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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

sábado, 24 de julho de 2021

"O grande golpe da direita agora é o tal semi-presidencialismo"

Quem acompanha o mundo político sabe como a situação de polarização transformou o Brasil em um campo de batalhas nunca dantes visto, e isso desde a eleição presidencial de 2014, na qual o candidato do PSDB, Aécio Neves, recusou-se a "desmontar o palanque", colocando em xeque a vitória da petista Dilma Rousseff, o que dividiu o país de forma muitíssimo intensa, chegando ao ponto de dividir famílias e separar amigos de longa data, o que só fez piorar com a chegada da extrema-direita bolsonarista ao poder, e isso já na eleição presidencial de 2018. 

É sabido que a direita brasileira não suportava mais ser governada por partidos de esquerda e as quatro derrotas consecutivas, duas para Lula e outras duas para Dilma, fizeram com que uma resposta tivesse de ser dada, o que gerou uma articulação inimaginável, unindo parte do judiciário, a grande mídia e o empresariado brasileiro, naquilo que, só para começo de conversa, conseguiu mandar para a prisão o candidato à vitória em 2018, Lula, que ulteriormente seria solto, justamente pelo fato de o Supremo Tribunal Federal ter percebido que ele próprio, o guardião da Constituição, teria burlado a Carta Magna, visto ter autorizado uma prisão antes de se confirmar o chamado trânsito em julgado, que é quando as quatro esferas da justiça são esgotadas e o réu de fato deve ser preso, o que não valeu para Lula, como todos sabemos. 

Acontece, todavia, que o tiro da direita saiu pela culatra e aquele que eles pensavam que seria controlado por um "freio de arrumação", Jair Bolsonaro, não se mostrou tão domável assim, o que assustou aqueles que achavam que ele poderia respeitar os limites constitucionais e o Estado Democrático de Direito, algo que Bolsonaro afronta a cada novo dia, fazendo surgir um sem número de "Madalenas arrependidas", ávidas pela chegada de 2022, quando tentarão consertar o erro cometido. 

O que não estava em pauta para a direita brasileira, porém, é que não se conseguiu construir (ainda) uma candidatura que agrade ao "mercado" e à burguesia brasileira, que agora se vê numa situação que ela não desejava viver, isto é, ter de correr para os braços de Lula, já que admite agora que ao menos estaria lidando com uma figura democrática, o que nem de longe Bolsonaro é.

Assim, e para que a burguesia brasileira conseguisse suportar mais uma eleição com derrota de seu projeto neoliberal de capitalismo financeiro (e a chamo com o termo clássico "burguesia", pois aprendi com o músico Emicida que não se fala "elite", pois isso significa os melhores, o que nossos ricos não são e nunca foram), seria preciso uma ideia para se livrar de Bolsonaro e de Lula ao mesmo tempo. A genial ideia, então, é colocar em pauta no Congresso Nacional o chamado "semi-presidencialismo", que é o sistema de governo onde o presidente representa, mas não governa de fato. Deste modo, a burguesia brasileira, que banca a campanha eleitoral de grande parte dos parlamentares, teria, para além do poder econômico, o poder político em suas mãos, já que quem mandaria seriam os deputados e senadores, (aqueles com campanhas financiadas pelo grande empresariado e pelos banqueiros), sendo o presidente apenas uma figura decorativa, como nos parlamentarismos e monarquias ao redor do mundo.

Portanto, não se pode mais duvidar que a classe burguesa do país queira agora estender ainda mais os seus tentáculos, chegando ao ponto de fundar de vez a plutocracia, o governo de quem tem mais dinheiro, no país onde a quem falta tudo falta, em um gesto a justificar o "mudar tudo para que não se mude nada", uma vez que na cultura ainda escravocrata de tal grupo de burgueses insiste-se que quem sempre mandou continuará a mandar, referendando o famigerado "sempre foi assim". 

liberdade, beleza e Graça...