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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

"O impeachment só serve aos corruptos"

Uma das tarefas mais difíceis que enfrentamos hoje é convencer as pessoas de que estamos em um dos melhores momentos de nossa história. Isso porque parece claramente que vivemos o contrário. Se atentarmos para as razões que justificam a crença popular de que tudo está "como nunca antes na história desse país", perceberemos que há um raciocínio bastante lógico, mas não compreensível à maioria da população, dado que acostumamo-nos a não ver e a não saber das coisas que permeiam o mundo dos políticos, o mundo dos que detêm o poder na nação.

Por causa do acima exposto, não é raro encontrarmos pessoas que desejam ardentemente o fim da Operação Lava Jato, no intuito de que a corrupção "desapareça". Para essas pessoas, o melhor seria tirar Dilma do poder e "zerar tudo". No entanto, começar do zero seria dispensar o maior patrimônio brasileiro dos últimos tempos, pois a operação comandada pelo juiz Sérgio Moro está para o Brasil como a quimioterapia está para o câncer. 

Assim, raciocinemos hipoteticamente na direção da fala popular, sem crítica e sem dados que a corroborem: Dilma retirada, Temer assumindo, troca do ministro da justiça, promoção de Sérgio Moro a desembargador, ou coisa que o valha, e, enfim, fim das investigações, já que algo para além de retirar uma presidente democraticamente eleita não seria alvo para ninguém, uma vez que a estrutura social e política já estaria totalmente travestida de "almejada correção". 

É muitíssimo difícil convencer as pessoas de que Dilma precisa ficar e a Lava Jato continuar, já que o brasileiro médio não compreende que a corrupção aparecer é muito melhor do que continuarmos como se ela não existisse, falácia posta desde os tempos de Cabral. É preciso mostrar que uma polícia federal independente (que prende também petistas e aliados do governo) não é coisa que sempre aconteceu por essas terras. E é preciso convencer o povo de que falta pouco, bem pouco. Com a cúpula do PMDB presa, o que pode acontecer já em fevereiro, teremos enfim a oportunidade de passar, pelo menos em parte, o país a limpo.

A Lava Jato chegou ao Eduardo Cunha, o mais sórdido e ousado dos políticos, e já aponta para os milhões que o vice-presidente Michel Temer também teria recebido em propinas. Se acontecer agora o impedimento da presidente, com Temer assumindo, será que poderíamos contar com o prosseguimento das investigações que já chegaram ao vice e provavelmente levarão Cunha ao presídio em fevereiro? É claro que não; tudo iria para a "operação abafa", como sempre na história desse país. Assim, é preciso proteger a operação judicial em curso, pois dificilmente teremos uma nova oportunidade para passar o Brasil a limpo. 

Não existem razões constitucionais para um impeachment, uma vez que não há uso de dinheiro público para o enriquecimento pessoal da presidente, fato que ocorreu com Collor de Melo. Quem entende do rito sabe que o mesmo não se justifica juridicamente no caso de Dilma. Se pedalada fiscal tivesse de gerar impedimento, Fernando Henrique Cardoso, Lula e praticamente todos os governadores e prefeitos da nação teriam de ser retirados do poder, pois também alocaram/alocam recursos de uma área em outra, o que não configura-se em crime de responsabilidade, desde que não haja o enriquecimento pessoal de tais políticos. 

Assim, bater panelas, achando que democracia se faz com golpe, ainda que "branco", é simplesmente jogar fora as grandes conquistas que a nossa jovem democracia já alcançou, sendo que a liberdade para a atuação da Polícia Federal, incluindo a autonomia para colocar deputados e senadores da República na cadeia, inclusive os do próprio partido da presidente e outros de partidos aliados, é um ganho democrático que dificilmente teríamos com governos dados menos ao povo e mais ao empresariado e à lógica de mercado, tão envolvidos na operação que dá razão a esse texto. Por conta disso, então, parafraseio um dito de outrora, quando o governo de Lula também era alvo de tentativas de derrubada: deixem a mulher trabalhar!

liberdade, beleza e Graça...