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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

“Opinião pública, tiro certeiro e aplausos”

O debate acerca da existência ou não de uma opinião pública se faz bastante relevante a cada novo episódio traumático que nos chega. Não é raro lermos e ouvirmos que “a opinião pública está farta disso”; “a opinião pública não aceita mais aquilo”, e assim por diante.
Segundo o pensamento de Patrick Champagne, no entanto, o que se chama de opinião pública nada mais é do que uma opinião que foi tornada pública; uma opinião publicada. Algo que Champagne chamou – na sua excelente obra Formar opinião – de “opinião de uma elite social que frequenta as academias e os salões literários (...) uma máquina de guerra ideológica improvisada (...) uma ideologia profissional. É a opinião manifestada a respeito da política por grupos sociais restritos, cuja profissão é produzir opiniões, e que procuram entrar no jogo político, modificando-o e transfigurando suas opiniões de elites letradas em opinião universal, intemporal e anônima com valor na política”.
A partir dessa ideia de Champagne, intentamos pensar o episódio mais comentado em vários dos debates nos círculos acadêmicos brasileiros nos últimos dias: os aplausos para o policial militar que acertou na semana próxima passada um tiro na testa de um sequestrador, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro.
As perguntas que ficam são: O povo gosta mesmo de violência? A tortura contra os chamados bandidos é tolerada e até incentivada pela chamada opinião pública? Vale tudo na busca de segurança pública e individual? Segundo o apresentador de tevê Wagner Montes, sim. Nós, na contramão, acreditamos que não.
Pesquisas acerca das percepções da violência mostram que um mesmo grupo pode responder de forma radicalmente oposta a uma mesma questão. Especialistas em segurança pública mostraram que até a ideia favorável à pena de morte é rechaçada, a depender da forma como o réu é apresentado. Quando é apresentado como indivíduo com família; mãe, pai ou filhos pequenos, é tido como um “igual” e, portanto, “merece uma outra oportunidade”, que seria uma pena menos radical. Se for “só um número” e o foco estiver apenas na ação perpetrada por ele, tudo muda e até se radicaliza.
Outros fatores que devem ser levados em consideração são o “calor do momento” e o “efeito de multidão”, tão estudado por Gustave LeBon em Psicologia das multidões. Não é difícil entender que no calor do momento é fácil tomar uma atitude que não se tomaria após um breve tempo para reflexão. Contribuindo de maneira mais teorizada, com seu conceito de efeito de multidão, LeBon afirma que “os indivíduos em meio a uma multidão são capazes de ações deveras irracionais, que não cometeriam se estivessem sozinhos”.
Podemos ver, portanto, que a pressa na atitude de matar só fez contribuir mais para a aquisição social de novos órfãos e nova viúva. Entendemos que poderia chegar-se a uma negociação e evitar mais uma dissolução familiar, geradora de outras no futuro.
O que falta aos sensacionalistas de plantão é um pouco de sensibilidade e coragem para assumirem os riscos de se dizer que a solução não está na bala, mas no investimento em educação, associação e saúde para um sem número de “vítimas que fazem e farão vítimas”. Quem é tratado como bicho hoje, dificilmente tratará os seus iguais como gente amanhã. O mundo hobbesiano do todos contra todos, sendo um o lobo do outro, parece estar incentivado. Mas, e os aplausos? Não teria o povo gostado do grande espetáculo de horror tijucano? Não, o povo não gostou, definitivamente. Os aplausos não são os da opinião pública, são os da opinião tornada pública. O povo, na verdade, chora. Chora sem consolo. Chora de desesperança. Chora de desvontade de fazer algo. Chora de impotência. Ovelhas sem pastoreio.

liberdade, beleza e Graça...

8 comentários:

NELSON LELLIS - COPEIRO DO REI disse...

