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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

"Do ódio ao PT e da nefasta precarização do trabalho"

Até poucos dias atrás, precarizar as relações de trabalho era algo criminoso e feito apenas na penumbra, à distância, visto que o patronato queria muito esconder situações que, segundo a Organização Internacional do Trabalho, são situações de trabalho análogas à escravidão. Agora, porém, a coisa mudou consideravelmente, a ponto de termos, após a aprovação da nova legislação trabalhista, uma situação institucionalizada de precarização do trabalho no Brasil.

Com o argumento falacioso de que, para se gerar emprego, e se "consertar o estrago que o PT fez no país", é preciso fazer mudanças estruturais nas leis que embasam a atividade laboral no Brasil, um governo com apenas 6% de aprovação popular altera radicalmente a situação de milhões de trabalhadores, sem que os mesmos consigam perceber em que atoleiro estão sendo metidos. 

O mais curioso é que não se vê um debate esclarecedor sobre a temática, o que faz com que os trabalhadores só tenham condições de perceber o que perderam quando forem reivindicar direitos não mais existentes. Ao chegarem aos tribunais do trabalho, não serão poucos os que dirão "mas eu não sabia que a reforma trabalhista era pra isso!". Mas, é claro, será tarde demais.

Lendo diversos artigos de jornais e blogs por dia, não deixo de olhar para os comentários, que, na maioria das vezes, me são mais interessantes do que as reportagens em si, uma vez que carregam a percepção popular sobre algumas medidas colocadas pelos donos do poder no Brasil. Ao fazê-lo essa semana, pude concordar com muita veemência com um anônimo comentarista. O indivíduo, sendo crítico e até irônico com o que está acontecendo com a classe média, dizia coisas como: "Por causa do meu ódio ao PT, eu aceito ver meus direitos trabalhistas jogados no lixo". "Por causa do meu ódio ao PT, eu aceito ter apenas 30 minutos de 'hora' de almoço". "Por causa do meu ódio ao PT, eu aceito arcar com os custos de um processo, caso eu venha a requerer direitos na Justiça do Trabalho, quando me sentir lesado pelo patrão". "Por causa do meu ódio ao PT, eu aceito não receber por horas em que eu estiver à disposição do patrão, no local de trabalho, mas não estiver exercendo efetivamente a atividade para a qual fui contratado, recebendo 'apenas pelas horas trabalhadas', e não mais por estar inteiramente disponível à vontade do patronato".

Nessa direção, o que se pode ver, todavia, é que uma análise detida das falas e argumentos sobre a situação do país nos permite perceber que o que existe é mais um ódio ao pobre do que ao próprio Partido dos Trabalhadores. Sim, chegou a hora de a classe média mostrar que não gostou nem um pouco de ver aquele que trabalha como seu porteiro ter acesso àquilo que antes era privilégio apenas dela, classe média. Numa clara luta de classes, conceito marxiano, nunca na história desse país foi tão nítido o enfrentamento entre os que têm e os que experimentaram - mas apenas por um pouquíssimo intervalo de tempo - o que é ter, já que apenas sabiam o que era ser; ser estatística, mero número, construtor de universidades, mas nunca entrar ou ver seu filho lá estudar, ser o que fabrica aviões, mas nunca neles poder viajar etc. 

Concordando com a ótima coluna de Paulo Metri, no blog "Viomundo", sou instado a referendar a ideia de que "muitas pessoas têm ódio ao PT pelos seus méritos, apesar de declararem que é pelos seus erros. O PT tirou mais de 30 milhões de pessoas da miséria e mais de 46 milhões saíram da pobreza e foram para a classe média. Trata-se de um enorme feito. Além disso, o PT facilitou a entrada dos filhos dos pobres nas universidades. Resumindo, nunca se viu, neste país, uma melhoria de condições sociais do nosso povo como essa proporcionada pelos governos petistas. Getúlio e Jango, que eram compromissados socialmente, não fizeram tanto, mesmo sendo guardadas as proporções". Sim, o que trouxe o ódio ao PT foi o acerto, foi o trazer o pobre para perto, e não o erro, não a corrupção, que todos os partidos têm, como vemos cotidianamente na mídia.

O que me parece, ao fim e ao cabo, é que o ódio ao PT, muito bem orquestrado e fomentado pela grande mídia do país, tem permitido que reformas como a trabalhista e a da previdência passem, sem que percebamos o que está sendo perdido, ainda que a OIT, aqui já citada, defenda categoricamente que o que acontece agora no país é uma flagrante ilegalidade contra o trabalhador brasileiro. Triste país, este em que, por causa do ódio ao PT, as pessoas começam a pensar, falar e agir como que odiando a si mesmas. 

liberdade, beleza e Graça...