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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

domingo, 8 de abril de 2018

"Tal como queria Romero Jucá, foi com Globo, STF e tudo"

Lula está preso. Ao contrário do que muitos pensavam, o político mais popular do país está atrás das grades e, a depender do andar da situação, sobretudo por conta do judiciário que o condena, pode ser impedido de disputar a próxima eleição, ainda que o próprio juiz que o condenou em primeira instância tenha confessado que não tem como provar que o ex-presidente tenha recebido benefícios, mas que "há indícios muito convincentes que corroboram tal tese". Assim, Lula está preso, mesmo sem provas cabais contra si, e isso dito pelo próprio juiz federal Sérgio Moro, num ato, no mínimo, inconstitucional. 

O mesmo Moro também confessou que não tem como provar que os desvios que acarretaram na suposta reserva de um triplex no Guarujá para Lula tenham ligação com a Petrobrás, o que é a confissão de que o caso não poderia estar nas mãos da Justiça Federal do Paraná, onde Moro despacha. Assim, Lula segue preso, sem provas, e sem que a justiça ao menos diga que tem algo para além de convicções e delações para incriminá-lo.

O mais curioso dessa história toda é que o nome da fase da Operação Lava Jato que intentava prender Lula chamava-se "Resta um". O incômodo com tal nome fez com que eu demorasse um bom tempo para aceitar que um poder tão importante numa democracia, como o judiciário, estivesse com tanta voracidade para prender alguém, ainda que não tivessem conseguido provas substantivas contra tal pessoa. O nome de tal operação fez relembrar da frase de Romero Jucá, líder do governo Temer, quando ainda estava arquitetando a derrubada da presidente Dilma Rousseff, frase essa gravada pelo antigo aliado Sérgio Machado, outrora diretor financeiro da Transpetro, uma empresa da Petrobrás.

Na gravação, como já é sabido, Romero Jucá fala da arquitetura de um plano para retirar Dilma Rousseff do poder, deixando-o nas mãos de Michel Temer, no intuito de que este conseguisse "estancar a sangria da Lava Jato", uma vez que tal operação estava prestes a incriminar toda a cúpula do PMDB, incluindo o próprio Jucá, Temer, Moreira Franco, Geddel Vieira Lima e outros. O plano, no entanto, não incluía apenas retirar Dilma do poder, como agora é possível perceber, uma vez que, segundo a própria fala de Jucá, para que o golpe fosse bem feito, teria de ser costurado bancando o impeachment de Dilma, colocando Temer no poder e selando "um grande acordo, incluindo STF, grande mídia e tudo". 

Só que a fala de Jucá mantinha Lula solto e pronto para concorrer ao Planalto em 2018, o que a grande mídia, sobretudo na voz das Organizações Globo, não aceitaria, o que inspirou lados mais conservadores do judiciário a fazer com que um processo que demorou 21 anos para condenar um político do PSDB, partido mais alinhado com a mídia de massa no país, sendo que, para condenar Lula em duas instâncias, tenham sido necessários poucos meses. 

Não sabemos se haverá tempo de o Superior Tribunal de Justiça ou o Supremo Tribunal Federal - sem contar o posicionamento do Tribunal Superior Eleitoral sobre a possível candidatura - dar a Lula a liberdade e o direito de responder positivamente à vontade da maioria da população brasileira, que vê nele o presidente de que o Brasil precisa, todavia, não se pode mais negar que a democracia não tem em nosso país a força que pensávamos que tinha, sobretudo após tantos anos de ditadura e sem liberdade. Afinal, basta que a cada novo período pseudo-democrático apareça um novo Eduardo Cunha e toda a democracia se torna pó. Outro Jucá não precisará aparecer mais, pois tipos com esse continuarão aqui, visto que estão desde a chegada de Cabral, que nem era o Sérgio. 

liberdade, beleza e Graça...