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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

"Por que Régis Danese e Thalles Roberto?"

Eles são considerados dois fenômenos da música gospel dos últimos anos e, embora o mundo gospel seja repleto de nomes de maior envergadura, como é o caso da conhecidíssima Aline Barros, Régis Danese e Thalles Roberto ganharam a cena, mexendo nas estruturas antes inalteradas pela presença dos outros que os precederam. Mas isso não se deu apenas como sendo mais um simples "golpe de mídia", já que a mídia sempre prefere investir em rostos mais "privilegiados", coisa que, segundo o próprio Thalles, ele não tem.

O que então explicaria a força que Danese ganhou, cantando "entra na minha casa, entra na minha vida, mexe com minha estrutura, sara todas as feridas", chegando a tocar em praticamente todas as emissoras de rádio e a ser convidado a participar de dezenas de programas de tevê? E o que explicaria a ascensão de Thalles,  que, cantando "de braços abertos quero te receber, filho eu estava esperando você", chegou à condição de maior vendedor de dvd´s e cd´s no país, superando quaisquer outros artistas solo e bandas? 

Do ponto de vista sociológico, a explicação vem do fato de ambos os cantores preencherem de forma singular a uma específica demanda. Como é sabido, os dois falam diretamente a um segmento composto por dois tipos bem particulares e que estão em franca expansão no mundo evangélico: os afastados e os desigrejados. Os afastados abandonaram de vez o barco e os desigrejados, desiludidos com o sistema de poder no mundo evangélico, continuam mantendo a fé, embora sem se sentirem pertencentes e sem uma frequência regular a uma específica comunidade cristã, algo que foi recebido com louvor por vários segmentos da grande mídia, já que lhes pareceu uma "libertação da alienação religiosa evangélica", além de os desigrejados formarem um segmento com uma visão crítica que lhes catapultou à respeitável condição de formadores de opinião, possibilitando-lhes mais voz e vez. 

Mas é claro que, dados os números das vendagens, os dois cantores ultrapassaram as delimitadoras fronteiras da música gospel. Tanto que Danese foi gravado por vários outros cantores e Thalles chegou a ter o seu maior hit cantado pela muito conhecida Ivete Sangalo! Ainda assim, a força de tais cantores está dentro de um segmento bem específico e que ainda prefere comprar cd´s a fazer cópias que possam lhes gerar um "peso de pecado" na consciência. Por conta de tal fidelização, então, as gravadoras - praticamente quebradas com o advento da internet - fizeram de tudo para que os seus super-astros gospel chegassem aos ouvidos da população como um todo. Deste modo, abriram-lhes as portas para as emissoras que, até então, de interesse em música gospel tinham quase nada. Raul Gil que o diga.

É importante também lembrar que, apesar de parecerem ser apenas mais um golpe de mídia, Thalles e Régis preencheram uma lacuna nas mentes do povo como um todo - e não apenas os evangélicos - já que, mostrando que saído da caverna o indivíduo fica perdido, visto que a realidade se mostra de fato "real"; mais violenta, assustadora e cruel do que as sombras no fundo da caverna, as letras dos cantores propõem uma volta aos 'braços do Pai", apresentando a tese de que o indivíduo está fadado a não ser livre, já que precisará sempre do padre, do pastor ou do analista. Sem um deles, a pessoa não vive bem, uma vez que precisa de um senso moral socialmente corroborado para se sentir "certo" e no "lugar certo", que é "o centro da vontade de Deus".

Até quando se manterá tal sucesso do mundo da música gospel não sabemos. Todavia, em termos "morais", será interessante notar a mudança das categorias afastado e desigrejado para evangélico não-praticante. Quando isso acontecer, qualquer gravadora estará quebrada, pois, como afirmou Dostoiévski, tudo será permitido, já que "Deus" não mais existirá.

liberdade, beleza e Graça...


4 comentários:

Will disse...

Medo deste "evangélico não-praticante", mas será realmente possível? Sempre tento fazer uma referência do que vemos no Brasil com o que há nos EUA. Nos EUA o "evangélico não-praticante" é o padrão e o católico é sim o que vai sempre a Igreja, lê a Bíblia e etc. - me corrijam se eu estiver errado. Será que podemos ter no Brasil ambos? Misericórdia!!! :)

julio cesar disse...

Cleinton, o termo "desigrejados" é seu?

muito interessante esse seu conceito, tem como você escrever mais sobre isso?

Liana disse...

Para mim, esse "boom" gospel music ainda é assustador, quanto mais o termo "evangélico não-praticante". Não vejo grandes benefícios nesse sucesso e os que saem da caverna estão mesmo perdidos e cada vez mais exigentes. Onde vamos parar? Também não sei...

António Je. Batalha disse...

Estou a visitar alguns blogs, e tive o privilégio de encontrar o seu, vi na pagina inicial o que escreveu, e como gostei folheei mais algumas páginas e fiquei maravilhado pelo que vi e li.
Dou-lhe os parabéns, mas queria deixar um apelo continue assim dando sempre o melhor, boas mensagens, bons temas. Gosto de escrever, mas também gosto de ler bons temas, por isso é que parei aqui.
Meu nome é: António Batalha.
Sou um servo de Deus,e deixo aqui a minha bênção,que haja paz,amor na sua vida, muita saúde e felicidade.
PS. Se desejar seguir o meu humilde blog, Peregrino E Servo, fique á vontade, eu vou retribuir, se encontrar seu blog.