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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

"Porque foi fácil o bolsonarismo cooptar a igreja"

Eram vários os candidatos e muitas as visões de mundo. Poderíamos ter escolhido qualquer outro. Todavia, o anti-petismo lava-jatista construído e apregoado dia e noite pela grande mídia, voltada politicamente à direita, conseguiu fazer com que o ganhador da eleição fosse aquele que mais conseguiu mostrar ódio ao Partido dos Trabalhadores. Bolsonaro ganhou por conseguir expressar mais ódio do que qualquer outro e por tratar o adversário político como inimigo, digno de morte mesmo.  

Se formos analisar o plano de governo, veremos que não existe. Nunca existiu. Como não houve debate para que isso ficasse à mostra, uma vez que o então candidato sofreu um atentado que o tornou quase um mártir, a situação parecia mesmo, como querem os evangélicos bolsonaristas, "algo colocado por Deus e que o diabo estava tentando frear". A vitória veio, mas deu no que deu. O que vemos é só expressão de ódio e a vontade deliberada de não governar, mas apenas se vingar. Mas de quê? Por que? Não se pode falar que a vingança foi por ser considerado terrorista e ser expulso do exército, pois e atual presidente conseguiu a militarização dos ministérios de forma que nem em tempos de ditadura tinham conseguido fazer. Não houve, então, mágoa com o exército, pois os afagos às forças armadas mostram que a expulsão de outrora ficou mesmo no passado; está perdoada.

Para além da burguesia, muito bem representada pelo alto empresariado e pelos grandes conglomerados de mídia, além dos especuladores do capitalismo financeiro, estava colocada a igreja evangélica. Por mais difícil que seja entender o aval da igreja para um governo de intolerância e ódio, um caminho pode ser apontado para ajudar na análise das posturas que, se fossem analisadas à luz dos ensinos de Jesus Cristo, seriam de todo reprovadas. A visão vetero-testamentária do movimento neopentecostal oferece uma possibilidade de se entender tal ligação da igreja dita cristã com o ódio bolsonarista. 

Tempos atrás eu defendi uma tese de que o movimento evangélico brasileiro se divide em 3 grandes frentes, sendo cada uma delas focada em uma das pessoas da trindade. Embora todas acreditem que Deus é trino, os protestantes históricos (batistas, presbiterianos, congregacionais, luteranos etc.) focam sua regra de fé e prática em Jesus Cristo e seus ensinos do Novo Testamento. Os pentecostais (Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil, Metodistas etc.) teriam foco nos chamados dons espirituais, com atenção maior na pessoa do Espírito Santo. Já os neopentecostais, teriam foco no Deus-pai, este encontrado no Antigo Testamento bíblico.  

Quando se foca o Antigo Testamento, que é o foco da visão vetero-testamentária neopentecostal, não é raro encontrarmos passagens em que o povo de Deus comete as maiores atrocidades para a conquista da terra que afirmam ser dele. Assim, ver crentes lendo que barrigas de grávidas foram vazadas à espada para que o povo de Deus tivesse a terra que queria conquistar é algo muito natural e não se vê qualquer indignação com textos assim, lidos até por crianças e adolescentes, o que naturaliza a violência, pois a mesma pode ser feita "em nome de Deus".

Por tudo isso, então, não é mais de assustar ver os ditos cristãos defendendo e aplicando o ódio nas relações sociais que têm com seus próximos, pois o próximo que deve ser amado agora é só o próximo que pensa igual, o que abre espaço para discursos de ódio e posturas extremamente agressivas em um meio que sempre defendeu pregar o amor, sobretudo aos mais necessitados, como os encarcerados que deveriam ser visitados, segundo o discurso de Cristo, mas que, no discurso bolsonarista da igreja atual, "devem ser eliminados ou apodrecer na cadeia, pois é lá mesmo o seu lugar". As portas do inferno insistem em prevalecer.

liberdade, beleza e Graça...