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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

“A neurociência e o novo modelo de manipulação”

A obra-prima do escritor inglês Aldous Huxley, o romance "Brave New World", (Admirável Mundo Novo), foi escrita durante quatro meses no ano de 1931. Os temas de tal obra remontam grande parte das preocupações ideológicas do autor, como a liberdade individual em detrimento do autoritarismo do Estado. Assim como outro inglês, George Orwell, com o seu também excelente “Nineteen Eighty-Four” (1984), o texto de Huxley nos veio à mente após o acesso a um pequeno jornal da academia de psicologia.
Percebe-se, dando razão ao pensamento do sociólogo francês Pierre Bourdieu, que, quando já se pensava que se era “dono de si” e responsável pelas próprias escolhas, eis que o “mundo admirável” de Orwell e Huxley bate às portas. Não existe essa autonomia individual que se pensava. Bourdieu, no precioso A profissão de sociólogo, já defendia tal tese.
É sabido que uma nova ciência se colocou a serviço da humanidade. A Neurociência, sem dúvida, veio mesmo para revolucionar. Muito com ela se irá aprender, assim como sempre aconteceu com as descobertas que mudaram o modus operandi das sociedades.
O motivo deste escrito, no entanto, não é construir uma apologia à nova possibilidade de conhecimento. Ao contrário, pretende-se aqui mostrar os perigos da descoberta que chega.
Segundo a pesquisadora Judy Illes, diretora do Núcleo Nacional de Neuroética, da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, a nova ciência abriu espaço para o chamado neuromarketing. O neuromarketing utiliza-se da Neurociência para estudar as respostas que os consumidores dão a certos estímulos do marketing e da propaganda.
O que mais nos chamou a atenção na pesquisa é que o neuromarketing mostrou que as imagens de produtos líderes de mercado, como o iPod, estimulam a mesma parte do cérebro que é ativada pelos símbolos religiosos! A pesquisa mostrou ainda que os alertas mostrados nos maços de cigarro nada mais fazem do que estimular o desejo, embora os fumantes afirmem o contrário. A autonomia, trazendo mais uma vez Bourdieu, não existe mesmo.
Assim, não seria mais o Estado Autoritário (preocupação de Huxley e Orwell), mas o Mercado Totalitário o que nos obrigaria a querer o que não queremos ou não precisamos.
Seria um desserviço escrevermos tal texto, no entanto, se não enfatizássemos que as mais afetadas nessa história de horror são as nossas crianças. As crianças e as pessoas presas aos mais variados vícios seriam as maiores vítimas do neuromarketing, como nem poderia deixar de ser. O grande problema é que as preocupações com o neuromarketing são apenas das empresas e conglomerados capitalistas, que não têm outro sonho, senão apelar para tudo o que faça com que se consuma mais e mais, mesmo que não se queira e nem se possa ou precise.
É esperar uma ética para o prosseguimento de tais pesquisas, ou apenas sentar, exaustos, lançando cinza e poeira sobre a cabeça, num mundo que de admirável tem quase nada.

liberdade, beleza e Graça...

2 comentários:

Juliana disse...

gostei da enfase as crianças. só é dificil pensar na sobrevivencia delas como pessoas de mente saudáveis quando estas forem adultas, visto q, hoje os próprios pais tentam suprir sua ausencia "presenteando" os filhos com objtos. "Pobres" filhos, "pobres pais, "pobre mundo". Estao nos "desumanizando".sacolas cheias, porem, coraçoes vazios...

Felipe Fanuel disse...

Interessante! Acabei de postar algo sobre ciência também. Você problematiza algo que merece nossa atenção sempre: a ética. Limites talvez seja outra palavra para dizer a mesma coisa.