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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quinta-feira, 27 de junho de 2019

"E eis que o The Intercept Brasil salva o ano"

A revista Veja, conhecida no Brasil por se alocar à direita do espectro político, fez um mea culpa importantíssimo; ao reconhecer que tratou, em várias de suas capas e reportagens, o ex-juiz, e agora Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro como herói, a Veja se desculpa com seu público, ainda que a maioria de seus leitores continue a apoiar Moro, já que a revista semanal, em posse de material compartilhado pelo site The Intercept Brasil, chegou à conclusão de que o ex-juiz realmente foi antiético e agiu de forma parcial e política nos processos da Operação Lava Jato, em especial no caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Pode parecer pouca coisa, mas, assim como aconteceu com as Organizações Globo, quando admitiram - em rede nacional em seu telejornal mais importante - que erraram ao apoiar a ditadura militar no Brasil, assumir um erro é algo fundamental para que novos não sejam cometidos, embora não se possa garantir que o semanário de notícias não venha a cometer novos equívocos, dado que o viés ideológico da revista acaba sempre por enviesar um sem número de informações que nos chegam semanalmente. Ainda assim, é importante ter a Veja trabalhando jornalisticamente sobre o material vazado para o The Intercept, sobretudo por conta da importância, para o sistema democrático nacional, da união de veículos de mídia de vários vieses na elucidação de casos que muito interessam à opinião pública do país, intentando defender o chamado Estado Democrático de Direito. 

Tal como a Veja, o Jornal Folha de S. Paulo também firmou parceria com o The Intercept, assim como importantes colunistas, incluindo aí o anti-petista Reinaldo de Azevedo, que, por conta de sua postura em programa na Rádio Band News FM, tem até sido chamado de "petista", já que a falácia de generalização tem tomado as consciências bolsonaristas, visto que tais indivíduos chamam de petista todo aquele que discorde das posturas do governo federal, o que os fez chegar ao absurdo de chamar o Movimento Brasil Livre - MBL, que é assumidamente direitista, de "grupo petista", uma vez que tal movimento não aceitou participar de uma manifestação conservadora que pedia, entre outras coisas, a volta do regime militar e o fechamento do Congresso Nacional. 

Embora não se possa ainda mensurar a dimensão do trabalho jornalístico que agora une indivíduos de vários espectros políticos numa mesma empreitada, será importante ver como resistirá o nosso Estado Democrático de Direito, sobretudo com o contra-ataque do ministro Moro, que não parece disposto a deixar o cargo, ainda que não consiga provar que não falou e não fez o que falou e fez. De todo modo, já podemos alterar a ordem dos fatores, pois, se em uma de suas equivocadas capas a Veja afirmou que o então juiz Sergio Moro tinha "salvado o ano", é hora de reconhecermos que, mais do que o ano, talvez o The Intercept tenha nos salvado a democracia. 

liberdade, beleza e Graça...