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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

"A Teoria Sociológica e o barulho das ruas"

Um mês após o início das manifestações que tomaram dezenas de cidades brasileiras, é chegada a hora de uma análise mais sóbria e portanto menos apaixonada acerca de tal fenômeno social. No calor dos fatos, pouco se podia afirmar com certeza, uma vez que nem a classe política, nem a imprensa e nem os intelectuais sabiam o que de fato estava se dando no Brasil. No entanto, após ouvir os vários órgãos e movimentos que se envolveram nos barulhos das ruas em junho, já é possível tecer ilações - e até certezas - sobre o que realmente significou e significa tudo isso.

Em primeiro lugar, é preciso derrubar o mito que entende que o Facebook é o responsável pelo movimento que sacudiu o país. Não tirando o mérito das redes sociais no quesito facilitação de encontros, é necessário perceber que uma confluência de fatores gerou o barulho do qual 20 centavos de aumento da passagem de ônibus em São Paulo foi apenas o pavio. Um mês depois do início do movimento, um usuário do "face" organizou uma greve geral para o dia 1 de julho, mas, ainda que tivesse mais de um milhão de confirmações, não levou ninguém às ruas, desmentindo a ilusória percepção dos amantes das plataformas virtuais. A grande imprensa continuava a mostrar enorme força; os sindicatos de trabalhadores, idem.

Numa análise detida sobre fatos que marcaram o primeiro semestre de 2013, o jornalista Mauro Malin elencou uma grande séria de acontecimentos absurdos que tinham tudo para gerar imenso ódio popular, mas que, por razões que ainda não podem ser totalmente explicadas (a mais provável é que faltava mesmo um "pavio", um estopim vindo de um movimento social organizado, protagonismo que coube ao Movimento Passe Livre), gerou a mais significativa mobilização popular desde o levante pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, em 1992.

Com o apoio da Sociologia de Jürgen Habermas, é possível situar três espaços para a atuação de atores políticos: Sistema Político, Sistemas de Ação (especializados em termos de função) e Mundo da Vida. Segundo a ótica habermasiana, as sociedades complexas possuem uma estrutura intermediária que liga o Sistema de Ação e o Mundo da Vida ao Sistema Político. Tal estrutura é denominada Esfera Pública. É com a organização da sociedade civil na Esfera Pública que se pode construir uma opinião pública que intenta pressionar os governos a atenderem os pleitos dos coletivos sociais. Para tanto, os pleitos são organizados, as bandeiras são levantadas, as lideranças são apresentadas para sentar-se à mesa com os governantes e a consequente pressão popular sobre os mandatários se inicia. Sem isso, pode até haver manifestação social, mas não haverá movimento social

A fluidez dos pleitos - movida pela ausência de bandeira e liderança comuns - fez com que o barulho de junho ficasse muito no nível da manifestação social. Recebidos pela presidenta, apenas os membros do Movimento Passe Livre, já que era o único movimento a ter nome, liderança e bandeira definida, que era a revogação do aumento da passagem paulistana, o que foi conseguido. Alguns dias depois, uma outra bandeira foi definida e a liderança organizada; então, a Proposta de Emenda Constitucional 37, que tiraria o poder de investigação do Ministério Público, abrindo ainda mais margem para a corrupção no país, foi votada e rejeitada pelos políticos, já que a pressão popular - então organizada em movimento - ainda se fazia sentir. Sem definição de liderança e bandeira, os outros pleitos das ruas foram se calando, o que impediu que o Mundo da Vida, bem representado pelo Facebook, chegasse à Esfera Pública e trouxesse uma mudança estrutural de que tanto o país necessita. 

Segundo o sociólogo espanhol Manuel Castells, referência no estudo das redes sociais, e para quem o Congresso brasileiro deveria ser dissolvido, já que não mais representa o povo, Dilma Rousseff foi a única líder que ouviu as vozes das ruas e dispôs-se a fazer algo que lhe pudesse ser resposta (o Occupy Wall Street está de mãos abanando até hoje!). Embora não precisasse propor um plebiscito ou referendo popular, visto que já há no Congresso Nacional uma série de PEC´s que, se aprovadas, trariam a tão sonhada reforma política, a presidenta se mostrou extremamente democrática e sensível ao mea-culpa que todo governante necessita fazer. 

Se tal reforma conseguir fazer com que empresas privadas não mais possam bancar campanhas políticas, se conseguir instaurar o voto distrital, com mais chances de o povo cobrar seus eleitos, além de conseguir também aprovar um marco regulatório das comunicações no Brasil, estaremos a caminho de uma mais do que justa revolução cultural, necessária há tempos em terras tupiniquins. Sem isso, continuaremos vítimas dos capitalistas, que cobram muito caro pelas campanhas que bancam, de corruptos governantes, de quem nunca veremos a cara pessoalmente, e da Rede Globo, com seu articulista Arnaldo Jabor, que é a caricatura da caricatura do que há de mais perverso num capitalismo imbecil e imbecilizador.

liberdade, beleza e Graça...

2 comentários:

Will disse...

Pô, gostei muito do texto. Acho que tudo já "esfriou" um pouco, mas acho que em breve deve acontecer de novo.

Unknown disse...

Como sempre, texto muito bom!
Outro dia escutei um reporter da Globo News falando o absurdo que o grande "lider" do movimento era o facebook!
Tb acho que a Dilma, tem tomado atitudes de uma chefe de estado e buscando dar as resposta ao povo!
E como disse o Will tb acho que tudo acontecerá de novo! (tomara!)