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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

"Democracia em vertigem"

A democracia brasileira sempre foi um processo com rupturas e, embora o último período tenha durado o suficiente para pensarmos que, enfim, teríamos um amadurecimento das instituições republicanas, a ponto de evitarmos retrocessos nas relações institucionais e sociais em nosso país, eis que dois afastamentos de presidentes nos colocaram novamente na situação em que se começa a perder a crença de que por essas terras a democracia possa ser um sonho possível.

Documentando tal tema, e ancorando-se na última ruptura institucional ocorrida, aquela com o impeachment de Dilma Rousseff, a cineasta mineira Petra Costa traz em seu trabalho Democracia em vertigem uma visão bastante elucidativa dos acontecimentos que levaram Dilma Rousseff à derrocada e o ex-militar Jair Bolsonaro ao posto máximo de poder na nação, ainda que praticamente todos duvidassem que tal fato aconteceria, já que, tal como ocorreu nos Estados Unidos, a crença de que "qualquer um vence um tresloucado Donald Trump" se repetiu aqui com a máxima "do louco do Bolsonaro qualquer um ganha no segundo turno". Só que não.

Dilma caiu, Bolsonaro assumiu e a democracia, senão a República, parece mesmo estar em vertigem. Parece mesmo que tal instituto se configura cada vez mais como um sonho impossível. Isso porque várias das instituições e acordos sociais que mantinham o país em uma situação em que se mostrava um mínimo de previsibilidade parecem se esfacelar aos poucos ou, o que é pior, se mostrar como cooptados pelo poder executivo, que, sem a menor parcimônia, se vê no direito de obstruir justiça e ocultar provas de crimes, como no caso Marielle Franco e Anderson Gomes, tendo como garantidor de tal crime o próprio ministro da justiça, Sérgio Moro, que parece menos interessado em fazer seu trabalho do que garantir uma vaga no STF ou na eleição de 2022, quando se apresentaria como continuador do desmonte do Estado começado por Michel Temer e levado à carga máxima com Bolsonaro.

Sim, o filme de Petra Costa é apaixonado e tem um lugar de fala muito específico, e é o da esquerda no espectro político. Todavia, foi importante vez o que o governo, com o uso da máquina e do dinheiro públicos, foi capaz de fazer para tentar impedir que o filme fosse longe na disputa inédita de uma mulher brasileira por uma estatueta do Oscar. Tudo o que foi feito para que o Brasil não ganhasse notoriedade por essa obra foi feito pelo governo, e com verba pública, mostrando mais uma vez que o bolsonarismo é inimigo da cultura, assim como o é da educação e dos direitos sociais mais básicos, o que faz com que nossa democracia esteja não só em vertigem, que é quando há um desequilíbrio naquilo que vemos, mas que seja cada vez mais algo que não passa de miragem; só sonho.

liberdade, beleza e Graça...