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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

sábado, 25 de agosto de 2007

"Parapan ou pára Pan?"

Muito mais relevantes do que os Jogos Pan-americanos foram os Jogos Parapan-americanos. É óbvio que uma sentença como essa sempre terá o tradicional efeito do politicamente correto. Acontece que, ao contrário do que se possa pensar neste sentido, tal afirmativa não quer ser o discurso de um teólogo ou sociólogo “bonzinho”. Ao contrário, a máxima que abre esta reflexão tem outras justificativas.
Sobre o Pan e a sua catastrófica (des)organização e gestão, sobretudo no quesito finanças, outro texto – também neste espaço – foi já escrito. Porém, o Parapan deu motivos para uma nova análise da sociedade singular em que vivemos.
O Pan acabou e, logo no dia seguinte ao seu término, quatro ônibus foram queimados por um grupo de bandidos no Rio de Janeiro. Foi possível, portanto, sentir-se novamente “em casa”.
O sonho havia, de fato, acabado. Sonho em tese, claro, pois um amigo, fazendo uma “varredura” nos principais jornais das Américas, percebeu algo curioso; só notinhas de rodapé e nada além de poucas lembranças acerca de uma série de jogos que pareciam “estar movimentando o mundo inteiro”. Na verdade, as redes de tevê brasileiras nos fizeram crer que o mundo girava ao nosso redor. Mas o mundo nem sabia de nós. Ou sabia pouco. Bem pouco. Quase nada. Como quase sempre.
Os Jogos Parapan-americanos, de outro modo, conseguiram fazer por essa nação algo que o Pan ou os Jogos Olímpicos nunca conseguirão; mostrar mesmo quem somos nós.
Se ninguém de fora deu tanta importância para o primeiro grupo de jogos, que nos envolviam e nos faziam crer que éramos “o centro do universo”, o Parapan, por seu turno, mostrou uma nação completamente desinteressada. Os de dentro não estavam dando a mínima. Se se reclamou muito dos preços dos ingressos no Pan, não se poderia criticar o valor das entradas no segundo grupo de jogos. O Parapan era de graça, entrava quem quisesse. Mas quase ninguém quis. Ainda assim – e defendendo a tese dessa reflexão –, esses jogos contribuíram muito mais do que o próprio “Pan do Rio”.
O Parapan teve quebra de recordes, lições de vida, superações de toda sorte, e o primeiro lugar para o Brasil no quadro de medalhas. Já voltando ao Pan, é importante ressaltar que os índices técnicos de tais jogos não passariam – nas palavras do comentarista Milton Neves – de “uma oitava divisão dos Jogos Olímpicos”. Não se aproveita quase nada. Quase para ser gentil, claro.
Mas, verdade seja dita, o brasileiro se identificou em demasia com esses jogos e simplesmente ignorou o segundo grupo. Ninguém parece querer se identificar com um para-atleta. O que se viu no Pan foi a busca do “perfeito”. Corpos no maior e melhor estado de potência e beleza. É com isso que o brasileiro quer se parecer e se identificar.
Os Jogos Parapan-americanos, em contrapartida, mostraram um Brasil amputado, deficiente ou especial. Mas um Brasil que dá certo. Um Brasil vencedor; recordista.
Acontece que os patrocinadores simplesmente sumiram. Só o governo federal permaneceu no apoio. O público não quis ver e a cobertura das mais variadas mídias cedeu ao Parapan o que os jornais das Américas deram ao Pan; notas de rodapé. Ainda assim, esse é o Brasil que vence. O Brasil que reconhece suas limitações e se supera a cada nova dificuldade.
O Brasil do Pan é um país inchado. Um país inalcançável, idealizado, e longe demais da realidade do seu povo. Mas é também o país que o povo acha que é.
Sabido é, porém, que o verdadeiro Brasil – esse que vence – está amputado pelas mais variadas formas de corrupção em todas as esferas do poder. Está surdo para o clamor de uma massa de indigentes marginalizados e crianças prostituídas. E, para piorar, está cego e corcunda, pois não enxerga um palmo à frente do nariz e, quando enxerga, de tão torto só consegue ver o próprio umbigo. É preciso muito vigor para mudar esse triste estado de coisas, mas, ao que tudo indica, não haverá mudança alguma, pois o brasileiro “cansou”. Que tristeza.

liberdade, beleza e Graça...

4 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Graça e paz amado!

O pior de tudo isso é saber que o preconceito televiso atingiu o parapan, pois eu, se não me engano, não vi quase nenhuma reportaem sobre o evento. E olha que eles ganharam muito mais medalhas que os atletas ditos normais.
Rogerio Percel Aires
www.rogeriopaires.blogspot.com

Desertos da Razão disse...

Fala irmãozinho!
Achei muito pertinentes as observações e comparações que fizeste em relação aos dois espetáculos,o Pan e o Parapan.
Achei muito interessante e concordo contigo quando dizes que o Brasil se vê como o Pan mas não enxerga que no fundo somos muito mais afins dos nossos atletas do Parapan.
Grande abraço!
Luis Brito.

Desertos da Razão disse...

Fala irmãozinho!
Achei muito pertinentes as observações e comparações que fizeste em relação aos dois espetáculos,o Pan e o Parapan.
Achei muito interessante e concordo contigo quando dizes que o Brasil se vê como o Pan mas não enxerga que no fundo somos muito mais afins dos nossos atletas do Parapan.
Grande abraço!
Luis Brito