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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quarta-feira, 24 de março de 2021

"Quando até o BBB nos ajuda a entender a questão racial"

Muitos dos meus colegas, intelectuais e fervorosos leitores de quase tudo, desprezam peremptoriamente programas televisivos como o chamado Big Brother Brasil. Embora eu também tenha algumas críticas a esse tipo de entretenimento, pois achei que o programa seria algo mais próximo do que eu tinha lido no livro "1984", de George Orwell, de onde a ideia do "grande irmão" foi tirada, passei a ler a respeito e a tentar ver se de fato o programa reflete a sociedade em que estamos inseridos.

Isso se deu por conta de alunos meus sempre trazerem assuntos relacionados ao programa, sobretudo sobre os usos e costumes, bem como ao chamado "politicamente correto", tão fundamental para os que se aventuram a participar de um programa assim. Deste modo, falar sobre sexualidade, classe, raça e outros temas acabou por trazer debates ricos para as matérias de Filosofia e Sociologia, as quais leciono na rede pública federal.

Para quem a temática racial brasileira é muitíssimo cara, o que é o meu caso, perceber uma situação vivida no programa que ajuda a explicar a razão de sermos racistas, ainda que não reconheçamos, é um dos elementos a positivar audiência a programas de entretenimento como o que aqui ganha destaque. A afirmação encontra sustentação em um exemplo ocorrido em uma concessão dada a um dos participantes. O indivíduo que atendesse a um telefonema na casa poderia oferecer uma pulseira branca a qualquer um que escolhesse.

Sem saber a razão de ser da pulseira, o participante a ofereceu à sua melhor amiga na casa, tendo como base simplesmente a cor da pulseira, em um gesto que foi seguido por outros a justificar a frase "não sei o que significa, mas, como é branca, prefiro dar pra você, que é minha prioridade aqui". Outro participante viu a cena de longe e concordou, com algo como: "é, se é branca, não pode ser algo ruim; só pode ser coisa boa".

É claro que muitos consideram isso uma forma de "forçar a barra", mas não deixa de ser curioso que não consigamos explicar a razão de sempre termos as cores claras como sinal de coisa boa e as cores escuras como sinal de coisa ruim, o que acaba por influenciar, ainda que por vezes inconscientemente, como vemos pessoas pretas e pessoas brancas em uma estrutura social. Ou algum leitor meu duvida que, se a pulseira fosse preta, o participante não pensaria em algo ruim, em um tipo de punição, como enfrentar um paredão, e a daria para uma pessoa que lhe fosse adversária na casa? Racismo, pois, também tem a ver com isso: algo a não se conseguir explicar, mas algo, sem dúvida, a se conseguir viver.

liberdade, beleza e Graça...