Querido Clei, sinto-me exaustivamente tocado pelo texto que ora li. Tenho visões outras, mais radicais, porém, sobre o fato, embora não discorde em nada do que registrou. Apenas um outro viés: Creio que a justiça humana, por vezes, é a mão de Deus sobre a iniquidade do homem. Basta lermos o sermão de Jonathan Edwards, "Pecador nas mãos de um Deus irado", para percebermos que o mundo, jaz no maligno, não tem escapatória melhor. O mundo só piorará. Você aponta como um dos problemas a questão da educação, mas a grande maioria dos problemas na sociedade carioca está na conta dos "mocinhos", "filhinhos do papai", "mau-ricinhos", com faculdade nas costas e carro do ano. O mais pertinente a pensar é o que registrou na última frase relembrando as palavras de Jesus no Evangelho de Mateus, cap.9: O povo anda como ovelhas sem pastor... A seara é grande e poucos são os trabalhadores.

NA GRAÇA
LELLIS

www.nelsonlellis.blogspot.com

Juliana disse...

como já te disse, qdo visito teu blog sempre saio refletindo sobre algo(e olha q pensar dói, hein!rsrsrss).se for levar td ao pé da letra, o povo pira.inclusive eu!mas mesmo diante de toda essa situaçao, o meu coraçao ainda consegue encontrar paz, pois temos "sal" na terra, temos "luz" para iluminar o nosso caminho.e enqto tivermos pessoas como você( sal), que nos ajuda a abrir os olhos no temor do Senhor, o mundo poderá ter esperança, apesar d já sabermos qual será o fim dele.mas como "bom soldado", devemos fazer a nossa part, nao é mesmo!?
bjsss
de sua amiga JujubAA
:)

Eduardo Calil Ohana disse...

todos os esforços para salvar vidas é dever do Estado. Seja a pessoa "mocinho"ou "bandido". No caso tijucano com a data vênia entendo que o policial agiu a fim de resguardar a vida de um refém que já passava mal, correndo risco de vida. Choramos que o fim deva ser tragico, masdevemos também zelar pela segurança social. Em todas as histórias cabem varios "se" "se", se a negociação, se a mulher tivesse morrido, se ambos estivessem morridos. Concordo que o povo não gosta de ver sangue, só gosta os sensacionalistas, mas reitero que o policial não tinha a faculdade de agir e sim o dever de agir.

Felipe Fanuel disse...

Difícil foi ver que o assaltante que levou um tiro na testa era um jovem com a nossa idade. É mais difícil aceitar que a nossa sociedade dê essa dura opção do crime para pessoas que estão na flor da juventude. Concordo. Trata-se de um rebanho perdido.

Felipe Fanuel disse...

Clei,

Programei para amanhã, às 16h, a re-postagem de seu texto no http://pavablog.blogspot.com

Acredito que essa boa reflexão merece ser compartilhada com um público mais amplo.

Um abraço.

Cleinton disse...

Ô, grande fanuel!
agradeço sua gentileza, cara.
eu não conhecia o tal pavablog, mas após seu recado dei uma olhadela lá. obrigado pela atenção dispensada ao texto.
abraço grande, amigo.

liberdade, beleza e Graça...

BRUNA disse...

Gostei muito do seu texto, e falando sobre a opinião pública que parece ser o foco inicial do do mesmo,penso que o homem tem uma tendência natural de sempre querer procurar um culpado pra sanar suas frustrações, e frequentemente também buscamos encontrar um herói...Diante do episódio referido no texto, não culpo totalmente os "formadores de opinião pública" pelos valores que a sociedade tem demonstrado frente a situações como essa...de certo modo vingativa. Acho que um exemplo claro de como pessoas são conduzidas por instintos de busca de culpados, foi a mobilização de toda uma nação por Hitler durante o nazismo...o que é um absurdo pra qualquer pessoa hoje em dia, era uma verdade pra eles...pensavem estar fazendo justiça...Não acho que a nação toda era má, mas acho que diante de uma situação de desespero coletivo precisavem culpar alguém pela situação e se deixaram guiar por um psicopata que conseguiu encontrar "culpados" para que o povo descarregasse toda sua frustração.
bom..não acho que estamos nesse ponto!rsrs E embora eu acredite que toda essa situação é sim resultado de péssimas condições de educação e de qualidade de vida, e principalmente de base familiar, acho que inconsientemente sempre estamos procurando culpados, e se vemos a punição desse "culpado", é como se descarregassemos muito da nossa própria culpa.
abraço =]

Anônimo disse...

Bom texto... Faça um texto sobre o que acha de Israel Belo ser o representante evangélico na Rede Globo de TV no programa SAGRADO.