem cansados de um processo malévolo de manipulação da informação, o que faz com que referendem a ideia do Do It Yourself (Faça Você Mesmo), tão caro a um mundo cada vez mais amante do empreendedorismo. Para justificar tal lógica, o grupo lança mão de uma base móvel da fazer inveja a qualquer feira de ciências (um carrinho de supermercado adaptado como central de informação) e de uma quantidade imensa de celulares, tablets, smartphones e câmeras digitais. Todo esse material é usado para gravar acontecimentos em fluxo de vídeo, o que descarta o processo de edição, tão criticado pela capacidade de enviesar quaisquer notícias, a depender da vontade do grupo que as veicula.

Por conta de sua lógica pulverizada de trabalho, tal como no Wikileaks, qualquer pessoa pode ser fonte de informação, desde que consiga manter a base em que se assenta tal movimento; autenticidade das imagens e ausência de tratamento com cortes e seleções. Assim, o que se vê no que é apresentado pelos integrantes de tal movimento é "o que realmente aconteceu, sem manipulação", como querem seus idealizadores. Deste modo, sobram informantes nas ruas, pois será sempre impossível para a grande mídia estar em todos os lugares ao mesmo tempo, coisa que acontece com a Mídia Ninja, visto que ela recebe informações e imagens de todos os pontos, pois "sempre tem um ninja lá".

É claro que um movimento com essa envergadura chamaria demais a atenção, sobretudo após a cobertura das manifestações de junho, mas a liderança do grupo, que inclusive já concedeu entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, não teve problemas para responder a uma questão levantada pelo senador Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB, sobre a natureza do financiamento de tal empreitada. Sem qualquer constrangimento, Torturra e Capilé informaram que - como movimento cultural que já tem uma década de existência - o grupo onde se aloca a Mídia Ninja recebe verbas de particulares, de eventos culturais por ele produzidos e de editais governamentais, que são - é importantíssimo lembrar - abertos a quem quer que queira culturalmente produzir.

A questão do senador peessedebista encontrou lugar, pois tal político tinha certeza de que se tratava de "um grupo financiado pelo PT". A resposta do grupo foi taxativa: "qualquer iniciativa popular estará sempre distante do PSDB, pois tal partido não corresponde aos anseios dos movimentos sociais populares". Assim, não ligado a partidos, mas atento aos pleitos de movimentos que se aproximam mais dos partidos de esquerda, o Coletivo Fora do Eixo, do qual a Mídia Ninja faz parte, não tem crise ao reconhecer que suas posturas incomodarão mais os partidos de direita, onde o PSDB e o DEM se encontram, do que os de esquerda, onde o PT e o PSOL se alocam.   

Sem a Mídia Ninja, dificilmente a cobertura das manifestações de junho teria o alcance que teve. Tanto é verdade isso que as manifestações que continuam são praticamente ignoradas pela grande mídia, sobretudo porque esta é execrada onde quer que tente "construir sua notícia". Numa atitude bastante "ninja", um aposentado paulistano flagrou o repórter da Rede Globo Cezar Menezes "montando" um depoimento reacionário em plena Avenida Paulista, coração da maior cidade do país. Gravando tal descarada montagem, o senhor conclamou o povo ao redor - e foi prontamente atendido - ao já bastante conhecido coro de "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!" (o vídeo está no Youtube, plataforma bastante usada pelos "ninja", assim como o Facebook e outras redes sociais).

Não se pretende neste espaço endeusar a Mídia Ninja, pois onde tem poder, a possibilidade de corrupção estará também presente. No entanto, será interessantíssimo acompanhar uma eleição presidencial onde, para além da visão da grande mídia de massas, teremos a "possibilidade ninja" de conhecer o mundo ao nosso redor pela "grande massa de mídias". Com isso, será bem mais fácil desmascarar as vítimas das bolinhas de papel.  

liberdade, beleza e Graça...