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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

"Desconstruindo Fukuyama"

Francis Fukuyama é um ideólogo nipo-estadunidense que, no final do século XX, trouxe à tona uma ideia hegeliana de "fim da história". Tal tese defendia que quando a humanidade atingisse um perfeito equilíbrio, sem os antagonismos que sempre a caracterizaram, a história chegaria ao fim. Tal caminho seria alcançado com o pleno desenvolvimento do liberalismo e da igualdade jurídica e, já que a história era vista, em muitas teorias, como resultado dos antagonismos existentes entre as nações, o triunfo do capitalismo sobre o socialismo faria cessar a força de tal motor da história, que é como é chamado tal processo.
O ponto culminante para a ratificação da tese seria, segundo Fukuyama, a queda do muro de Berlim, em 1989, pois, segundo tal autor - e vários que o acompanharam na época -, a queda do muro simbolizava, também, a impossibilidade de uma alternativa ao capitalismo de mercado, coroando, com isso, a chamada democracia burguesa.
Mais de vinte anos se passaram e a queda do muro, ao invés de ter simbolizado o tal equilíbrio proposto pela tese hegeliana, lida também em Fukuyama, trouxe uma espécie de orfandade; uma sensação de que se está mesmo numa "jaula de ferro" e que não se pode mais escolher algo a se pensar ou fazer, já que não existe a possibilidade de escolha num sistema de caminho único. Ao contrário do equilíbrio prometido, poucas vezes na história da humanidade o mundo esteve tão desequilibrado e tão carente de uma alternativa que nos permita respirar.
Para confrontar apenas uma das teses do neoliberalismo, vivenciando e analisando a ideia de "estado mínimo", pudemos perceber que, na hora em que o mercado "confessou" sua ineficiência na resolução das crises que ele mesmo criou, o estado precisou ser "máximo", já que teve - e tem ainda - de se contorcer de todas as maneiras para conseguir salvar bancos, agências de crédito e grandes corporações capitalistas.
Embora muitos confundam socialismo com autoritarismo - tendo em vista os equívocos cometidos por alguns que se diziam "do social" -, este parece ser ainda um sistema de governo viável, sobretudo com o aperfeiçoamento do processo democrático, que, ao contrário do que apregoam alguns discursos reducionistas, é condição fundante de um governo realmente socialista.
Acontece, no entanto, que a questão agora parece ser mais de orgulho do que outra coisa, pois dificilmente alguma nação envolvida na "bolha" em que se tornou esse mundo monetarizado teria a coragem de admitir que o capitalismo se esgotou e que não se deu o perfeito equilíbrio apregoado por Hegel e Fukuyama, mas que, ao contrário, vivemos uma perda praticamente total de sentido e uma situação que beira à anomia.
Não sabemos aonde Grécia, Espanha, Itália, Portugal - e muitos outros que ainda virão - levarão a Europa, bem como não sabemos até quando se vai acreditar que os Estados Unidos têm condições de sair do atoleiro, pagando o que devem aos milhares de credores. Mas uma coisa é certa: se a única alternativa continuar sendo a "guerra ao terror", que todas as cabeças reflexivamente pensantes já sabem ser uma falácia de um império em ruínas, a história voltará a dar as caras, dizendo com todas as letras: "eu não posso ter fim".

liberdade, beleza e Graça...