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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

"Tragédia em Santa Maria"

Toda grande tragédia tem um particular modo de se apresentar: primeiro vêm os números, depois vêm os rostos, depois vêm as histórias. Na madrugada de ontem, dia 27 de janeiro, mais uma delas, infelizmente, ocorreu; trouxe números (assustadores demais até), trouxe rostos (belos demais até), trouxe histórias (ávidas de vida demais até). Em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, uma boate superlotada recebia o show de uma banda regional. Segundo informações dos mais variados meios de comunicação, havia gente demais, material anti-incêndio de menos (na verdade, os extintores estavam vazios e não havia saída de emergência), artefatos inflamáveis para todos os lados, do teto ao chão, e havia, também, um miserável sinalizador; uma espécie de fogo de artifício incumbido de trazer "efeitos especiais" aos olhos dos presentes.

O "se" apareceu, como sempre, na tentativa de se buscar os culpados e de se evitar o que não pode mais ser evitado. "Se os seguranças não tivessem travado as portas, para que não se saísse sem pagar, as pessoas poderiam ter saído com vida"; "se a vigilância do poder público funcionasse em casas privadas, aquela boate nem estaria aberta, já que estava em situação demasiado irregular"; "se os fogos de artifício fossem proibidos em lugares fechados, isso não teria ocorrido aqui, assim como não teria ocorrido em várias partes do mundo, onde o mesmo tipo de tragédia já ocorreu". Com dor no coração, e também participando da indignação que a todos toma, é preciso ser forte para afirmar que, pelo menos para Santa Maria, o "se" não pode ajudar em mais nada, uma vez que mais de duzentos e trinta caixões desceram à cova hoje, subvertendo uma ordem que ninguém gosta de ver subvertida: os pais, com corações arrebentados e com interrogação surda no olhar, enterrando seus muitos e jovens filhos. 

Da indignação ao ódio; do sentimento de perda - que jamais conseguiremos compartilhar totalmente com as famílias enlutadas - à busca por um lampejo que possa trazer esperança, fica a tentativa de cavar, decepcionado, no vernáculo, algo que possa expressar o tamanho do rombo no peito, a quantidade de peso que se perde em líquido. Sem sucesso, só a poesia de um também jovem, também gaúcho, Fabrício Carpinejar, para tentar dar alento: "Morri em Santa Maria hoje/ Quem não morreu?/ Morri na Rua dos Andradas, 1925/ Numa ladeira encrespada de fumaça". Estamos em luto.

liberdade, beleza e Graça...

Ps: Queria que a postagem de número 100 deste blog fosse sobre algo feliz. Não deu.


4 comentários:

DESERTOS DA RAZÃO disse...

Triste Demais!
Tenho aprendido a ver as coisas de forma bem holística, diria até bem espiritualizadas e tenho certeza que mesmo de tragédias como esta, se estivermos atentos aos desígnios de Deus, podem nascer as flores mais belas!!

Unknown disse...

Grande perda.Quantos jovens,quanta coisa pra viver...quantas histórias interrompidas,quantas famílias desfalcadas.Só Deus em sua soberania e seu perfeito amor para confortar os que ficaram,enlutados...

Cleinton disse...

Sim, uma grande perda. Inúmeras histórias que se interrompem, muitas famílias que se esfacelam. Mas também acredito no nascimento das mais belas flores. Há que se ter esperança.

Liana disse...

:(