Quem sou eu

Minha foto
Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

terça-feira, 24 de março de 2020

"O vírus que fez o que as esquerdas não conseguiram"

É fato que o sistema capitalista está em frangalhos. Todavia, é também fato que não se conseguiu, ainda, uma alternativa a este que é um modelo econômico deveras cruel, visto que vive da desigualdade social, uma vez que referenda a concentração de renda, que, aos poucos, vai se tornando ainda mais esdrúxula, já que substitui o capitalista investidor em chão de fábrica pelo simples especulador financeiro - produtor de nada - que simplesmente aposta na alta e na baixa das bolsas. Para além disso, o tal sistema preza por uma postura liberal, dado que defende uma intervenção praticamente nula do Estado na economia e na vida das pessoas, a tal ideia de "Estado mínimo".

Acontece, porém, que o chamado Estado mínimo acaba se configurando como uma falácia da parte dos liberais e neoliberais, visto que, em tempos de crise, o mercado, transmutado há tempos em entidade onipotente, não consegue se sustentar, ainda que em lugares extremamente privatistas como os Estados Unidos da América do Norte. Por conta disso, a postura socialista clássica, que preza pela ideia de dividir a riqueza e usar o Estado para segurar as pontas de pessoas e empresas em tempos sombrios, acaba sendo acatada por todos, com direito a um silêncio sepulcral da parte dos neoliberais privatistas, defensores da falácia do "Estado mínimo". 

Assim, caberia a um sistema alternativo se colocar e, como tentou fazer Salvador Allende no Chile, mostrar que é possível se falar em um Socialismo Democrático, mostrando que reduzir o Socialismo e o Comunismo ao stalinismo soviético é simplesmente uma maneira míope e maldosa de se ver os sistemas econômicos e políticos mundo afora. Por isso, embora posturas como a de distribuição de renda sejam criticadas pelos capitalistas neoliberais em tempos "normais", em tempos como o atual, com crise mundial por pandemia, tais posturas não são mais citadas como "coisas de comunistas", como certamente seriam taxadas, no caso do Brasil, se o governo atual fosse de esquerda. 

No entanto, é sabido que, por mais que defendam essas mesmas ideias há tempos, as esquerdas mundiais não conseguiram fazer o que um pequeno vírus agora consegue: parar todo o sistema, colocar praticamente todos os trabalhadores "em greve" e, assim, colocar o capitalismo de quatro e fazer com que este siga a cartilha socialista, e sem qualquer crítica ou reclamação, já que não tem mesmo nada novo a oferecer, além de não saber lidar com crises sistêmicas que, de tempos em tempos, derrubam bolsas e anseios especulativos, justamente pelo fato de estes não terem lastro para sustentar materialmente o dinheiro ilusório que encanta os mais eufóricos "investidores em bolsa".

Por outro lado, porém, o que também se pode perceber, em uma mais detida análise, é que o sistema capitalista não está sendo posto em xeque, apesar do momento e dos pesares. Sim, o que se percebe é que, apesar da "greve geral", do desemprego, da possível falência de muitas empresas e do derretimento do dinheiro ilusório das bolsas, não se falou, ainda, em uma alternativa ao modelo atual, o que mostra que também as esquerdas estão sem algo para além do keynesianismo de outrora, aquela política estadunidense de distribuição de renda básica e investimento do Estado para superar a crise gerada pela quebra da bolsa de Nova York em 1929.

Por tudo isso, o que se percebe é mais do mesmo, já que, em especial no Brasil, a tal distribuição de renda nem é de verdade uma distribuição, salvo a esmola para os "sem nada", visto que, em grande parte, pode ser vista como um simples empréstimo bancário a ser pago assim que a tormenta passar, o que vai fazer com que, apesar da "greve geral mundial" e das "posturas comunistas" adotadas por capitalistas perdidos agora, o sistema volte a ser o que sempre foi; os bancos receberão tudo com juros e correção, as bolsas voltarão a superar 100 mil pontos,  e "vendendo nada", os pobres voltarão a ser esquecidos (já que cesta básica momentânea toda a grande mídia e o grande capital incentivam, desde que a estrutura social permaneça a mesma após a pandemia) e ainda teremos de ouvir o presidente, alguns dos seus ministros e as hienas bolsonaristas defenderem que "o coronavírus e tudo o que ele trouxe foi culpa dos comunistas e do PT".

liberdade, beleza e Graça...